Sindicatos argentinos pressionam por aumento salarial após a desvalorização
Macri negocia com as indústrias farmacêuticas e petroleiras para controlar a inflação Centrais sindicais se unem e planejam novos protestos na próxima terça-feira
Apenas um dia depois da eliminação do cepo (controle) cambial e da desvalorização de 27% do peso na Argentina, a maioria dos sindicatos da peronista Confederación General del Trabajo (CGT), até então divididos em três linhas, se reuniu na última sexta-feira, dia 18, para exigir aumentos salariais ao novo Governo do liberal Mauricio Macri. Os que eram kirchneristas e os que eram antikirchneristas se uniram para pedir ao presidente argentino que obrigue por decreto as empresas a oferecer um bônus de final de ano. O Executivo não concorda e propõe que cada sindicato negocie com seu correspondente patronal um aumento salarial para conter a inflação, que até outubro passado era de 24% e que poderia subir para algo entre 30% e 39% em 2016, segundo cálculos de JP Morgan e Deutsche Bank, respectivamente.
“Toda a discussão salarial estará limitada a seu setor”, respondeu na última segunda-feira o ministro da Fazenda da Argentina, Alfonso Prat-Gay, quando os jornalistas lhe perguntaram em uma entrevista coletiva, organizada para anunciar, com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, que a entidade desembolsará empréstimos ao país de cerca de 5 bilhões de dólares (cerca de 19,7 bilhões de reais) entre 2016 e 2019, um número maior ao dos últimos anos. No período de 2012 a 2015, o BID tinha aprovado uma estratégia para financiar 6 bilhões de dólares para a Argentina, mas a suspensão de pagamentos da Argentina em 2014, pelo bloqueio imposto pela justiça dos EUA no julgamento dos fundos abutre, fez com que o banco reduzisse sua exposição ao risco. O ministro confirmou então a entrada de divisas do BID, em um contexto no qual são necessárias para controlar a desvalorização, e continuou falando sobre as reclamações salariais: “Há setores que no ano passado receberam um bônus e outros que não. Se há acordo entre as partes (sindicatos e empresas), nós vamos homologar”.
Claro que há setores que estão com problemas para assumir aumentos salariais. Uma das duas principais empresas da Argentina, Techint, tinha proposto a seus funcionários da fábrica de tubulações petrolíferas uma redução salarial de 40% e, diante da recusa sindical, anunciou nesta quinta-feira uma demissão de 190 operários. No dia seguinte, depois de uma reunião no Ministério do Trabalho, a empresa reincorporou os 190. Cerca de 500 demitidos de uma fábrica de frangos impedia nesta sexta-feira mais uma vez o acesso dos automóveis ao aeroporto internacional de Buenos Aires, no município de Ezeiza.
O chefe do Gabinete de Ministros, Marcos Peña, disse que, depois da liberalização do controle cambial, agora seus funcionários se dedicarão a negociar preços e salários com empresas e sindicatos. Nesta quinta-feira conseguiram que as indústrias farmacêuticas locais reduzissem à metade o recente aumento dos valores de medicamentos de 14% para 7%. Além disso, negociam com as petroleiras para evitar um forte aumento dos combustíveis. Alguns produtos importados aumentaram nesta sexta-feira tanto quanto o dólar, 38%, de um dia para o outro.
Os sindicatos das três linhas da CGT, enquanto isso, negociam uma difícil unificação depois de quatro anos de brigas quanto às diferentes posturas diante do Governo passado, da peronista Cristina Kirchner. As outras duas centrais sindicais, que são de esquerda, também exigem um bônus de final de ano e uma delas prevê uma manifestação na próxima terça-feira. Inclusive a organização Barrios de Pie, cujos integrantes são beneficiários de ajudas sociais e há dois anos foi aliada do ministro Prat-Gay, pediu na sexta-feira um aumento das subvenções com um bloqueio da avenida 9 de Julho, no centro de Buenos Aires. Os tempos são difíceis neste início do Governo de Macri.
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