Netanyahu culpa um líder islâmico de convencer Hitler do Holocausto
Premiê afirma que o grande mufti de Jerusalém idealizou o extermínio judaico em 1941
Exatamente quando está prestes, nesta quarta-feira, dia 21, a viajar para a Alemanha em visita oficial, as redes sociais pegaram fogo em Israel com uma mensagem que resvala o negacionismo: Benjamin Netanyahu livra Adolf Hitler da culpa de ter idealizado o Holocausto. O primeiro-ministro afirmou, na noite desta terça-feira em Jerusalém, em seu discurso diante da plateia do 27o Congresso Sionista: “Hitler não queria exterminar os judeus naquele momento [novembro de 1941], queria expulsá-los”. Segundo o chefe de Governo, foi o líder palestino da época, o mufti de Jerusalém Haj Amin al Husseini, que convenceu o dirigente nazista durante um encontro em Berlim, com o seguinte argumento: “Se você expulsar os judeus, todos virão para cá [a Palestina]”.
— Então, o que devo fazer com eles? — respondeu Hitler ao mufti, segundo o relato de Netanyahu diante do Congresso Sionista.
— Queimá-los — respondeu o dirigente político e religioso palestino.
Os historiadores judeus desautorizaram, a oposição israelense condenou e um ministro até se desligou, nesta quarta-feira, reação às afirmações do primeiro-ministro, filho do historiador Benzion Netanyahu e especialista em introduzir dados históricos em seus discursos. Em uma intervenção no Knesset (Parlamento) em 2012, o líder do Likud já tinha se referido ao mufit al Husseini como “um dos principais arquitetos” da solução final.
A tese de que o dirigente palestino foi quem idealizou o plano para exterminar os judeus na Europa já tinha sido proposta por alguns historiadores, segundo o jornal Haaretz, como Barry Rubin e Wolfgang G. Schwanitz em seu livro Nazistas, islâmicos e a construção do Oriente Médio moderno, que traça uma linha histórica desde Al Husseini até a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) de Yasser Arafat. Mas esses autores não citam o diálogo ao qual Netayahu se referiu diante dos delegados do Congresso Sionista.
O professor Dan Michan, diretor do Instituto para a Pesquisa do Holocausto da Universidade de Bar Ilan, afirmou ao jornal Yediot Ahoronot que a reunião entre Hitler e Al Husseini foi realizada quando o plano de extermínio em massa dos judeus já tinha sido iniciado.
Do Museu do Holocausto, a historiadora chefe da instituição, Dina Porta, afirmou que as afirmações de Netanyahu são “factualmente incorretas”. “Não é verdade que a ideia foi do mufti.” O professor de história da Universidade de Tel Aviv, Meir Litvak, afirmou, por sua vez, que a ideia de aniquilar os judeus já tinha surgido entre os nazistas em 1939.
O líder da oposição israelense, o trabalhista Isaac Herzog, disse que as palavras de Netanyahu representam “uma perigosa distorção da história”, e exigiu uma imediata retificação por parte do primeiro-ministro para evitar a trivialização do Holocausto e o cúmulo do negacionismo. “O filho de um historiador deveria ser mais rigoroso”, completou Herzog.
Moshe Yaalon, ministro da Defesa e aliado político de Netanyahu, se afastou das afirmações do primeiro-ministro em declarações à Radio do Exército: “A História é muito, muito clara. Hitler é que começou [o Holocausto]”.
Para o secretário da OLP, Saeb Erekat, “Netanyahu parece odiar tanto os palestinos que está disposto a absolver Hitler da matança de seis milhões de judeus”. Em um comunicado da principal organização palestina, Erekat relembrou que milhares de palestinos combateram nas fileiras aliadas durante a Segunda Guerra Mundial.
Minutos antes de subir a bordo do avião que o conduziria a Berlim, Netanyahu respondeu às críticas: “Não quis dizer que absolvia Hitler de sua responsabilidade, mas que o fundador da nação palestina [Al Husseini] queria destruir os judeus até antes que existisse a ocupação de territórios ou os assentamentos”. O primeiro-ministro afirmou que o Fürher foi “o responsável pela solução final e que tomou a decisão” de iniciar o Holocausto, mas insistiu no papel de mufti de Jerusalém no andamento do extermínio sistemático de judeus na Europa.
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