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Inflação vai a 30% na Argentina e se torna a pedra no sapato de Macri

Presidente tem pressa em apresentar índice de real, depois de 'maquiagens' de preços no governo de Cristina Kirchner

Alejandro Rebossio
Aumento de preços em Buenos Aires, no último dia 15.
Aumento de preços em Buenos Aires, no último dia 15.ricardo ceppi

A inflação está se tornando um dos principais problemas do início do Governo de Mauricio Macri. Diante da perspectiva de uma desvalorização do peso no começo da gestão do novo presidente da Argentina em dezembro, os preços no país começaram a subir além da conta desde novembro. Em janeiro, a inflação chegou a 29,9%, segundo o índice elaborado por deputados de oposição não kirchneristas a partir de uma média dos levantamentos feitos por várias consultorias privadas. Um ano antes, o chamado IPC Congresso (índice de preços ao consumidor dos deputados de oposição) estava em 25%.

O IPC Congresso foi criado pela oposição depois que o Governo kirchnerista começou a manipular as estatísticas oficiais em 2007. Até outubro passado, os deputados da aliança liderada pelo liberal Macri, Cambiemos, participavam da elaboração do indicador parlamentar. Não mais. Agora Macri está no poder e suspendeu a divulgação de números oficiais até que se normalize o funcionamento do Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC), desprestigiado durante o kirchnerismo. Com isso, na segunda-feira, o peronista antikirchnerista Sergio Massa e a progressista Margarida Stolbizer se encarregaram de ressuscitar o IPC Congresso e divulgar os números dos últimos três meses.

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Até outubro, a inflação mensal era de 1,5%, segundo o índice parlamentar. Em novembro subiu para 2,2%; em dezembro, mês em que Macri assumiu o poder e desvalorizou a moeda, elevou-se a 3,8% e em janeiro chegou 3,6%. Espera-se que o IPC se mantenha alto em fevereiro e março devido a um forte aumento das tarifas de energia elétrica, antes excessivamente baratas, e seu consequente impacto em diversos produtos e serviços. O Governo de Macri responsabiliza a herança deixada por Cristina Kirchner pela depreciação do peso e pelo encarecimento da eletricidade.

“Se o Governo se animar a enfrentar os empresários que abusaram de alguma situação e corrigiram demais os preços, terá nosso apoio”, advertiu Massa. Outra deputada progressista, Victoria Donda, criticou a intenção do Executivo de moderar as negociações salariais para evitar altas superiores a 25%: “Esta sociedade não vai aceitar um teto para as paritárias, sobretudo com os aumentos que vêm afligindo a sociedade em cada ida ao mercado”.

Os deputados de oposição também pediram celeridade ao Governo de Macri para elaborar as novas estatísticas públicas. Sob essa pressão, o Executivo demitiu na segunda-feira a diretora técnica do INDEC designada havia apenas dois meses, Graciela Bevacqua, que exigia mais tempo para reordenar os indicadores. Macri quer voltar a publicar o IPC em dois meses, e não em oito, como desejava Bevacqua. A técnica já havia sido retirada do INDEC pelo kirchnerismo em 2007 por opor-se à subestimação da inflação. Sua volta ao instituto de estatística era um símbolo, mas durou pouco.

“Queremos recuperar uma sociedade que, há mais de oito anos, sofre o flagelo da inflação em níveis inaceitáveis e está chegando a um momento no qual o dano ocasionado é demasiado”, admitiu Macri na semana passada. A alta da inflação está afetando a atividade econômica depois de um 2015 de baixo crescimento (1,5%, segundo o Fundo Monetário Internacional, FMI). A venda de carros caiu 15% em janeiro; a de eletrodomésticos, 4,8%; a de alimentos, 2,5% e a de roupas, 2,7%, segundo os dados das organizações patronais.

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