BC Europeu baixa taxa geral a 0% e amplia compra de títulos
Juros ficam em 0%, em comparação a 0,05% anterior, e penalização da liquidez dos bancos sobe a 0,4%
Todo o arsenal. E de maneira relativamente surpreendente: com uma estupenda gestão das expectativas. O Banco Central Europeu (BCE) anunciou, nesta quinta-feira, sua última versão modelo do “farei tudo o que for preciso” de Mario Draghi. Juros ainda mais baixos. Compras de ativos bilionárias sem maiores explicações. E um novo balcão de ofertas de liquidez para o setor bancário. O pacote completo diante dos riscos de deflação, a desaceleração da zona do euro e, por fim, a preocupante fase anêmica na qual se meteu a economia europeia.
Draghi não decepcionou e os mercados reagiram imediatamente. Segundo o consenso que está emergindo entre os analistas, o BCE costuma chegar tarde a seus encontros com os problemas, mas quando chega o faz bem: Draghi está ciente de que pode esperar pouquíssima ajuda para o lago fiscal e lança mão de todo seu arsenal, com um reforço sensacional do Quantitative Easing (QE) e do resto de medidas extraordinárias em pleno oitavo ano desta crise.
A taxa de juros de referência na zona do euro passa a ser de 0%, em comparação a 0,05% anterior. O Eurobanco também corta em 10 pontos básicos adicionais o juro aplicado à sua facilidade de depósito (o dinheiro ao qual se retribui ou se penaliza a liquidez bancária), que passará do -0,30% atual para -0,40%. A instituição amplia de 60 bilhões a 80 bilhões de euros o volume de dívida que pode comprar mensalmente no marco do QE lançado há exatamente um ano, e anuncia dois novos leilões de liquidez para junho. O instituto emissor europeu também incluirá em seu plano de compra de dívidas todos os títulos emitidos por empresas radicadas na zona do euro: até agora, ele só podia adquirir títulos emitidos pelo Estado.
Com essa nova ampliação do programa de compra maciça de dívida, somada com a nova baixa dos juros, o BCE demonstra uma boa gestão das expectativas que tinha para esta reunião. O mercado esperava medidas potentes mas que, ao mesmo tempo, não prejudicassem em excesso as contas de resultados dos grandes bancos europeus, um dos maiores elementos de preocupação das últimas semanas. De alguma forma, o BCE parece tê-lo cumprido: até mesmo antes de Draghi começar sua apresentação, as principais bolsas europeias responderam com uma alta superior a 3%. Já o euro caiu 1% frente ao dólar, uma queda significativa em um mercado tão estável como o de divisas. A moeda europeia não caía tanto diante das “verdinhas” desde novembro.
Em entrevista coletiva à imprensa, o italiano optou uma vez mais por um tom pessimista sobre os riscos que cercam o setor bancário europeu, para respaldar as importantes medidas de política anunciadas nesta quinta-feira. Mesmo com os efeitos esperados desta nova bateria monetária sobre a economia, o BCE acredita que o nível geral de preços se mantenha amplamente abaixo do objetivo de 2% nos próximos dois anos. Segundo seus cálculos, o nível geral de preços da zona do euro subirá um leve 0,1% este ano, 1,3% em 2017 e 1,6% em 2018. Neste contexto, marcado pela queda dos preços do petróleo, a desaceleração dos países emergentes e a fraca recuperação econômica do bloco europeu, Draghi observou que as taxas de juros ficarão em seu nível atual (mínimo histórico) ou até mesmo abaixo disso, durante um período de tempo “considerável”.
Os primeiros analistas a avaliar a nova artilharia do BCE também aplaudem as medidas colocadas sobre a mesa. “É um novo ‘farei o que for preciso’”, resumiu Stewart Robertson, da Aviva, em declarações à Bloomberg, referindo-se explicitamente à mensagem lançada por Draghi no tumultuado verão de 2012, quando mostrou sua disposição de adotar todas as medidas que fossem necessárias para salvar o euro. “Agora, ele terá que provar se essas medidas verdadeiramente penetram na economia real”, acrescentou.
Nas últimas semanas, foi constatada a fragilidade das pressões inflacionistas na zona do euro, cujo índice avançado caiu a -0,2% em fevereiro, enquanto o crescimento do PIB da região fechou o ano de 2015 com uma expansão de 1,6%, em comparação ao 0,9% de 2014, com um aumento de 0,3% no último trimestre do ano, em linha com a expansão do terceiro trimestre.
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