A máxima de atirar primeiro e perguntar depois
PM mata jovem que fingiu roubar amigo. Negligência similar havia provocado outras mortes
Wallace de Souza Giglio, de 22 anos, acaba de morrer com um tiro no pescoço disparado por um policial militar em Engenho de Dentro, na Zona Norte de Rio de Janeiro. Era de noite, Giglio era negro, andava na garupa de uma moto e teve a triste ideia de assustar um amigo que andava na calçada. Wallace e o colega que dirigia a moto se aproximaram e simularam que se tratava de um assalto. “Perdeu, perdeu!”. Não deu tempo nem de dar risada porque um policial militar que passava pelo local atirou em Wallace antes de saber o que estava acontecendo.
Wallace namorava há cerca de um ano a mãe de sua filha Ana Beatriz, nascida há apenas um mês. A última mensagem do jovem no seu Facebook foi nesta quarta, na manhã do dia de sua morte: “A vida é feita de escolhas, basta voce arcar com as consequencias.. #BomDia #Foco #AnaBeatriz #MuitaFé”.
O policial militar André Felipe Aguiar Rebello, de 25 anos, se apresentou voluntariamente na delegacia, teve a arma apreendida e vai responder a inquérito por homicídio doloso, quando há intenção de matar. A máxima de atirar primeiro e perguntar depois se impôs nos últimos dias no Rio de Janeiro. Na última semana de outubro, outros dois jovens, de 17 e 24 anos, morreram enquanto transportavam em uma moto um macaco hidráulico, também na Zona Norte do Rio. Um policial militar confundiu a máquina para trocar pneus com uma arma e atirou. O disparo atravessou os dois mototaxistas que segundos depois chocaram contra um muro sem chance de sobrevivência. A polícia reconheceu o erro. “Entre um policial identificar uma situação e agir tem um lapso temporal muito pequeno, as coisas acontecem muito rápido”, disse o comandante do 41ºBPM, coronel Marcos Netto, após o crime.
O último episódio com elementos para acabar em tragédia aconteceu na semana passada e tem como protagonistas jovens de classe alta. Segundo o boletim de ocorrência do caso, quatro adolescentes de 15 e 16 anos, moradores de Leblon e da Barra de Tijuca, compraram maconha na praia de Ipanema e entraram numa trilha que liga as comunidades Chácara do Céu e Rocinha, para fumar. Mas foram surpreendidos por agentes da Unidade de Polícia Pacificadora da vizinha favela do Vidigal. Um dos rapazes teria feito um movimento brusco e escorregou na pedra. Um dos policiais, hoje afastado das ruas e indiciado por lesão corporal culposa, se assustou e atirou no braço do jovem. O agente afirmou que o menor abaixou para pegar algum objeto que ele acreditou que se tratava de uma arma. Era um skate.
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