França promete resposta dura aos atentados do Estado Islâmico em Paris
Hollande disse que país será "implacável", enquanto grupo volta a ameaçar os franceses e países aliados
O Estado francês não tem a menor dúvida de que a matança da noite de sexta-feira em Paris é obra de jihadistas do Estado Islâmico. Isso foi dito pela primeira vez pelo presidente François Hollande depois de uma reunião extraordinária do Conselho de Defesa, neste sábado - um dia após o atentado. “É um ato de guerra cometido pelo Daesh [acrônimo do Estado Islâmico, ISIS, em sua sigla em inglês] contra os valores que defendemos.”
Hollande declarou três dias de luto nacional pelos múltiplos e coordenados ataques terroristas que deixaram mais de uma centena de mortos. Foi “um ato de barbárie absoluta”, disse o presidente no Palácio do Eliseu, “planejado do exterior”. O chefe de Estado prometeu que a França responderá com toda a contundência, sem piedade, com todos os meios a seu alcance. Convocou para segunda-feira em Versalhes um comparecimento extraordinário perante o Congresso, ou seja, ante as duas câmaras parlamentares: a Assembleia Nacional e o Senado. Trata-se de uma reunião muito extraordinária na atividade parlamentar francesa.
Entre as dezenas de feridos no múltiplo ataque está dois brasileiros que estavam em um restaurante. Um deles, um arquiteto que estava na capital francesa a trabalho, ficou ferido com três tiros e seu estado era considerado grave, segundo as autoridades brasileiras.
Paris amanheceu cercada por um inédito esquema de segurança para evitar novos ataques e para localizar terroristas e colaboradores da matança registrada na noite de sexta-feira. Pelo menos dois atacantes ou cúmplices conseguiram fugir, segundo acreditam fontes policiais. Outros oito morreram. Sete deles se explodiram pelos ares ao detonarem cintos com explosivos. A contagem ainda provisória de vítimas prossegue em alta.
Quatro dos terroristas morreram no ataque à casa de espetáculos Bataclan, no Boulevard Voltaire. Outros três, nas imediações do Stade de France e um outro na rua, no Boulevard Voltaire, perto do Bataclan. Pelo menos 80 dos mortos estavam na casa de shows.
Outras pessoas 19 perderam a vida em um local atacado na rua Charone, 14 em outro na rua Bichart, quatro na avenida Republique e outros quatro nas imediações do estádio de futebol. Os ataques ocorreram em oito pontos da cidade, alguns bem próximos uns dos outros.
O Ministério do Interior ativou uma página especial na qual pede aos cidadãos que forneçam, sob anonimato, qualquer informação que possa ajudar a polícia a identificar os agressores ou localizar os que fugiram e seus cúmplices. Também solicita que seja comunicada a ausência ou desaparecimento de qualquer pessoa para que seja possível identificar possíveis vítimas da matança. Além disso, divulgou um número de telefone (0800406050) para receber qualquer pista ou prestar ajuda. E um número emergencial, o 197, disponível 24 horas por dia para que possam telefonar pessoas que tenham dados, até em caráter anônimo. Para informar as famílias no exterior, o telefone habilitado é o número 0033145503460.
Com o estado de emergência em vigor, as forças de segurança iniciaram o controle total das fronteiras. No entanto, os transportes aéreos e ferroviários funcionam com normalidade, de acordo com fontes policiais. Por ordem do Governo, permanecem fechadas as universidades, os colégios, as prefeituras e os salões de festa. Também foram suspensos todos os eventos esportivos programados para este fim de semana. Os líderes de todos os partidos políticos deixaram em suspenso a campanha para as eleições regionais de 6 e 13 de dezembro.
Ao longo da história da França, o estado de emergência só havia sido declarado em outras três ocasiões. A última, em 2005, em decorrência dos graves distúrbios em subúrbios parisienses após a morte de dois jovens perseguidos pela polícia. O estado de emergência permite proibir a residência de suspeitos em determinadas zonas, declarar áreas de proteção, suspender eventos públicos ou reuniões previstas ou deter qualquer investigado em sua casa, tanto de dia como de noite. Pode incluir ainda, em casos extremos, o controle de conteúdos a serem difundidos pelos meios de comunicação.
Hollande preside um Conselho de Defesa extraordinário com a presença dos comandantes-chefes das três forças armadas e dos serviços de inteligência. O Governo decidiu envolver mais os militares na luta antiterrorista. Aos 7.000 soldados alocados desde janeiro já se uniram outros 1.500. Não se descarta a possibilidade de que a França amplie sua participação nos bombardeios contra os jihadistas no Iraque e na Síria. “A luta será sem piedade”, anunciou na madrugada deste sábado Hollande, que afirmou que se sabe “de onde vêm” os terroristas. A França alegou “legítima defesa” para iniciar há dois meses os bombardeios na Síria.
O ex-presidente Nicolas Sarkozy, atual líder da oposição e do partido Os Republicanos, expressou apoio total às medidas excepcionais adotadas pelo Governo. “Os terroristas declararam guerra à França”, disse. “A guerra que temos de travar é total. Nosso país não deve ceder. Deve agir com determinação, com força. Superaremos esse teste com sangue frio e determinação. Nossa política externa deve incluir o fato de que estamos em guerra.” Sarkozy será recebido no domingo por Hollande.
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, suspendeu a visita oficial que faria na segunda e terça-feira a Paris. Também cancelou sua presença na capital francesa o grupo U2.
Na manhã deste sábado, o Governo ainda não havia tomado nenhuma decisão sobre possíveis mudanças em relação à Cúpula do Clima, que deve começar em 30 de novembro e estender-se até 11 de dezembro. Irão a Paris 195 delegações de países e organizações internacionais. Mais de 130 chefes de Estado e de Governo haviam anunciado sua presença na capital francesa.
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