O preocupante rumo turco
Bruxelas deve deixar claro a Erdogan que ele não recebeu um cheque em branco
O desenvolvimento dos acontecimentos na Turquia, onde se adotaram medidas absolutamente incompatíveis com qualquer sistema que se queira democrático ou busque sê-lo, é bastante preocupante. Em destaque, o desmantelamento da direção do principal jornal do país, caracterizado por sua linha editorial de oposição às políticas do presidente, Recep Tayyip Erdogan.
Mas o caso do diário Zaman — e da agência de notícias Chian, pertencente ao mesmo grupo — é apenas o capítulo mais recente de uma ofensiva contínua contra os meios de comunicação oposicionistas, na qual se destaca a intervenção arbitrária em duas emissoras de televisão críticas em relação a Erdogan.
Essa atitude em relação à imprensa independente corresponde a uma estratégia adotada há algum tempo e que tem levado a Turquia a ocupar um dos últimos lugares em matéria de liberdade de expressão. Trata-se de um elemento que não deveria ser desconsiderado por Bruxelas nem mesmo neste momento em que Ankara se tornou um agente decisivo para a resolução da crise dos refugiados na Europa.
É preciso que Erdogan receba uma mensagem clara e inequívoca de que não está recebendo um cheque em branco para colocar em prática políticas que afastam o seu país dos princípios de uma Europa à qual a própria Turquia gostaria, ao menos em tese, de pertencer. A politização do judiciário e das forças de segurança, a gestão militar do conflito com a minoria curda e a redução contínua das garantias laicas que caracterizaram o Estado turco moderno desde a sua criação não são exatamente indícios de que a Turquia se movimenta na direção correta da democracia e da integração.
A União Europeia precisa da Turquia, mas isso não significa que possa fechar os olhos diante de comportamentos que vão de encontro àquilo que ela representa. E Erdogan deve receber sinais inequívocos a esse respeito.
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