Clinton e Trump vencem primárias de Nova York
Resultados reforçam favoritismo da democrata e do republicano nas disputas pela indicação partidária
Parece cada vez mais claro que Hillary Clinton e Donald Trump irão se enfrentar na disputa pela Casa Branca em novembro. A pré-candidata democrata faz questão de ostentar sua bagagem política, ao passo que o republicano usa o contrário disso como trunfo. Enquanto ela parecia ser a candidata óbvia para o seu partido, ele surpreendeu a todos e está provocando uma espécie de implosão no Partido Republicano. Nova York lhes deu um forte empurrão nas eleições primárias desta terça-feira, as mais decisivas em várias décadas no Estado, e, embora não haja nada definido, os outros pré-candidatos ficam com uma margem muito tênue para ultrapassar os favoritos.
Os nova-iorquinos não decepcionaram Clinton. Duas vezes eleita senadora por este Estado, ganhadora das primárias locais contra Barack Obama há oito anos (apesar de derrotada por ele no conjunto das primárias democratas), ela obteve 59% dos votos nesta terça-feira, 20 pontos percentuais a mais do que o socialista Bernie Sanders, senador por Vermont. O resultado, com 58% dos votos apurados, superou em 10 pontos a estimativa das pesquisas.
Por isso, o hotel Sheraton da rua 53, em Manhattan, virou uma festa. Ao som de Empire State of Mind, de Alicia Keys, Clinton estava exultante ao subir ao palco. “Vocês demonstraram que não há nada como estar em casa. Nova-iorquinos, vocês sempre estiveram no meu coração.”
Seus seguidores já pensam nas eleições gerais, apesar de Sanders ter se revelado um osso muito mais duro de roer do que Clinton imaginava no princípio da disputa. “Ela vai ser uma grande presidenta, com certeza, e vai ganhar de Trump, não conheço ninguém da minha comunidade, nem gente latina nem negra, que pudesse votar num candidato como ele ou como Ted Cruz”, dizia Aidyn Urena, uma jovem afro-americana de 27 anos, moradora do Harlem, mas criada no Bronx.
Sanders não conseguiu alterar o roteiro previsto nas pesquisas e sofreu um golpe neste que é também o seu Estado natal. Ele vinha de sete vitórias nas últimas oito primárias, reduzindo bastante a distância que o separava da ex-primeira-dama. O senador por Vermont, que cresceu no Brooklyn, questiona Clinton por seus vínculos com Wall Street, com o establishment, mas em Nova York isso não bastou. “Acredito nas mudanças progressistas, em alguém que vai seguir o trabalho de Obama”, acrescentava Urena na festa do Sheraton.
Trump critica manobras na convenção
A poucas quadras dali, Trump se embebedava de vitória na torre que leva seu nome, na seleta Quinta Avenida. Algumas emissoras de TV anunciaram a vitória do magnata nova-iorquino no minuto seguinte ao fechamento das seções, tão contundentes eram as pesquisa de boca de urna. Ficou com 60,9% dos votos, segundo dados relativos a 58% da apuração, o que significa que leva praticamente todos os delegados em jogo, ao superar metade dos votos.
“Foi um sucesso tremendo, incrível”, disse Trump em seu discurso triunfal. "Já não há disputa válida, porque o senador Ted Cruz foi eliminado automaticamente. Temos milhões e milhões de votos a mais que John Kasich”, martelou.
Cruz, senador pelo Texas, Cruz, é o único que ameaçava Trump nas primárias, mas em Nova York ficou com 14% dos votos, após infelizes críticas aos “valores nova-iorquinos”, enquanto que o retardatário Kasich, governador de Ohio e único que oferece certa confiança ao Partido Republicano, não altera muito o cenário com os 24,6% que conseguiu na terça-feira.
"Já não há disputa válida, porque o senador Ted Cruz foi eliminado automaticamente", comemorou Donald Trump
A liderança cada vez mais clara de Trump deixa os republicanos nas mãos de um candidato linguarudo, meio empresário, meio showman, de discurso xenófobo, propenso a insultos machistas e que usa seu perfil antipolítico como sua principal virtude. O Grand Old Party precisará comungar com ele ou arriscar uma manobra perigosa, usando os superdelegados, indicados pela estrutura partidária, para impedir a indicação de Trump à presidência. “Vamos chegar à convenção como vencedores em número de delegados ganhos justamente, com votos. Ninguém deveria aceitar delegados que não foram obtidos por si próprios, como eu”, disse o magnata.
Trump se reforçou em seu território. Filho de um incorporador imobiliário, nasceu na zona acomodada do Queens, nos anos quarenta, fez negócios em Manhattan e encarnou a onda de yuppies que ganharam fortunas na Nova York dos oitenta e noventa.
Pensilvânia e Califórnia
A democrata, por sua vez, apostou em Nova York, um dos bastiões democratas, para lançar sua carreira política como senadora. Quando deixaram a Casa Branca, Bill e Hillary Clinton compraram uma casa numa próspera cidadezinha do norte do Estado, Chappaqua, onde votaram nesta terça-feira e que pode se transformar no lar da primeira mulher a governar os Estados Unidos. O eleitorado feminino (apesar das resistências das mais jovens), latino e negro está fortemente a favor dela.
Andrew Young destacava o possível marco feminino assim que era perguntado sobre os motivos que o levaram a votar em Clinton. “Há muitas coisas, mas acredito que neste momento o mais importante é levar a primeira mulher à Casa Branca, já chegou a hora”, dizia o publicitário de 30 anos. Porque é mulher? “Bom, esse é um bom motivo, mas a verdade é que ela é incrivelmente inteligente e uma grande política. Imagine em um debate com Trump? Vai destruí-lo.”
Cada vez mais gente supõe que esse debate vai mesmo ocorrer, embora ainda faltem cerca de 20 Estados no ciclo das primárias e caucus – e sobretudo dois grandes, nos quais será preciso cravar um bom resultado: Pensilvânia e Califórnia. Clinton já se preparou para disparar suas farpas contra Cruz e Trump, rivais aos quais acusou de terem uma visão “perigosa e muito distorcida” a respeito dos EUA.
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