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Coluna
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‘Caso Lula’ põe democracia brasileira à prova

País vive um delicado momento histórico, que necessita mais de bombeiros que de incendiários e no qual deve prevalecer a responsabilidade de todos

Juan Arias
Lula acena após prestar depoimento à PF.
Lula acena após prestar depoimento à PF.NELSON ALMEIDA (AFP)

A entrada do ex-presidente Lula e sua família nas investigações da operação Lava Jato, que apura o maior escândalo de corrupção política da história do país, não poderia deixar de produzir um choque nacional e internacional.

Lula é mais do que um ex-presidente da República e seu partido e governos já foram referência da esquerda trabalhadora e sindical latino-americana.

Foi durante seus dois mandatos que o Brasil ocupou as páginas da imprensa internacional como exemplo de um país em superação, no qual dezenas de milhões de pessoas saíram da pobreza para recuperar a sua identidade e dignidade de cidadãos.

Esse choque, que chega num momento em que o país está fortemente dividido e polarizado no contra ou a favor do Governo Dilma Rousseff, poderá ser um teste importante para analisar a força das instituições democráticas e a capacidade da sociedade para metabolizar o trauma.

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Lula é a alma e o todo do Partido dos Trabalhadores (PT), que está há 14 anos no poder, e se preparava para voltar a disputar a presidência em 2018.

Não é de estranhar, então, que a operação lançada pela Polícia Federal para recolher supostas provas de sua culpa nos escândalos de corrupção tenha sido duramente criticada pelo PT, que a considera “ilegal e um golpe para a democracia” e que lembra até os tempos da ditadura. O partido convocou seus militantes e os movimentos sociais a tomar as ruas para defender Lula.

Volta assim a ressoar o fantasma do golpe, desta vez não infligido pelos quarteis, mas pelas operações policiais e judiciais e pela pressão dos conservadores que apostam na queda do Governo.

A maior responsabilidade, neste momento, –à margem das naturais declarações oficiais de indignação do PT–, está nas mãos, entretanto, de todas as instituições do Estado e dos partidos do Governo e da oposição. Para eles, o maior imperativo deveria ser manter, a todo custo, a paz social hoje ameaçada.

O terremoto dos interrogatórios forçados de Lula junto à polícia no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, chegam, de fato, num momento de grande fragilidade do Executivo de Dilma Roussef, cada vez mais acuada e sozinha, e de uma recessão econômica considerada a maior do último quarto de século, junto com a ameaça de um aumento do desemprego e da inflação.

Portanto, é mais urgente do que nunca colocar, à frente dos cálculos políticos, a consolidação de uma democracia que o Brasil conquistou com sangue e dor, e que foi aplaudida pelo mundo.

O Brasil não é a Venezuela. Pode parecer um paradoxo, mas talvez o teste pelo qual passam Lula e o PT aconteça porque foi nestes anos, os de seu Governo e os de Dilma Rousseff, que os três poderes do Estado mais se fortaleceram e consolidaram sua autonomia.

Por mais difícil que possa ser para um personagem mítico como Lula ter que passar pelo infortúnio de ser levado à força para ser interrogado pela polícia, também poderia ser uma oportunidade para ele se defender em público de todas as acusações que rejeita energicamente.

Cabe também a ele agora colocar todo seu carisma e seus inegáveis dotes de comunicador de massas, especialmente com os mais pobres do país, para tentar unir a todos em uma nova esperança de renovação política e econômica, evitando que, como muitos desejariam, seu caso sirva para aprofundar as divisões e a violência.

O Brasil vive um delicado momento histórico, que precisa mais de bombeiros que de incendiários e no qual deve prevalecer a responsabilidade de todos.

Os governos e os líderes – mesmo aqueles aos quais o país mais deve a construção de sua democracia e de seu progresso econômico e social– passam, como tudo na história. O que deve permanecer, sem perder sua força, é a riqueza de um povo, que foi emblema de coesão como país, de convivência pacífica de suas culturas e religiões. Como me explicou a grande atriz brasileira Fernanda Montenegro, esta é uma sociedade que “não se envergonha, como vocês, europeus, de dizer que é feliz”.

Guerras e violência não se conjugam com este Brasil que tanto cresceu democraticamente. É uma sociedade que não jogou a toalha nem renunciou aos seus sonhos de superação, hoje ofuscados pela crise econômica e política.

Daí essa irritação e desespero das pessoas. Irritação e desespero que os responsáveis devem prestar atenção para não degenerar em ódio e violência que só ajudariam a agravar a crise, em vez de resolvê-la.

O mundo hoje volta a olhar para o Brasil.

Esperemos que ele nos surpreenda positivamente de novo.

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