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Nelson Barbosa, mais amigo de Dilma que do mercado

O novo ministro da Fazenda sempre apareceu nas listas de apostas.

Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.
Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.FERNANDO CAVALCANTI

O novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que assume o lugar de Joaquim Levy, sempre apareceu nas listas de apostas para ocupar a pasta em momentos de crise. Defensor de ideias desenvolvimentistas, trabalhou em diversos postos na Fazenda e chegou a ser escolhido por Guido Mantega, então ministro, para o posto de secretário-executivo em 2011.

Barbosa participou do grupo do Governo que elaborou medidas para combater a crise internacional de 2008 além do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa Minha Vida. Após divergências sobre os rumos da economia com Mantega e Arno Augustin, secretário do Tesouro Nacional na época, Barbosa deixou o cargo.

Com a reeleição de Dilma, Barbosa quase se tornou ministro da Fazenda, mas acabou assumindo o Planejamento. Na época, ele afirmou que a presidenta precisaria de um "nome forte" no Ministério da Fazenda, capaz de "implementar uma política sustentável de gastos e liderar uma profunda reforma".

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Dilma acabou escolhendo Joaquim Levy, um clássico ortodoxo doutor em economia pela emblemática Universidade de Chicago, bem aceito pelo mercado, para assumir o desafio. No entanto, desde então, Levy não viu suas ideias prosperarem dentro do Governo nem no Congresso. Enquanto isso, Barbosa era cada vez mais bem recebido pela presidenta e pelo partido.

O novo ministro da Fazenda sempre teve bom trânsito com Dilma, que valoriza suas ideias. Ele ajudou a presidenta na montagem da "nova matriz macroeconômica". Uma combinação de taxa de juros baixa, câmbio competitivo e expansão fiscal, política do primeiro mandato que não funcionou. O novo ministro também autorizou uma parte das "pedaladas", quando era secretário-executivo do Ministério da Fazenda. Ele está inclusive na lista de pessoas que podem ser punidas pelo TCU.

Na sua passagem anterior pela Fazenda, Barbosa também foi responsável por negociar a reforma tributária. Mesmo não sendo filiado ao PT, ele trabalhou no comitê de reeleição do presidente Lula, em 2006. Sempre foi bem recebido pelo partido e atualmente deu palestras no Instituto Lula sobre as perspectivas econômicas.

Na Fazenda, Barbosa ocupou as secretarias de Acompanhamento Econômico (2007/2008) e de Política Econômica (2008/ 2010), antes de ocupar o posto de secretário-executivo. Antes, também assumiu cargos no Ministério do Planejamento e no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo vê com bons olhos a substituição do ministro da Fazenda. "Acho que Nelson Barbosa é a pessoa mais indicada para reunir a base aliada, colar os cacos, pois seu discurso e pensamento estão mais alinhados aos objetivos sociais do Governo", defende Belluzzo.

Já analistas de mercado fazem ressalvas sobre a indicação de Barbosa, temendo que o novo ministro se distancie do foco da estabilidade fiscal ainda que ele tenha reforçado que defenderá o equilíbrio das contas. "O foco da política continua sendo promover o ajuste fiscal. Mas isso também depende do crescimento da economia brasileira", disse Barbosa nesta sexta, em seu primeiro pronunciamento enquanto ministro da Fazenda.

Para a economista Camila Abdelmalack o ministro do Planejamento já mostrou ser muito mais flexível aos pedidos da presidenta e também não tem o perfil de Levy de tomar medidas mais austeras. "Aos olhos dos investidores, isso seria ruim porque tardaria ainda mais o equilíbrio das contas e a retomada do crescimento", explica.

Embates

Durante este ano, Nelson Barbosa, que é PhD pela New School for Social Research de Nova York, bateu quase sempre de frente com Levy, apelidado de "mãos de tesoura", por preferir uma política fiscal com mais cortes sociais.

O principal embate ocorreu em agosto, quando o Ministério do Planejamento apresentou um orçamento prevendo gastos maiores que a receitas a contra gosto de Levy. Este ano, as contas públicas vão terminar no vermelho, com um saldo negativo de 119 bilhões de reais. O ex-ministro da economia também foi voto vencido na criação do Plano de Proteção ao Emprego, com o uso de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Porém, a gota d'água aconteceu nesta semana quando o Governo, apoiado por Nelson Barbosa, decidiu reduzir a meta de superávit primário do próximo ano para 0,5% do PIB, ou 30,5 bilhões de reais. A decisão contrariou o ministro que vinha lutando para convencer a equipe econômica de manter uma meta de 0,7%. Levy já tinha afirmado que uma flexibilidade era ruim para conseguir a estabilidade fiscal necessária para a retomada do crescimento do país. Já Barbosa defendeu que a redução poderia estabilizar os níveis de investimento do país.

O novo ministro vem defendendo o aumento dos investimentos em infraestrutura como motor para a retomada do crescimento. Ele foi o responsável por "vender" a segunda etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL), que prevê R$ 198 bilhões nos próximos anos com concessões de aeroportos, rodovias, ferrovias e portos. A posição defendida por Barbosa é a de que o ajuste fiscal e a recuperação do crescimento precisam andar juntas.

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