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Obama: “O embargo a Cuba vai acabar, o que não posso dizer é quando”

Presidente dos Estados Unidos pede a Raúl Castro mais democracia para Cuba

Marc Bassets
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Barack Obama e Raúl Castro abordaram na segunda-feira, em sua reunião em Havana e em uma entrevista coletiva posterior, suas diferenças sobre direitos humanos e democracia. Obama disse que a falta de respeito aos direitos humanos é um dos obstáculos para a normalização plena das relações, mas reiterou que cabe aos cubanos decidir sobre o futuro de Cuba, não aos norte-americanos. Castro defendeu a saúde pública e a educação gratuita como um direito humano e estabeleceu o limite da aproximação aos EUA na manutenção do sistema político liderado por ele.

Quando um jornalista norte-americano lhe perguntou sobre a libertação de presos políticos em Cuba, Castro respondeu negando a existência desses presos: “Diga os nomes”. A entrevista coletiva de Obama e Castro, de uma hora de duração, serviu para ver Castro diante de perguntas incômodas. Em dois momentos, um assessor se aproximou do púlpito para aconselhá-lo. Respondeu outro questionamento com uma nova pergunta à jornalista.

Obama tenta isolar, na nova relação com Cuba, os direitos humanos dos outros assuntos em discussão. O presidente norte-americano admitiu o desacordo, mas também disse que os EUA têm aliados que também possuem sistemas políticos diferentes e citou a China como outro país no qual existem profundas discordâncias nesse assunto e, entretanto, as relações estão normalizadas há décadas. Os direitos humanos, disse Obama, não arruinarão a aproximação, mas podem tornar o ritmo mais lento. O embargo, que depende do Congresso, “acabará, mas não tenho certeza quando isso ocorrerá”.

Oferenda

O dia começou com uma oferenda de flores ao monumento do poeta José Martí, herói nacional de Cuba. A banda militar cubana interpretou o hino dos Estados Unidos. Obama e sua delegação escutaram firmes, a mão no coração, com o cenário revolucionário da Praça da Revolução. A praça é uma vasta extensão livre, com influência soviética, rodeada de edifícios governamentais e com um pano de fundo icônico: as faces dos revolucionários Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos nas fachadas ministeriais.

Ao iniciar a visita oficial com a homenagem a Martí, Obama não só seguiu a tradição de outros chefes de Estado que visitam Havana. Também enviou um sinal forte. “É uma forma de honrar os cubanos sem passar pela revolução”, disse após a homenagem o jornalista Jon Lee Anderson, autor da monumental Che Guevara, Uma Biografia, obra de referência sobre a vida de Che Guevara. A homenagem a Martí mostra o respeito à soberania cubana frente às ingerências estrangeiras, incluindo a dos EUA. E é uma homenagem ao prócer da pátria, uma figura de unidade que vai além das ideologias, um herói que não é monopólio da revolução, venerado em Havana e Miami.

A reunião de Havana é a terceira entre os dois mandatários desde o anúncio simultâneo da normalização das relações em 17 de dezembro de 2015. As reuniões anteriores foram em abril no Panamá, durante a cúpula das Américas, e em Nova York, em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU. Nesse período, o ritmo do degelo foi mantido. Os dois países reabriram embaixadas e os EUA suavizaram as condições para se fazer negócios e viajar a Cuba. Ao mesmo tempo, a abertura política foi inexistente: o cálculo da Casa Branca é que, a longo prazo, a liberalização econômica acabe por impulsionar uma transição a um regime pluralista.

Contrastes

O contraste entre os dois líderes é visível. Obama é um afro-americano de 54 anos, um presidente eleito democraticamente cujo segundo mandato termina em janeiro. Castro tem 84 anos, é branco e foi um revolucionário, ministro da Defesa e sucessor de seu irmão Fidel na liderança de Cuba. Fixou 2018 como limite de seu mandato. A Casa Branca quis acertar a normalização com um Castro, a família que dominou o governo de Cuba nos últimos 57 anos. Se eles têm algo em comum, é sua aproximação no final de seus mandatos.

A reunião de Havana deve selar o fim de uma hostilidade de mais de meio século, que começou pouco depois da revolução de 1959 e viveu seus momentos mais tensos durante a tentativa de invasão de Cuba em 1961 e a crise dos mísseis soviéticos em 1962. Os EUA impuseram um regime de sanções – o embargo – que em grande parte continua vigente. A ocasião mostrou e mostrará cenas insólitas: desde o Air Force One, o avião presidencial norte-americano, aterrissando em Havana, até o presidente dos EUA entrando com todas as honras no Palácio da Revolução, sede do poder em Cuba.

A coreografia da visita de Obama é reveladora. Não irá se reunir com Fidel porque ele não tem nenhum cargo oficial, mas também porque é, mais do que o irmão menor, o símbolo da hostilidade com os EUA. Até o último minuto, existiu uma discussão sobre a possibilidade de se realizar uma entrevista coletiva conjunta. Os EUA pediam; o Governo cubano resistia. No jantar de estado na noite de segunda-feira não estão previstos discursos e brindes: tudo muito sóbrio, com pouco espaço para efusões.

Na parte da tarde, Obama participará de reunião com empresários norte-americanos. Na terça-feira Obama falará ao povo cubano em um discurso no Grande Teatro de Havana e depois irá se reunir com dissidentes e representantes da sociedade civil, todos escolhidos pela Administração Obama, segundo a Casa Branca. A visita irá se encerrar na partida de beisebol entra a equipe norte-americana Tampa Bay Rays e a seleção nacional de Cuba. O beisebol é o esporte nacional dos dois países, símbolo da conexão entre os povos que Obama vê como fundamental para a normalização definitiva das relações entre Cuba e os EUA.

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