Taxistas do Rio trazem o caos à cidade em protesto contra o Uber
Carreata complica ainda mais o trânsito e bloqueia estradas de acesso aos aeroportos
Os taxistas do Rio de Janeiro pararam nesta sexta-feira e trouxeram o caos às estradas em protesto contra os motoristas do aplicativo de transporte Uber. Às habituais imagens de trânsito complicado na cidade, somaram-se filas de passageiros desembarcando dos ônibus, taxistas com medo de ser hostilizados por não se unirem à paralisação, turistas chegando aos aeroportos a pé carregados de malas e enormes filas de veículos amarelos bloqueando as ruas. Áudios que teriam sido gravados e divulgados por taxistas ameaçavam acabar com a época de “paz e amor”, agredir os motoristas do Uber e provocar o caos. O aplicativo respondeu, como em outras ocasiões, oferecendo desconto de 20 reais aos seus clientes.
Os taxistas, que exigem que a Prefeitura pressione na Justiça a proibição da circulação dos motoristas do Uber, começaram o protesto na madrugada desta sexta-feira em vários pontos da cidade, alguns tão transitados como Copacabana e a Barra de Tijuca. Atravessar os 14 quilômetros de extensão da ponte que une Niterói, na região metropolitana do Rio, ao centro da cidade levava cerca de uma hora e meia nesta manhã. Por conta do nó no trânsito, a cidade chegou a decretar estágio de atenção, um estado prévio ao de crise, reservado normalmente para situações de caos provocadas por chuvas torrenciais. “Não é um trabalho legalizado, eles não pagam impostos e a Prefeitura tem que dar uma solução”, explicava o taxista João Cordeiro, cujo anterior passageiro acabava de perder um voo por causa do engarrafamento.
A Prefeitura é favorável à reivindicação dos taxistas, um coletivo de cerca de 54.000 motoristas que reclama da perda de clientes em favor dos motoristas "clandestinos". O prefeito Eduardo Paes chegou, em outubro, a sancionar uma lei para impedir a circulação do Uber, mas uma liminar da Justiça a derrubou. A decisão proibiu as autoridades de aplicar multas aos motoristas e considerou inconstitucional a decisão do prefeito de impedi-los de prestar serviço. Desde então, a Prefeitura recorre da decisão nos tribunais sem sucesso.
Uber em outras cidades
São Paulo
Brasília
Porto Alegre
Goiânia
Belo Horizonte
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), decidiu regulamentar os aplicativos que oferecem o transporte de passageiros, como o Uber. Para operar, no entanto, esses serviços terão que pagar uma taxa ao município pelo "uso intensivo do viário". O valor, diz a Prefeitura, será revertido para a própria manutenção das ruas e avenidas da cidade.
No Distrito Federal, o governador Rodrigo Rollemberg defende a regulamentação dos serviços do aplicativo e está tramitando um Projeto de Lei para, também, estabelecer alguns limites que incluem a proibição dos motoristas do aplicativo de usar os pontos de táxi e a parada em vias para embarque de passageiro que não tenha pedido o serviço por meio do celular.
Em Porto Alegre, a vereadora Fernanda Melchionna, junto com o vereador Professor Alex Fraga e o vereador Alberto Kopittke protocolaram em dezembro um projeto de lei que estabelece um marco legal para a operação de empresas de tecnologia como a Uber na cidade.
Em Goiânia, no final de fevereiro deste ano, a Prefeitura abriu uma consulta pública para que a população possa dar ideias e pareceres para a regulamentação do serviço.
Em Belo Horizonte, uma liminar proibiu que as autoridades multem ou obstaculizem o uso de aplicativos baseados em dispositivos de tecnologia móvel como o Uber.
O caos organizado, no entanto, foi considerado exagerado pela Prefeitura, que aceitou o diálogo com a condição de que os taxistas encerrassem a paralisação. “Há um pouco de excesso dos taxistas na medida que foram fechadas vias importantes da cidade, impedindo os acessos aos aeroportos, à rodoviária, e causando prejuízos ao trânsito da cidade”, disse o secretário municipal de transportes, Rafael Picciani. A revolta dos usuários, independentemente do apoio à causa dos taxistas, foi visível nas redes sociais já desde a quarta-feira, quando, pelo menos, uma centena de taxistas antecipou o protesto desta sexta buzinando do aeroporto Santos Dumont ao Jardim Botânico às 1h30 da madrugada. “Mais uma vez esse bando de táxis saem às ruas de madrugada, buzinando furiosamente, acordando-nos e nos deixando furiosos. Com essas carretas o que dá vontade é, daqui pra frente, boicotar os amarelos e só usar o Uber”, clamava de madrugada no Facebook uma moradora de um bairro da zona sul, acordada pelo barulho.
O aplicativo, que conta com 10.000 motoristas no Brasil (a empresa não informa do número por cidades), vem ganhando espaço nas ruas cariocas e virou comum ver carros pretos levando passageiros ao médico e ao bar: os trajetos curtos saem por seis ou sete reais, pouco mais que a tarifa do ônibus de 3,80 reais. No Rio, uma viagem com a tarifa normal de Uber custa praticamente a metade do que uma viagem de táxi, e seus motoristas oferecem água, balinhas e regulam o rádio e o ar acondicionado à vontade do cliente. Do outro lado, não são raros os abusos dos taxistas que cobram preços absurdos – e ilegais– a quem os solicita na rodoviária ou na saída de grandes eventos, como shows, desfiles de carnaval no Sambódromo ou jogos de futebol. Fora a batalha do Uber, os taxistas cariocas tem um inimigo igual de ameaçador: a má fama que os persegue.
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