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Rei da Espanha convoca ao diálogo sem aludir à crise política nem à corrupção

Felipe VI pede diálogo para um governo que exige a contribuição de todos

O rei Felipe VI, durante a mensagem de Natal.Vídeo: Francisco Gómez
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O rei da Espanha fez um apelo por entendimento em sua tradicional mensagem de Natal, diante das incertezas projetadas pelo resultado das eleições, mas sem aludir diretamente à crise política. Em um momento cheio de dificuldades, Felipe VI invocou a “pluralidade política expressada pelas urnas”, uma nova realidade que traz “sensibilidades, visões e perspectivas distintas” e que comporta “uma forma de exercer a política baseada no diálogo”. O discurso, que foi gravado no Palácio Real e não no Palácio da Zarzuela, como de costume, tampouco citou expressamente a crise catalã nem a corrupção.

O momento incerto surgido das urnas no domingo passado impregnou o conteúdo da mensagem de Natal de Felipe VI, a segunda após sua ascenção ao trono. Para dissipar preocupações, ele propôs que se aprecie as conquistas da Espanha, se valorize sua pluralidade política e diversidade linguística, e que os espanhóis se reconheçam em tudo o que compartilham com base na Constituição. A Espanha está diante de um novo mandato que “requer todos os esforços, todas as energias, todas as vontades democráticas” das instituições espanholas “para garantir e consolidar” a posição alcançada. Mas também para “adequar” seu progresso político “à realidade da sociedade espanhola de hoje”.

Dom Felipe quis transmitir “uma mensagem de esperança na qual a reflexão serena, o contraste sincero e leal das opiniões, e o respeito tanto à realidade de nossa história, como a íntima comunhão de afetos e interesses entre todos os espanhóis, alimentem a vigência de nosso melhor espírito constitucional”.

Distanciando-se do foco em que se situa diante da desconfiança gerada pela fragmentação política para que os partidos encontrem uma saída, o Rei colocou no centro da solução as Cortes Gerais, “como depositárias da soberania nacional” na Monarquia parlamentar. Como “titulares do poder de decisão sobre as questões que concernem e afetam a todos os espanhóis”, são a instância na qual os partidos devem debater e dialogar para “decidir os assuntos essenciais”, como os que estão apresentados neste momento.

Caminhar juntos

Mudança ao Palácio Real, símbolo da “grandeza da Espanha”

A gravação da mensagem de Natal, que foi realizada na terça-feira, foi feita pela primeira vez fora de seu local habitual, o Palácio da Zarzuela. O lugar escolhido foi o Salão do Trono do Palácio Real de Madri. É onde a Coroa celebra os atos de Estado nos quais, segundo afirmou o Rei em seu discurso, “quer expressar, com a maior dignidade e solenidade, a grandeza da Espanha”. A escolha estava carregada de intenções. Em uma conjuntura política saturada de incógnitas, a Casa do Rei quis trazer conteúdos de proximidade acrescentados às palavras de Felipe VI em uma caixa de ressonância especial. Enquanto a Zarzuela é um símbolo inacessível para o povo, o Palácio Real, por ser a residência do Rei, é o monumento mais visitado do Patrimônio Nacional. Um milhão de pessoas estiveram em suas dependências no último ano, o que faz dele uma das localidades mais próximas dos cidadãos.

Em suas palavras, o Monarca pediu dinamismo às instituições e concordância com a sociedade, de maneira “que caminhem sempre ao mesmo passo do povo espanhol a quem servem e representam”. Mas sem evitar um apelo à honra: sensibilidade “com as demandas de rigor, retidão e integridade que os cidadãos exigem para a vida pública”.

Foi a única insinuação sobre a corrupção. Se no discurso de 2014, a regeneração da vida política, deteriorada pela eclosão dos escândalos que não pararam de surgir, constituiu um dos principais objetivos de seu pronunciamento, o Rei agora evitou menções explícitas.

Em vez disso, dom Felipe emitiu palavras de uma profunda carga social em outro dos temas da mensagem natalina: a inquietação por causa da situação econômica, cuja melhora ele defendeu como uma “prioridade para todos”. O Rei recordou o dever das instituições com “os cidadãos, as famílias e especialmente os mais jovens”, para que possam recuperar “a tranquilidade e a estabilidade para enfrentar o futuro”.

Saúde e educação

Em contraposição a fórmulas fracassadas que estão na memória recente de todos, ele pediu “um crescimento econômico sustentado” que permita continuar criando empregos (“e empregos dignos”, enfatizou) e que “fortaleça os serviços públicos essenciais como a saúde e a educação, e que permita reduzir as desigualdades, acentuadas pela dureza da crise econômica”.

Felipe VI se referiu aos grandes desafios enfrentados pela Europa, como a ameaça do terrorismo jihadista e a luta contra as mudanças climáticas, sobre os quais incentivou a Espanha a anteder a necessidade de que “se faça ouvir na União Europeia e nas instituições internacionais” na defesa de suas convicções e interesses. “O mundo de hoje exige nações fortes, responsáveis, unidas, solidárias e leais a seus compromissos com seus sócios e aliados, e com o conjunto da comunidade internacional”, afirmou.

Ao fim da mensagem, o Rei insistiu na necessidade imperativa de “continuar caminhando com a vontade de entendimento e com espírito de união”. “Com diálogo e com compromisso, com sentido de dever e com responsabilidade” para manter o “compromisso ético” de um povo que, há décadas, “decidiu de uma vez por todas e para sempre se dar as mãos e não as costas”.

Como é habitual, dom Felipe desejou boas festas aos espanhóis nas quatro línguas oficiais do país (castelhano, galego, basco e catalão).

O rei Felipe VI durante a mensagem de Natal.
O rei Felipe VI durante a mensagem de Natal.Francisco Gómez (CASA REAÑ)

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