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Republicano Rubio exibe credenciais para derrotar Clinton

Dissidentes Trump e Carson e ex-favorito Jeb Bush ficam em segundo plano no terceiro debate para a indicação em 2016

Marc Bassets
Marco Rubio (à esq.) e Donald Trump.
Marco Rubio (à esq.) e Donald Trump.JUSTIN SULLIVAN (AFP)

O senador pela Flórida Marco Rubio conquistou nesta quarta-feira o seu lugar entre os favoritos para suceder o democrata Barack Obama na Casa Branca. Crescido em uma família humilde de imigrantes cubanos, Rubio mostrou no terceiro debate do Partido Republicano as suas credenciais como um candidato capaz de derrotar a concorrente do Partido Democrata, Hillary Clinton.

O debate, organizado pelo canal especializado em finanças CNBC, causou estragos para vários postulantes. Entre eles, o adversário mais direto de Rubio: o ex-governador da Flórida Jeb Bush, que luta para manter viva uma campanha na qual entrou como favorito. Tampouco brilharam o magnata Donald Trump e o neurocirurgião Ben Carson, os dissidentes que dominam as pesquisas de opinião e que fizeram os alarmes do establishment republicano soarem.

Em suas intervenções, rápidas e certeiras, Rubio evitou as críticas aos outros nove candidatos republicanos que dividiam o palco com ele na Universidade Boulder (Colorado). Perante um público formado por milionários, contou a sua vida, que se identifica com os norte-americanos da classe trabalhadora. Focou os seus ataques na ex-secretária de Estado Hillary Clinton, uma política experiente, escaldada por inúmeras campanhas eleitorais, a verdadeira candidata a ser batida.

Rubio evitou as críticas aos demais adversários na disputa

Os republicanos temem que a indicação de um candidato muito radical ou excêntrico demais, ao estilo de Carson ou Trump, desperdice a oportunidade única de reconquistar a Casa Branca depois de oito anos de Obama. Há uma pressão crescente para que se encontre um candidato que possa se apresentar com segurança em novembro.

Os debates, nos Estados Unidos, são um espetáculo. E este, como todos os outros, também teve o seu momento de maior intensidade. Isso se deu logo nos primeiros minutos, quando os moderadores instaram Rubio a responder ao editorial do diário Orlando Sun Sentinel, da Flórida. Esse editorial criticava Rubio por absenteísmo no Senado e defendia a sua renúncia.

Bush, filho e irmão de ex-presidentes, disse a Rubio: “A legislatura [no Senado] dura seis anos. Você deveria se apresentar [para o trabalho]. Por acaso o Senado adota uma semana de trabalho à francesa?”. O tom paternalista era bastante autêntico. Bush foi o mentor político de Rubio. Ambos atuam no mesmo estado, pertencem à mesma igreja e, como conservadores pragmáticos, compartilham potenciais eleitores. Se público é o mesmo, mas só há espaço para um deles.

Era um debate dedicado à economia, mas os candidatos evitaram discutir pontos concretos

“Não estou me candidatando contra o governador Bush”, retrucou Rubio, procurando debater em nível mais elevado do que o seu mentor. Eu me apresento porque não podemos permitir que Hillary Clinton se eleja para dar continuidade à política de Barack Obama”. Foi como se, em uma só tacada, tivesse matado o pai e se libertado.

Embora fosse um debate dedicado a temas econômicos, os candidatos evitaram entrar em discussões sobre temas concretos: seus programas são vagos demais, ou os números que apresentam não se sustentam. Em vez disso, recorreram aos clássicos chavões da direita dos Estados Unidos: o discurso sobre a alta dos impostos, contra o intervencionismo do Estado e a elevada dívida pública.

A economia não constitui um terreno fácil para os republicanos. Os Estados Unidos são, hoje, a economia que mais cresce e que tem obtido maior redução no desemprego no mundo. Obama diminuiu o déficit orçamentário de 9,8% para 2,5%. Em 2014, a economia norte-americana gerou 2,9 milhões de empregos, a maior quantidade desde 1999. O problema é a defasagem existente entre os mais ricos e a classe média e o congelamento dos salários, mas nem a desigualdade nem a pobreza foram temas presentes ao debate.

Os adversários se dedicaram mais a desmoralizar os moderadores do que a esclarecer suas propostas econômicas

No encontro, às vezes agitado, tenso e caótico, às vezes dramático, os postulantes dedicaram mais esforços a tentar desmoralizar os moderadores do que a esclarecer suas propostas de política econômica. Culpar os veículos de comunicação, supostamente pró-democratas, pelos males do Partido Republicano é algo que sempre funcionou bem perante o público republicano. Começou com ataques a Donald Trump e a Carson e terminou com uma mensagem de unidade para derrotar Clinton, a verdadeira protagonista do debate.

Eram nove homens e uma mulher, a ex-executiva do Silicon Valley Carly Fiorina, que demonstrou grande talento para expor os argumentos conservadores com convicção. “Pode ser que eu não seja a candidata dos seus sonhos, mas garanto que sou o maior pesadelo para Hillary Clinton”.

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Cientes de que, cedo ou tarde, o número de postulantes cairá, os dez participantes do debate lutaram para se fazer ouvir. O governador de Nova Jersey, Chris Christie, e o senador pelo Texas, Ted Cruz, soaram mais consistentes do que na vez anterior.

Trump demonstrou muita irritação, adotando uma postura de vítima diante das perguntas dos moderadores, mas menos agressivo em relação aos seus concorrentes do que nos outros debates.

Haverá ainda oito debates até março. O processo do caucus (assembleias de votação) e das primárias culminará com a escolha do candidato em meados de 2016.

A atuação de Rubio no encontro desta quarta-feira o consolida como uma alternativa ao setor dissidente constituído por Trump e Carson. Pode alimentar as dúvidas sobre a viabilidade de um terceiro Bush. Rubio tem 44 anos, e, como 53 milhões de pessoas nos Estados Unidos, é latino.

“Tenho uma dúvida com os Estados Unidos que jamais poderei pagar”, concluiu Rubio. “Este não é apenas o país onde nasci. É a nação que mudou a história de minha família”.

Rubio é um conservador firme, mas que também atrai simpatia dos mais moderados. Projeta uma imagem dos Estados Unidos do futuro que agrada aos republicanos, a imagem de um país mestiço, mas apegado aos valores da era Reagan. De hoje até fevereiro, quando terão início as votações no estado rural de Iowa, ele terá tempo para demonstrar se é realmente o mais capacitado para enfrentar Hillary Clinton.

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