Quem é Jeb Bush: cinco pistas
Aspirante republicano fala espanhol,era milionário aos 35 e foi chamado de 'Veto' Corleone
1. Em casa se fala espanhol
O republicano Jeb Bush, que nesta segunda-feira anuncia em Miami sua candidatura à Casa Branca, é casado com Columba, nascida no México. Em casa o idioma espanhol é de uso corrente. Jeb fala com fluência. Aqui uma entrevista com o jornalista Jorge Ramos em 2012:
E aqui, num vídeo com suas netas no dia das mães, em que chama Columba de Vovó.
Embora tenha nascido no Texas, há 62 anos, sua pátria de adoção é a Flórida, e sua cidade, Miami. Sua conexão com a comunidade cubana é profunda. Inclusive fala cubano, segundo o The Miami Herald: em 2004, quando o furacão Ivan derrubou uma ponte perto da cidade de Pensacola, Bush, então governador da Flórida, disse a um colaborador de origem cubana: “Qué cagazón” [Que desastre].
O artigo cita outro exemplo de sua habilidade com o espanhol. Uma vez outro colaborador encontrou com o governador e perguntou como estava: “Jodido pero contento [Ferrado mas contente]”, respondeu Jeb.
2. Aos 35 anos já era milionário
Antes de entrar para a política, Jeb Bush se dedicou a fazer dinheiro. Aos 25 anos o Texas Commerce Bank o enviou à Venezuela para abrir seus escritórios no país. Voltou aos Estados Unidos para ajudar seu pai, George H.W. Bush, na campanha pela indicação republicana em 1980, que perdeu para Ronald Reagan.
Jeb se instalou em Miami e começou a trabalhar com Armando Codina, um empresário de origem cubana que tinha apoiado Bush pai. Codina, explica uma reportagem da revista The New Yorker, “deu-lhe um trabalho com nome na porta, ainda que lhe faltasse experiência no setor imobiliário”. “Logo Jeb tinha 41% da nova empresa, a Codina Bush Group. Em poucos anos estava rico.”
Seu biógrafo S.V. Dáte escreve que “aos 35 anos [Bush] era milionário”. O The Miami Herald detalha o ritmo do enriquecimento: “Seu salário inicial de 41.000 dólares em 1981 subiu para 186.000 depois de cinco anos. Seus rendimentos alcançaram 1 milhão de dólares em 1992, e seu patrimônio líquido era de 2,3 milhões de dólares dois anos depois, quando pela primeira vez se candidatou ao cargo de governador”.
3. Era chamado de ‘Veto’ Corleone na Flórida
Jeb Bush carrega um estigma no Partido Republicano: o de moderado e pragmático. Essa imagem pode ser um inconveniente no processo de caucus (assembleias eleitorais) e eleições primárias que deve começar em fevereiro e que elegerá o republicano que vai concorrer à Casa Branca. Para um setor da direita, influente no processo de indicação, qualquer indício de centrismo é suspeito.
É por isso que Bush insiste que é um verdadeiro conservador. Seus acertos na Flórida, diz ele, demonstram isso. Bush foi governador desse estado entre 1999 e 2007. Era tão constante em vetar projetos e cortar gastos que o chamavam de Veto Corleone. Em inglês veto e Vito podem ser pronunciados do mesmo modo.
Jeb era governador da Flórida em 2000, quando a recontagem de votos nesse estado deu a vitória a seu irmão, George W. Bush, nas eleições presidenciais. Cortou impostos e promoveu a educação privada.
Há poucos dias veio à tona um trecho de um livro que Jeb escreveu nos anos 90 com Brian Yablonski, seu colaborador intelectual mais próximo naquela época, segundo Dáte. No livro lê-se a seguinte frase: “Uma das razões pelas quais mulheres jovens têm filhos fora do casamento e cada vez mais rapazes abandonam suas obrigações paternas é que não existe mais nenhum estigma associado a esses comportamentos, nenhuma razão para sentir vergonha.” “Houve um tempo”, lamenta, “em que os vizinhos e as comunidades desaprovavam os filhos fora do casamento e em que a condenação pública era estímulo suficiente para que as pessoas fossem cautelosas.”
A essa velha citação somou-se outra redescoberta, a da lei aprovada na Flórida quando Bush era governador, mas que ele não sancionou. A lei exigia que as mães que davam filhos para adoção anunciassem isso na imprensa, para que o pai, se desconhecido, fosse encontrado. O objetivo era garantir os direitos e obrigações dos pais biológicos (no só as mães) e dos adotivos. Chamaram esse projeto de lei da letra escarlate, em referência ao romance de Nathaniel Hawthorne sobre uma mulher adúltera estigmatizada na Nova Inglaterra puritana do século XVII.
Esses episódios resgatados dos arquivos de jornais – as campanhas eleitorais, sobretudo para candidatos veteranos, consistem em grande parte em responder aos golpes dos arquivos -- pesam no debate sobre o conservadorismo ou a moderação de Jeb Bush.
4. Trinta horas semanais escrevendo emails
Quando era governador, Jeb Bush escrevia emails compulsivamente. Era sua maneira predileta de comunicar-se. Com assessores, políticos, amigos, cidadãos. Bush criou um endereço pessoas, jeb@jeb.org, para que os cidadãos escrevessem para ele. E respondia. Bush calcula que passava cerca de 30 semanais respondendo emails, com seu blackberry ou seu computador portátil. Os horários preferidos eram a primeira hora da manhã ou à noite. Também aos sábados. Jeb tem um livro eletrônico com correspondências de cidadãos e suas respostas. A rede de verificação de dados PolitFact calcula que Bush tornou pública cerca de metade de seus e-mails privados.
A candidata democrata Hillary Clinton enfrentou críticas porque, quando era secretária de Estado, manteve um servidor pessoal fora do Departamento de Estado.
5. É neto, filho, irmão e pai de políticos
Os Kennedy são a grande dinastia política dos Estados Unidos, mas nenhuma outra exerceu tanto poder quanto os Bush. Se Jeb obtiver a indicação e derrotar a candidata ou candidato democrata em novembro de 2016, os Bush seriam a primeira família da história do país com três presidentes (com dois estão os Adams, pai e filho; os Harrison, avô e neto; e os Bush, pai e filho).
Uma lista dos Bush políticos:
Prescott Bush (1895-1972) foi senador por Connecticut.
George Herbert Walker Bush (1924), filho de Prescott, foi membro da Câmara dos Deputados, embaixador da ONU e representante diplomático na China, diretor da CIA, vice-presidente e presidente dos Estados Unidos.
George Walker Bush (1946), filho de George Herbert Walker, foi governador do Texas e presidente dos Estados Unidos.
John Ellis Jeb Bush (1953), filho de George Herbert Walker e irmão de George Walker, foi governador da Flórida.
George Prescott Bush (1976), filho de John Ellis e de Columba, é comissário de terras do Texas. O cargo, que é eletivo, parece técnico, mas não é. Num petroestado como esse, seu poder é enorme. O comissário administra os direitos minerais das terras públicas.
"Um latino orgulhoso, texano orgulhoso e norte-americano orgulhoso”, autodefine-se George P. A geração seguinte já se prepara. Em castelhano, claro:
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