Novos partidos embaralham formação de Governo na Espanha
Vitorioso, mas sem maioria por conta de Podemos e Cidadãos, Rajoy é obrigado a adiar negociações
A irrupção das novas formações políticas espanholas — Podemos (de esquerda, formada a partir dos indignados do 15M) e Cidadãos (centro-direita) — depois das eleições de 20 de dezembro dinamitaram a política espanhola, fragmentando o Parlamento. Este foi formado nesta semana, com a entrada de uma enxurrada de novos deputados (Podemos tem 69 assentos e Cidadãos tem 40) e impedindo que qualquer partido tenha maioria absoluta. O início da legislatura foi cheio de gestos simbólicos dos deputados do Podemos: roupas informais, cabelos compridos, deputadas levando o filho ao Parlamento, juramentos feitos na linguagem dos surdos... que foram elogiados por boa parte da sociedade espanhola e criticados por outros.
Enquanto isso está indefinida a formação do Governo, tarefa nada fácil para ninguém. O Partido Popular, de centro-direita, de Mariano Rajoy, só poderia formar Governo com o apoio do Cidadãos e do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de centro-esquerda. O PSOE já avisou que não o apoiará. O PSOE só governará se atrair os votos de Cidadãos, Podemos e dos partidos nacionalistas bascos e catalães. Outra combinação é impossível. Fora dessas duas possibilidades, que são difíceis de vingar, a Espanha será obrigada a realizar novas eleições.
“A chave está mais nas mãos de Pablo Iglesias e do Podemos do que nas mãos de Pedro Sánchez e do PSOE e agora não podemos fazer muito mais do que esperar e ver”, afirma um dos ocupantes de cargos de confiança do presidente interino, Mariano Rajoy, referindo-se à situação de paralisia que se vive no Palácio de la Moncloa (residência do presidente do Governo). Em princípio não estão previstos sequer mais telefonemas aos demais líderes para consultar sobre um apoio à investidura de Rajoy. Pelo menos até que todos os líderes apresentem seus planos ao Rei. Na Espanha, o monarca interroga primeiro todos os partidos políticos representados no Parlamento antes que estes comecem a tentar chegar a acordos.
Rajoy já fez esse aviso num Comitê de Direção do PP e vai cumpri-lo ao pé da letra. No início desse processo de negociação, aberto depois das eleições de 20 de dezembro, Rajoy recomendou “prudência e paciência” aos seus. Em sua equipe de confiança afirmam que ele foi o líder político que “melhor entendeu e digeriu” os inéditos resultados das urnas, cheios de nuances e possibilidades, mas também de complicações.
“É o momento da serenidade e Rajoy demonstrou que pode ser um mestre na hora de usar essa arte na política”, alardeia um dos seus principais assessores. O presidente interino votou na quarta-feira a constituição das Cortes desta XI legislatura e voltou ao seu escritório. Foi surpreendido por algumas cenas protagonizadas por deputados do Podemos, mas não perdeu o foco. As imagens e gestos da chamada nova política que marcaram aquela sessão do hemiciclo pareceram-lhe inadequados, mas não o distraíram de sua tarefa principal. Rajoy quer continuar durante mais um mandato em La Moncloa e, se possível, completo. E sabe que esse desejo não está em suas mãos, apesar de ter vencido a eleição.
Em La Moncloa tampouco se pensa que a decisão final de quem será o novo presidente esteja apenas com Pedro Sánchez, líder do PSOE. Longe disso. Vê-se o líder do PSOE mais atordoado do que há poucos dias e nas mãos do líder que mais preocupa o Governo: Pablo Iglesias.
Rajoy não pensa nestes momentos que tenha algum sentido voltar a telefonar e convocar Sánchez a uma reunião em La Moncloa para receber outra bofetada política e midiática como quando o recebeu nas escadarias do palácio no dia 23 de dezembro, quando disse que não iria apoiá-lo. O presidente e sua equipe lembram com pavor a reação virulenta e o tom rude em que aquela conversa, que durou apenas 20 minutos, foi realizada. Rajoy tinha previsto fazer ao líder do PSOE algumas ofertas de acordos de Estado que coincidem literalmente com as reveladas na quinta-feira pelo Ministro das Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo, mas nem as pôde enunciar.
Sánchez lançou-lhe logo de saída que jamais o apoiaria e tampouco outro candidato do PP. O resto da conversa já não tinha objetivo e o presidente esteve a ponto de precipitar o fim da reunião. Desde então ele apenas deu a entender que, se os três partidos (PP, PSOE e Cidadãos) se unirem, de alguma forma poderiam enfrentar grandes reformas. Agora ele já não quer se expor a uma situação que sua equipe prevê idêntica, porque Sánchez não parece ter mudado nenhuma de suas ideias nem sua rejeição total a Rajoy.
Nos círculos mais próximos de Rajoy em La Moncloa, especula-se que o presidente vai esperar mais uma semana para finalizar as negociações dos líderes políticos com o Rei, que gostariam que começassem o quanto antes e que terão início com os líderes dos partidos com menor representação na Câmara baixa. Os assessores de Rajoy supõem que desta vez os contatos do monarca com representantes das diferentes formações não serão apenas institucionais e permitirão que o panorama fique mais claro.
Enquanto isso, o líder do PP pediu aos seus ministros um balanço dos últimos quatro anos para expor, junto com alguma oferta, na reunião de investidura na qual apresentará sua candidatura e que está previsto para 30 de janeiro, quando também haverá uma reunião do Comitê Federal do PSOE.
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