Bumlai: denunciado por trocar lobby na Petrobras por empréstimo ao PT
Procuradoria acusa pecuarista de interceder na petroleira em nome do Grupo Schahin Investigadores não vêem envolvimento de ex-presidente Lula até o momento
O Ministério Público Federal ofereceu nesta segunda-feira denúncia contra o pecuarista José Carlos Bumlai por envolvimento no esquema investigado pela Operação Lava Jato. Ele está preso preventivamente desde o final de novembro, e é acusado por corrupção passiva, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O empresário é amigo do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva – ele chegou a acompanhar o petista em viagens oficiais à África, de acordo com os procuradores. Além de Bumlai, foram denunciadas outras dez pessoas por participação em uma operação fraudulenta que favoreceu a contratação da Schahin Engenharia para operar um navio-sonda da Petrobras em 2009, em um esquema que movimentou 49 milhões de reais em valores atualizados.
Apesar de não haver nenhum indício do envolvimento do ex-presidente petista no esquema investigado, a denúncia contra uma pessoa próxima de Lula pode fragilizar ainda mais o Governo, já acuado por um pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e por manifestações de rua, ainda que menores do que as do início do ano. Na denúncia, que faz parte da 21ª fase da Lava Jato, os procuradores afirmam haver provas de que Bumlai estaria usando indevidamente o nome de Lula para obter vantagens pessoais, algo que o empresário negou em seu depoimento, mas que foi posteriormente confirmado pela investigação. “As pessoas tendem a ver ele [Bumlai] como o centro das operações, mas ele era apenas um operador do PT”, afirmou o procurador Deltan Dallagnol, referindo-se a um empréstimo de 12 milhões contraído pelo empresário e repassado ao partido.
O pecuarista teria obtido o dinheiro com o Banco Schahin. Para quitar a dívida, a Schahin conseguiu um contrato de operação do navio sonda Vitória 10.000 de forma irregular, sem licitação ou concorrência. Na prática, defendem os procuradores, a Petrobras pagou com contratos uma dívida do PT. O acordo teria sido intermediado pelo ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto – preso por envolvimento no esquema da Lava Jato – e pelo lobista Fernando Soares, também preso. “Não foi feita consulta de preços com outras empresas, a Schahin foi escolhida com base em excelência devido a uma plataforma operada pela companhia na Bacia de Campos”, disse Dallagnol, que em seguida apresentou um documento interno da Petrobras no qual a suposta excelência da Schahin era questionada devido à produtividade “mediana” de suas plataformas.
Foram denunciados, além do pecuarista, seu filho Mauricio Bumlai e sua nora Cristiane Bumlai, três integrantes da família Schahin, os ex-diretores da Petrobras Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada, Eduardo Musa (ex-gerente da estatal), Vaccari e Fernando Soares. Cerveró, Musa e Soares assinaram acordos de delação premiada. Cabe agora ao juiz Sérgio Moro acatar ou não o pedido do MPF. A Procuradoria cobra uma reparação dos envolvidos no valor de 53 milhões de reais.
Embriões bovinos falsos
Para justificar o empréstimo repassado ao empresário pelo Banco Schahin, foram feitas diversas operações financeiras. Algumas mais sofisticadas contaram com o uso de empresas offshore localizadas em paraísos fiscais, mas o MPF disse ter encontrado até mesmo a falsa venda de embriões bovinos para uma fazenda ligada aos denunciados.
Se surgirem indicativos concretos com relação a qualquer pessoa, não só ao ex-presidente, elas serão ouvidas"
Dallagnol afirmou que a força-tarefa ainda investiga quem deu a garantia política para que o contrato fosse firmado. “São situações sob investigação que não podemos adentrar”, afirmou. Questionado sobre o possível envolvimento de Lula no esquema, o procurador disse que até o momento não existem provas concretas deste fato. “Essa referência [ao nome do ex-presidente] não está madura”, disse. Segundo ele, a investigação “demanda elementos concretos”. O procurador também informou que os nomes do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares (condenado no mensalão) e de José Dirceu (preso por envolvimento na Lava Jato), que constavam no indiciamento inicial feito pela Polícia Federal semanas atrás, foram retirados da denúncia por falta de provas.
O procurador não descartou ouvir o ex-presidente Lula caso surjam evidências ligando o petista ao esquema. “Se surgirem indicativos concretos com relação a qualquer pessoa, não só ao ex-presidente, elas serão ouvidas”, afirmou. Na semana passada a Polícia Federal anunciou que Lula seria chamado para depor em um inquérito da Operação Zelotes, que investiga a venda de Medidas Provisórias durante os governos do PT. Em evento no EL PAÍS, em Madri, o ex-presidente chegou a dizer que desafiava qualquer um, até quem estivesse em delação premiada, a provar seu envolvimento em qualquer esquema ilícito.
O delegado da PF Mauricio Moscardi Grillo afirmou que Bumlai mentiu em seus depoimentos à polícia, e citou a afirmação de que nenhum parente seu nunca foi ligado ao PT. Documentos apreendidos pela Força Tarefa indicam que Maurício Bumlai pediu desfiliação do partido em data não informada. O patriarca ainda irá prestar novo depoimento na superintendência da PF nesta segunda-feira.
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