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As novas fronteiras do Estado Islâmico

Palmira simboliza a perda de terreno e de homens, enquanto os atentados reforçam sua reputação

Soldados iraquianos exibem uma bandeira do Estado islâmico na província de Anbar.
Soldados iraquianos exibem uma bandeira do Estado islâmico na província de Anbar.AP
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A derrota dos homens de Abubaker al Bagdadi no dia 27 de março em Palmira (Síria) levanta uma clara pergunta: O Estado Islâmico (EI) perdeu território? Considerando os fatos, a resposta é afirmativa. "O EI está em retirada há um ano", afirma, em uma troca de e-mails o especialista norte-americano e perito na guerra síria Joshua Landis. "(O EI) sofreu uma grande deterioração por causa dos bombardeios da coalizão e dos ataques dos iraquianos, sírios e curdos". Segundo dados de Washington, de agosto de 2014 a fevereiro de 2016, o califado autoproclamado deixou entre 25% e 30% do terreno que estava sob seu controle na Síria e no Iraque. A essa porcentagem é preciso acrescentar a perda da cidade de Palmira, da qual fugiram. A questão, portanto, vai além do retrocesso forçado, ou tático, dos jihadistas na região entre os rios Tigre e Eufrates: eles estão perdendo a guerra? Pelo menos, não estão ganhando.

É difícil se lembrar da última vitória significativa dos jihadistas em sua estratégia de expansão do califado em território sírio. Landis conta que isso ocorreu em 2015, quando tomaram uma localidade cristã da província de Homs chamada Maheen entre o final do mês de outubro e o começo de novembro. Dois meses antes, o EI já havia conquistado Al Qaryatayn, que fica a 20 quilômetros de Maheen e no caminho da fronteira libanesa para Palmira, que pertencia ao grupo desde maio de 2015.

O domínio, precisamente, da cidade de Palmira, além de seu valor estratégico-militar – inferior ao de territórios como Kobane, na fronteira com a Turquia –, em uma espécie de triângulo formado com Raqa ao norte e Deir al Zor ao leste, dava ao EI um capital simbólico fundamental para sua propaganda: o grupo tinha conquistado para seu califado não só uma localidade síria, mas um território que é patrimônio da humanidade, um pedaço de terra de todos. Agora, eles perderam o símbolo e o território pelas mãos do Exército regular sírio e de tropas iranianas, libanesas e de afegãos xiitas, e, principalmente, devido à pressão exercida pelos ataques aéreos russos.

Depois de recuperar Palmira, o regime de Bashar al Assad informou que empreenderá, partindo dessa cidade, uma ofensiva em direção a Raqa, o coração do EI na Síria. No entanto, o analista e professor belga Thomas Pierret se mostrou cético em relação a essas intenções do mandatário sírio durante uma entrevista por telefone: “A falta de efetivos (do Exército regular sírio) continua sendo um problema de fundo. Demoraram cinco meses para reassumir o controle de Palmira que, no fim das contas, é uma cidade pequena, com menos de 100.000 habitantes, e em pleno deserto. Imagine o que seria necessário para reconquistar o vale do Eufrates, infestado de povoados onde será preciso lutar”.

Embora custe tempo, a trégua na Síria assinada pelos Estados Unidos e pela Rússia, e ainda em vigor, demonstra o desejo de realizar um esforço para limpar o terreno e encarar o EI de frente. Segundo o perito sírio Hassan Hassan, os EUA tentam isolar o EI e a Al Qaeda – nenhuma das duas organizações jihadistas formam parte do cessar fogo – para combater melhor esses grupos. A trégua atende também aos interesses de Damasco, que, com várias frentes de rebeldes silenciadas, pode concentrar seus efetivos contra o EI. Palmira é um bom exemplo.

O EI não está ganhando na Síria, mas a perda de território é relativa. Desses 25% a 30% de terrenos deixados, segundo dados de Washington, 40% ficam no Iraque (entre 21.000 e 24.000 km²) - onde os EUA concentram seus bombardeios – e apenas 11% na Síria (entre 4.700 e 5.000 km²). Desde junho de 2014, mês em que Al Bagdadi proclamou o califado em Mossul (Iraque), as batalhas perdidas pelo grupo jihadista no Iraque são significativas em número e valor: Tikrit, Baiji, Sinjar, Ramadi... O Exército iraquiano, com o apoio da força aérea norte-americana, lançou, em 12 de março, uma ofensiva contra o EI para retomar Hit, que fica a 54 quilômetros ao oeste de Ramadi. E o avanço é notável. Se Hit cair, o grupo jihadista será forçado a fugir em direção à fronteira síria – do outro lado está Deir al Zor, outro local controlado por eles –, e perderia um território fundamental no interior iraquiano, mantendo Faluja como a única base próxima a Bagdá (a uma distância de 70 quilômetros).

Se Raqa é o prato principal da guerra contra o EI na Síria, Mossul representa o mesmo no Iraque. Os aviões da coalizão liderada pelos EUA estão abrindo caminho para as tropas iraquianas na província de Nínive, da qual Mossul é a capital, para a operação final de retomada, que deve demorar, segundo as previsões de Washington e Bagdá, mais de um ano.

Esse território foi, para o EI, um dos pilares fundamentais de sua maquinaria de recrutamento, principalmente no exterior. Mas, a guerra liderada em duas frentes, pelos EUA e pela Rússia, diminuiu suas forças. Segundo um relatório de inteligência divulgado pela Casa Branca em fevereiro, o grupo jihadista teria perdido, entre deserções e mortes, 20% de seus homens. De 31.000 combatentes teria passado a contar com 25.000. Entre os que foram abatidos se destacam, por sua importância, o número dois da organização, Abdel al Qadouli , e seu ministro de guerra, Abu Omar al Shishani. Os dois foram mortos por bombardeios de aviões norte-americanos.

O perito no EI Aymenn Jawad al Tamimi acredita que o grupo chegou ao seu nível máximo em força militar, enquanto o professor John Horgan, da Universidade da Georgia (EUA), estudioso do aspecto psicológico do terrorismo, defende que atingiram o ápice em questão de recrutamento.

"Os ataques recentes na Europa reforçam sua reputação como um movimento que se adapta e que é capaz de causar pânico e terror", afirmou Horgan por e-mail. Para o professor, o retrocesso sofrido pelo EI no fluxo de combatentes corresponde não só à perda de terreno, mas também às dificuldades legais e policiais impostas pelos países de origem.

Qualquer retrocesso no vasto controle de território do EI na Síria e Iraque contribui para a alqaedaização do grupo, e ativa e potencializa seus vasos comunicantes, ou seja, seus atentados no exterior, sobretudo na Europa e em suas principais províncias no exterior: Líbia (cerca de 6.000 combatentes), Afeganistão (3.000 afiliados) e Iêmen, com um número indeterminado de milicianos.

Segundo dados difundidos, na sexta-feira, pelo Centro Internacional do Contraterrorismo de Haia, 30% dos cerca de 4.000 combatentes estrangeiros provenientes da Europa retornaram a seus países. Os atentados na França, em 13 de novembro, e na Bélgica, em 22 de março, são uma boa amostra da ameaça dos jihadistas que conseguem voltar. E há uma novidade no caso de Bruxelas que deve elevar o estado de alerta: a utilização de indivíduos não treinados diretamente em terras do califado para realizar os ataques, como foi o que aconteceu com os irmãos El Bakraoui.

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