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Crises gêmeas fazem ‘risco país’ do Brasil ultrapassar o da Argentina

O risco disparou em países como Brasil, Equador e Venezuela, apesar de apresentar uma redução na Argentina

A. R.
Presidente argentino Mauricio Macri e Dilma Rousseff.
Presidente argentino Mauricio Macri e Dilma Rousseff.Jorge Saenz (AP)

A desconfiança dos mercados financeiros em relação a alguns países da América Latina aumentou. Este ano, o barateamento das matérias-primas se acentuou, os Estados Unidos puseram um ponto final a quase uma década de taxas de juros tão baixos que não chegavam a 0%, a economia chinesa se desacelerou e afloraram crises econômicas em países como Brasil e Venezuela, o que provocou um aumento da volatilidade do custo que os países latino-americanos têm que financiar.

O risco-país, termômetro que mede a desconfiança dos mercados financeiros, mostra mudanças significativas durante os últimos meses. O prêmio de risco do Brasil, com a forte recessão e a ameaça de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, encerra o ano de 2015 com uma taxa superior à da Argentina, apesar dos problemas financeiros do país vizinho, que, desde 2014, está em conflito com os fundos abutres dos EUA. No entanto, o final de 12 anos de governos kirchneristas parece pesar mais do que as dificuldades financeiras.

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O diferencial brasileiro subiu cerca de 99% em 2015, chegando a 542 pontos básicos, enquanto o argentino se situa em 465, após cair 33%. A Venezuela e o Equador, dependentes do petróleo, apresentam prêmios de risco de 2.883 e 1.270 pontos básicos.

A medição do risco

O prêmio de risco dos países europeus se mede por meio da diferença entre os bônus, em 10 anos, de um Estado comparado à Alemanha, referência por ser a mais segura. Nos países latino-americanos, ele é medido através do índice Embi, que se trata da diferença entre as taxas de juros que pagam os bônus denominados em dólares, emitidos por países em desenvolvimento, e os bônus do Tesouro dos Estados Unidos, considerados livres de risco.O risco-país também pode ser estipulado através dos credit default swaps (CDS), seguros de falta de pagamentos de bônus públicos.

O equatoriano se elevou 43% em um ano carregado de tensões políticas. A superação da barreira dos 1.000 pontos indica risco de falta de pagamento. Em uma tentativa de afugentar fantasmas, o presidente do país, Rafael Correia, anunciou há duas semanas que, “pela primeira vez na história”, o Equador havia terminado de pagar todo o capital de um título público emitido no exterior. Sua dívida pública líquida com relação ao PIB é de 26%, e a da Venezuela chega a 30%, mas é difícil assumí-las.

Dentro das economias da Aliança do Pacífico, chama a atenção a alta do prêmio de risco da Colômbia (outro país petroleiro, que se situa em 320 pontos, 63% mais do que no começo de 2015. “A estagnação econômica inesperada na Colômbia parece ter surtido um efeito significativo sobre o risco. A queda do peso o afetou”, afirma Oscar Ugarteche, professor da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).

A dívida líquida da Colômbia é equivalente a 35,9% do seu PIB, superada pelo México, com 36,5%. O prêmio de risco do país asteca também cresceu 26%, até os 231 pontos básicos. A mesma tendência foi seguida pelos mercados no Peru, onde o diferencial pelo qual se financia sua dívida pública frente à dos EUA cresceu 35% nos últimos meses até chegar a 246 pontos.

O Chile vive longe dos problemas da falta de pagamentos que espreitam em outros países. Tem uma dívida pública líquida muito reduzida, de apenas 1,6% do PIB, e seu prêmio de risco está entre os mais baixos da região (254 pontos). “México, Peru e Chile seguem as regras do capital financeiro, e não vão sair do folhetim”, opina Ugarteche.

“A percepção do provável risco de uma falta de pagamento é um julgamento de um analista sobre o que acha que poderia acontecer”, esclarece o acadêmico. Segundo o economista peruano, “toda a América Latina sofreu os embates da apreciação do dólar”. A moeda norte-americana se valorizou 53% em relação ao peso argentino, 48% ao real e 38% ao peso colombiano, entre as maiores altas da região.

“As moedas dos exportadores de matérias-primas se depreciaram mais”, comenta Eduardo Levy Yeyati, professor visitante de Harvard. “Por outro lado, os bônus dos EUA se tornaram mais atrativos pela maior taxa (tipo) e pelo maior crescimento”, acrescenta.

Apesar das limitações financeiras da Argentina por sua disputa com os fundos abutres, seu prêmio de risco evolui em baixa. O Brasil acumula mais problemas, segundo a percepção dos mercados. “Se continuasse assim, em 10 anos, surgiriam problemas, mas têm muitos recursos não utilizados, financiamentos, linhas de contingência dos EUA e o FMI”, afirma Levy, de maneira tranquilizadora.

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