Roubar essa caneta do trabalho também é corrupção?
Um texto que levanta essa questão foi compartilhado milhares de vezes no Brasil
A corrupção política é um problema que preocupa cidadãos de distintos países do mundo. No Brasil, é um dos temas que anda gerando protestos multitudinários. Na Espanha, é considerado o segundo maior problema nacional – perde apenas para o desemprego.
Quando surgem casos de corrupção, os cidadãos não hesitam ao dirigir suas críticas aos capitalistas. Mas, os únicos corruptos são aqueles que ostentam algum cargo de poder ou somos todos nós, de algum modo? É uma forma de atuar isolada ou socialmente aceita? Um texto que se popularizou em fóruns, blogs, e redes sociais nas duas últimas semanas faz uma reflexão sobre essas questões. Curiosamente, a publicação ultrapassou fronteiras quando os usuários foram fazendo adaptações às realidades de seus países: Brasil, Guatemala, Chile, México e Espanha.
A versão do espanhol Martín Solana, por exemplo, foi compartilhada mais de 8.300 vezes nos últimos cinco dias.
Quando você tem a oportunidade de roubar 0,30 € (trinta centavos de euro) tirando fotocópias pessoais na máquina do trabalho, você não perde a oportunidade.
Quando tem a oportunidade de roubar 1 € , levando para casa o lápis do trabalho ou de um colega, você não perde a oportunidade.
Quando tem oportunidade de roubar 5 € quando a caixa te dá um troco mais alto, você não perde a oportunidade.
Quando tem a oportunidade de roubar 15 € de um artista comprando um DVD pirata, você não perde a oportunidade.
Quando tem a oportunidade de roubar 100 € da Microsoft baixando um Windows pirata em um site ilegal, você não perde a oportunidade.
Quando tem a chance de roubar 1.000 € escondendo um defeito no seu carro na hora de vendê-lo, enganando o comprador, você não perde a oportunidade.
E você não perde nenhuma oportunidade: devolve a carteira, mas fica com o dinheiro, sonega impostos, efetua pagamentos sem fatura, etc, etc, etc...
Bom, se você trabalhasse no governo, e tivesse a oportunidade de roubar 1.000.000 €, com certeza, como você não perde a chance, se aproveitaria dessa situação. Tudo é uma questão de ter acesso e oportunidade.
Nosso problema não são apenas os políticos no poder, porque eles são o reflexo de nossa sociedade de mais de 40 milhões de oportunistas educados na permissividade e, inclusive, na justificação do roubo. Os políticos de hoje, foram os oportunistas de ontem.
Vai ser difícil mudar isso, mas começa em cada um de nós, ao não fazê-lo e ao recriminar quem nos conta que tem esse tipo de atitudes
A foto é de uma caneta BIC roubada. Foi a oportunidade de alguém.
Acontece aqui, acontece em qualquer país...
Embora o autor original seja desconhecido, os brasileiros foram os primeiros a recuperar esse texto, que começou a ganhar visibilidade nas redes sociais em meados de março. A publicação de Danilo Souza, em seu perfil no Facebook, acompanhada da foto de uma caneta BIC para chamar a atenção para esses pequenos furtos cotidianos, foi uma das mais bem-sucedidas, com mais de 115.000 compartilhamentos e adaptações a outros países. Muitos comentavam que tinham traduzido o post do brasileiro Danilo Souza ou pegado emprestado o texto de um amigo, ao contribuir com sua difusão.
E foi, exatamente, através de um amigo brasileiro, que o espanhol Martín Solana descobriu o texto que, logo, adaptou ao espanhol. "Eu viajo muito por causa da minha paixão por motos e fotografia", explicou à Verne em uma conversa Telefónica, "e graças a essas viagens tenho amigos em diferentes países. Eu vi o texto no perfil de um amigo que vive no Brasil e me animei a traduzi-lo e a compartilhá-lo. Por quê? Porque todos conhecemos alguém que se queixa da corrupção, mas está ganhando o subsídio para desempregados pago pelo governo enquanto trabalha de maneira informal, ou alguém que não declara tudo o que recebe, que baixa filmes ilegalmente... Esse tipo de coisas".
Solana conta que não está acostumado a utilizar seu Facebook para compartilhar notícias sobre política. Ele é muito ativo nas redes sociais, mas o conteúdo que sobe tem mais a ver com seus hobbies. "Eu achei que essa publicação podia ser de interesse geral. É um assunto sobre o qual eu estou acostumado a debater muito com quem critica tanto a corrupção, a necessidade de que cada um olhe para o está fazendo", justificou Solana.
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