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Entrevista

A lição de Anna Wintour

É, possivelmente, a mulher mais influente de uma indústria multimilionária Ousada e provocadora, dirige desde 1988 a edição norte-americana da revista ‘Vogue’

Anna Wintour, a editora da 'Vogue' norte-americana.
Anna Wintour, a editora da 'Vogue' norte-americana.Gorka Lejarcegi

A mulher mais poderosa e influente na história da moda contemporânea entra com elegância e timidez na sombreada biblioteca da Embaixada norte-americana em Madri. Usa um vestido plissado Gucci com uma fina estampa em ziguezague e um grosso colar com pedras amarelas e roxas e rosa. O penteado é o mesmo há décadas, um sóbrio bob até o queixo, de linhas retas, que muitas mulheres no mundo podem usar, mas que é dela e só dela, o corte de cabelo de Anna Wintour. Está com aqueles óculos de sol pretos Chanel que os tabloides dizem serem eternos, que nunca tira, uma barricada que parece antecipar uma entrevista fria e rápida, já que, conforme comunicaram seus assistentes, “Anna só tem alguns minutos”.

É então uma verdadeira surpresa quando Anna Wintour se senta com uma sutileza quase modesta na poltrona, tira os óculos e revela inquisitivos olhos azuis que com frequência interrogam seu interlocutor com atenção e curiosidade. A mítica diretora da edição norte-americana da Vogue sorri muito e está disposta não só a explicar como faz com tanto sucesso seu trabalho em um mundo editorial que muda a passos agigantados, mas também a dar conselhos muito necessários para que a Espanha amplie sua limitadíssima presença no mercado internacional da moda. Ao final, com uma escrupulosa educação, não olha seu fino relógio dourado nenhuma vez e deixa o tempo ultrapassar o limite estabelecido.

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Wintour não visitava a Espanha fazia muitos anos. Apesar de sua agenda impossível, aceitou o convite do embaixador norte-americano, James Costos, que os assistentes dela encaixaram entre as semanas de moda de Milão e Paris. Em apenas um dia em Madri, deu uma palestra a estudantes de moda e se reuniu com empresários e estilistas; entre eles, novos talentos como Víctor Alonso, da marca Maria ke Fisherman, e Álvaro Castejón, da Alvarno.

− Que impressão lhe causaram nossos estilistas?

− Tenho a sensação de que necessitavam de um pouco de ajuda para levar seus negócios ao plano internacional; pareciam um pouco inexperientes na hora de divulgar uma nova marca. Acredito que estejam preocupados com a possibilidade de não atrair suficiente atenção da imprensa e dos compradores estrangeiros para Madri e a sua semana da moda.

Talvez na Espanha devessem falar com a Rainha para que ela realmente desse a sua chancela. Isto é um negócio

− Percebe-se uma influência da moda espanhola no exterior?

− Sim, nas coleções desta temporada em Nova York, tanto a de Peter Copping para Oscar de la Renta – em que, obviamente, há tradição espanhola – como as de Proenza Schouler e Michael Kors, vimos que muita gente realmente se remeteu à Espanha, mas de uma maneira moderna, não estilo toureiro, de um modo que você gostaria de usar mesmo. Eu adoraria visitar mais a Espanha e aproveitá-la, porque acredito que há muito carinho, admiração e respeito por tudo o que este país representa.

− Como pode melhorar visibilidade da moda feita na Espanha?

− Tive a sensação de que havia muita desorganização na hora de planejar a semana de moda e de apoiar os jovens estilistas, e, como sabe, aqui há muitas empresas ricas que deveriam contribuir e patrocinar, mas de uma maneira prática, não se limitando a pôr seu logotipo em algum lugar.

− Quem pode apoiar os estilistas espanhóis?

− O melhor é ter uma organização, com todas as empresas, com as lojas e com a Zara e negócios similares. Que os criadores de sucesso façam doações a essa organização e depois esta levante recursos. Então os estilistas teriam uma instituição e recursos que poderiam dar apoio e ajudar as jovens promessas. Se todo o setor estiver envolvido, também o Governo, como seria de desejar, e além disso a imprensa lhe der seu apoio, então haverá uma probabilidade real de sucesso.

− A moda feita na Espanha é suficientemente conhecida no exterior?

− Os estilistas espanhóis têm algum reconhecimento nos Estados Unidos, mas não há um grupo, como se vê em Paris, Londres ou Nova York. Não estou criticando, ou dizendo que seja culpa da falta de talento, mas me dá a sensação de que não tiveram o apoio ou a plataforma que qualquer jovem necessita para começar hoje em dia. É um negócio grande para a Espanha, e estou muito consciente de que, economicamente, o país passou por tempos difíceis, mas tendo em conta que as coisas estão melhorando, deveriam ocupar-se disso.

Wintour sabe muito bem do que fala. Está pondo como exemplo o Conselho de Estilista de Moda da América, um lobby extremamente ativo nos EUA e incomparavelmente eficaz, dirigido pela estilista Diane von Furstenberg e em cujo conselho de administração se encontram titãs como Michael Kors, Beira Wang, Marc Jacobs, Tommy Hilfiger e Ralph Lauren. A própria Wintour costurou, em 2003, uma parceria da Vogue com esse Conselho para dar uma bolsa anual de 400.000 dólares a uma jovem promessa da moda e 150.000 dólares a dois outros finalistas, selecionados em um concurso aberto. Conforme anuncia agora, está estudando com o embaixador Costos a possibilidade de levar estilistas norte-americanos à Espanha.

– Acredita que um conselho como este poderia funcionar na Espanha?

– Vi como funcionava no Reino Unido, que, na verdade, há oito ou nove anos tinha uma indústria um tanto caótica. O chamado Conselho Britânico da Moda mudou o rumo. Samantha Cameron [primeira-dama britânica] se envolveu muito. Aqui talvez devessem falar com a Rainha para que ela realmente desse a sua chancela. Isto é um negócio. E sabemos que todo mundo tende a ignorá-lo como se fosse algo muito...

Não termina a frase. Deixa-a no ar. Não perde tempo respondendo àqueles que não veem o verdadeiro potencial da indústria. As possibilidades para a Espanha, que já semeou a infinidade de lojas da Zara, são óbvias. É o que enfatiza o embaixador Costos, que se senta ao lado de Wintour.

Na minha primeira edição de setembro, coloquei a Naomi Campbell na capa. A direção não podia acreditar que eu havia escolhido uma modelo negra

– A Espanha está saindo de uma crise financeira. Há 4.000 empresas de moda no país, que empregam 90.000 pessoas. A maioria é de firmas pequenas. É muito difícil conseguir ampliar a escala. O volume de vendas nacional é de quatro bilhões de dólares (15,6 bilhões de reais), e as exportações foram de 12 bilhões de dólares (46,8 bilhões de reais) só no primeiro semestre deste ano, de modo que é um grande impulso para a economia agora que o país está avançando. O Governo tem que apoiar a iniciativa, as empresas devem se organizar de forma que possam dizer que estão agregando valor, criando postos de trabalho e contribuindo para tirar o país da crise.

A moda é um negócio. As empresas devem ajudá-la. As instituições públicas devem protegê-la. São as lições de Wintour, que repete diversas vezes, com persistência, um convencimento e uma determinação que evidenciam as razões do seu monumental sucesso no enorme conglomerado industrial do vestuário internacional.

Nascida no Reino Unido em 1949, Wintour estreou no jornalismo de moda aos 20 anos, quando foi contratada em Londres pela Harper’s & Queen. Em meados dos anos setenta, mudou-se para Nova York com um trabalho na versão norte-americana da revista, a Harper’s Bazaar. Após deixar a publicação, teve vários empregos até que, em 1983, assumiu a parte de criação da Vogue. Dirigiu a versão britânica da mesma revista, passou por uma breve transição e regressou em 1987 a Nova York para assumir a chefia da House & Garden. No ano seguinte, tornou-se diretora da Vogue e até hoje, 27 anos depois, não abandonou o trono.

Sua carreira tem sido marcada por decisões audazes e provocadoras. Em sua primeira capa, colocou uma modelo com um suéter Lacroix e, algo inaudito, jeans da Guess. A mistura de alta costura com o prêt-à-porter mais comum se tornaria um verdadeiro cânone da moda desde então. Uma década depois, ofereceu a capa da revista à então primeira-dama norte-americana, Hillary Clinton, justamente no auge do escândalo sexual do seu marido na presidência. Moda e política se uniriam. Michelle Obama protagonizou duas vezes a capa da revista, e Wintour foi uma formidável máquina de arrecadação de fundos para o atual presidente: mais de cinco milhões de dólares (19,5 milhões de reais) desde 2007, segundo estimativas do The New York Times.

Em abril de 2014, fez com que a premiada fotógrafa Annie Leibovitz retratasse o casal do momento, o rapper Kanye West e a socialite Kim Kardashian, gerando uma explosão nas redes sociais. Era a sublimação de uma tendência iniciada por ela mesma de levar gente famosa, não só modelos e estilistas, às capas das revistas de moda.

– Foi muito trabalhosa a sessão de Kanye West e Kim Kardashian?

Wintour ao lado do embaixador norte-americano na Espanha, James Costos.
Wintour ao lado do embaixador norte-americano na Espanha, James Costos.Gorka Lejarcegi

– Sabíamos que teria um impacto enorme. Não se pode fazer algo assim em todas as edições. É preciso ter um equilíbrio entre as capas mais tradicionais e algo que seja muito surpreendente. A Vogue tem que ser uma autoridade, não pode ir longe demais, nem tampouco ficar muito atrás. É preciso saber exatamente quando ultrapassar os limites.

– Aqui também teve muito impacto.

– O incrível é que conseguimos mantê-la em segredo. Tínhamos outra capa que havíamos mostrado em todos os lugares, que todo mundo pensava que seria a verdadeira.

A Internet trouxe uma mudança fantástica. Com ela você pode falar com o seu público. Antes, estava muito afastado dele

– E mudaram no último momento?

– Não contamos a ninguém na redação. Escondemos a edição. Kim e Kanye foram geniais. Normalmente, é difícil guardar segredos assim. Mas foram muito respeitosos. Foi fantástico trabalhar com eles.

A carreira de Wintour também tem sido marcada por desafios. Quando lhe perguntamos se colocaria uma transexual na capa, como a Vanity Fair fez com Caitlyn Jenner em julho, diz que já dedicou espaço no interior da revista a Andreja Pejić, modelo transgênero australiana, em maio.

– A senhora enfrentou muito cedo outro desafio, o da raça.

– Na primeira edição de setembro que fiz, coloquei a Naomi Campbell na capa. Recordo que nessa época tínhamos que mostrar a revista à direção. Quando mostrei houve um silêncio total, porque não podiam acreditar que tivesse colocado uma modelo negra na capa da edição de setembro [a que tem mais páginas e mais anúncios, a verdadeira bíblia da estação]. Então isso foi considerado muito arriscado.

– Há todo um movimento que pede uma maior presença de pessoas mais velhas no cinema, na TV e nas revistas de moda. Pessoas como Madonna, que se queixam de discriminação. Acredita que é um tema pendente?

–Nunca pensei nisso. Veja, Karl Lagerfeld tem 82 anos e é o maior gênio criativo atuante no momento. Acho que todo mundo o admira como a um deus. Ralph Lauren tem mais de 70 e controla um negócio de um bilhão de dólares (3,9 bilhões de reais) [Lauren deixou o cargo há algumas semanas, após esta entrevista] com muito sucesso. Acho que é uma pergunta um pouco negativa.

A carreira de Wintour na crista da moda não esteve isenta de crises. Várias vezes foi cogitada sua saída da Vogue, sempre erroneamente. A última foi após a reeleição de Obama como presidente. Os tabloides diziam que Wintour seria embaixadora no Reino Unido. Nada mais longe da realidade. Em 2013, foi promovida. Ficou na direção da Vogue e ainda assumiu a direção artística de toda a Condé Nast, a editora que também publica títulos como Glamour, Vanity Fair e GQ.

A maioria das polêmicas foram as habituais no mundo da moda, como a magreza das modelos e o uso de peles nas sessões de fotos. Também houve boatos sobre uma suposta frieza e dureza na redação. Uma assistente que passou só 10 meses sob suas ordens escreveu em 2003 um livro fictício, O Diabo Veste Prada, cuja protagonista foi inspirada nela. Meryl Streep interpretou esse papel em um longa-metragem de grande sucesso. Mais revelador foi um documentário de 2009, The September Issue (a edição de setembro), em que Wintour exibiu sem rodeios sua forma de trabalhar e sua filosofia sobre a moda. Nele explicou por que acha que intimida tanto seus interlocutores: “Há algo na moda que pode deixar as pessoas muito nervosas.” Não é ela que impõe, é o negócio.

Também se especulou muito sobre a vida privada de Wintour, que ela preserva com muito cuidado. Os tabloides de Nova York a tratam como outra das estrelas que atacam de forma impiedosa. Seu divórcio do psicólogo David Shaffer, em 1999, encheu páginas e páginas nas revistas de personalidades. Com ele teve dois filhos. Mantém há 16 anos uma relação sentimental com o magnata texano Shelby Bryan.

Certo é que tudo nela envolve um magnetismo reforçado por um surpreendente senso de humor. Quando compareceu à estreia de O Diabo Veste Prada, os jornalistas perguntaram o que vestia e ela respondeu: Prada, claro. Um dos vídeos mais vistos na página da Vogue na internet é uma série de 73 perguntas onde conta que se levanta às 5h da madrugada e toma um café da Starbucks, gosta de nardos, tem medo de aranhas e nunca, nunca, vestiria só de preto. “Onde está a cor?”, pergunta a uma empregada que traz um cabide cheio de roupas escuras.

Wintour, naturalmente, não é só a diretora de uma revista. É uma das principais artífices da consolidação da moda como um negócio que movimenta fortunas em todo o mundo, que emprega milhões de pessoas e que tem sua grande liturgia nas quatro semanas da moda de Nova York, Paris, Milão e Londres, de outono e primavera. Dizem os estilistas que um gesto seu num desfile pode fazer despontar ou afundar uma carreira, um claro exagero, mas que indica a grande influência que ela tem nesse mundo. Sobretudo, destaca-se por ter ajudado jovens promessas a chegar mais alto, o que lhe valeu lealdades inabaláveis.

Teve também gestos muito humanos e quase magnânimos, como pedir em dezembro passado que John Galliano lhe entregasse um prêmio honorário na Grã-Bretanha, onde usou um vestido desse estilista para a marca que o contratou, a Maison Martin Margiela. A mensagem: o mundo da moda deveria virar a página do escândalo causado por comentários antissemitas que Galliano proferiu na intimidade em Paris, em 2011, e que foram gravados por turistas. Ele havia pedido perdão. Foi demitido da Christian Dior. Era punição suficiente.

Seu desafio agora é enorme. A Vogue norte-americana continua sendo a revista de moda de referência no mundo. Mas os leitores da mídia impressa caem a olhos vistos, e a publicidade e o faturamento despencam junto. Sua empresa se encontra imersa em um processo de conversão digital. Em 2014, relançou o portal vogue.com, que em um ano aumentou suas visitas em 108%.

— No que a Internet e as redes sociais alteraram seu trabalho?

— O avanço tecnológico mudou o trabalho de todos, não só o nosso mundo. Evidentemente, para nós é fantástico, significa que podemos falar com os leitores por mídias muito diferentes. E você também pode falar com seu público. São 24 horas por dia e sete dias por semana, mas isso é em parte o que torna tão interessante, e a principal mudança durante os últimos anos é que antes se estava muito afastado do leitor.

— As redes sociais, Instagram, Twitter e Facebook não provocam distorções e distrações no setor da moda, que antes era mais piramidal?

— Mas acredito que as distrações são muito importantes, e não podemos esquecer que a moda existe e vive e respira pela mudança, seja por estilistas que emocionam, por um filme que lhe agradou, uma exposição ou um novo candidato político. Há muitas coisas que podem afetar o mundo onde vivemos, e acredito que, em certo sentido, a Vogue continua sendo uma espécie de autoridade serena em meio a todo o ruído.

– Mas a capa da Vogue continua sendo a capa da Vogue.

– Sim. Acredito que sair na capa, ou aparecer na Vogue, dá ao personagem um caráter de autoridade e reconhecimento. É interessante quando falamos com modelos, celebridades ou políticos, com quem quer que seja; sim, eles se emocionam com o fato de contarmos sua história na Internet, nas redes sociais, mas o que de verdade eles querem é sair na revista, que confere um toque de seriedade, uma sensação de força e importância. Talvez o motivo seja que na Internet tudo é muito rápido e imediato, mas também desaparece rapidamente. Sim, ok, há notícias, reconhecimento e atenção, mas não têm o mesmo peso.

Wintour, com sua perseverança, ajudou a erguer a moda à categoria de arte. Não é exagero. O núcleo de moda do mítico Museu Metropolitan de Nova York leva o seu nome. Nas últimas décadas, ajudou a organizar 16 cerimônias de gala e eventos com essa instituição. Suas exposições de desenho receberam milhões de visitas. O ponto de inflexão, e um momento muito emotivo da sua carreira, foi a retrospectiva dedicada em 2011 ao estilista britânico Alexander McQueen, morto um ano antes, de quem ela era amiga.

– Anteviu o sucesso da exposição de McQueen?

– A verdade é que nunca vi nada parecido num museu, essas multidões e as filas ao redor do quarteirão. Foi uma exposição tão popular que decidimos deixar o museu aberto no último fim de semana, e às duas da madrugada a fila chegava até o Central Park. Conto muito esta história porque ficou gravada. Andrew Bolton, curador do Centro de Moda do Metropolitan, e eu ficamos autografando catálogos nesse último dia, e até para recebê-los as pessoas faziam fila. Uma senhora afro-americana que devia ter uns 90 anos chegou pedindo o catálogo autografado. Pedi desculpas por ela ter precisado ficar na fila, e me disse que passou nove horas esperando para ver essa exposição e que voltaria a esperar outras nove horas.

– Você e McQueen eram muito próximos.

–Sim, eu o conhecia, e evidentemente me pareceu totalmente correto por parte do museu querer fazer uma exposição, para realmente reconhecer seu extraordinário talento. Suas roupas merecem estar em um museu, são absolutamente fantásticas; sua mente era muito criativa, inventiva, e também um pouco louca. Às vezes eu não acreditava, trabalhávamos juntos e só se dava para ver seus dedos voando sobre o casaco ou o vestido ou o que ele estivesse fazendo. Era como um mago.

Um dos mais recentes desafios de Wintour foi corporativo. A Condé Nast mudou de sede em Nova York. Transferiu-se da comercial Times Square para o One World Trade Center, o arranha-céu mais alto nos Estados Unidos, no terreno onde se erguiam as Torres Gêmeas até o fatídico 11 de setembro de 2001. Foram quatro quilômetros de mudança para o sul, mas era como se fosse outro continente. Houve uma grande resistência entre os funcionários. De um ponto nevrálgico de Manhattan, com o constante ir e vir da fauna humana mais diversa do planeta, passaram há um ano para um complexo empresarial, rodeados por financistas com ternos largos.

– Seus funcionários já estão mais adaptados ao novo escritório?

–Para muita gente foi difícil. Mas é parte do espírito norte-americano, do espírito de Nova York: levanta e anda, você precisa ir em frente e demonstrar que consegue. O primeiro dia foi difícil, mas é surpreendente o que está acontecendo ali embaixo, na obra. É como uma cidade nova. Quase não parece que você está em Manhattan.

– A Condé Nast e a Vogue sempre foram associadas à Times Square.

–Não era exatamente o que se chama de chique.

– Com certeza foi uma mudança e tanto.

– Mudar é bom.

A mudança é boa. Não é só uma lição, é uma filosofia que Anna Wintour adota, numa carreira marcada por mudanças de apostas, tendências e cânones, com um só fim: que na moda seja levada tão a sério quanto merece.

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