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A ‘Levy-dependência’ e o grau de investimento do Brasil

Na semana que passou, o ministro da Fazenda foi alvo de boato sobre saída do Governo

C. J.
O ministro Levy em São Paulo.
O ministro Levy em São Paulo.M. Pisani

A notícia de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estava demissionário na semana que passou deixou o Brasil em polvorosa. Deu mais uma vez a dimensão da Levy-dependência deste segundo mandato do Governo de Dilma Rousseff. Empresas chegaram a adiar negócios até que as notícias fossem esclarecidas na quinta-feira, dia 4.

O número de jornalistas que cercavam o carro que o levava para a reunião com a presidenta naquele dia foi outro índice de seu protagonismo. Parecia um popstar. Sorridente, ele respondeu ao enxame de microfones: "Vou trabalhar". Levy acabava de adiar sua partida para a reunião do G-20, que começaria no final de semana, para se encontrar com Rousseff e esclarecer os pontos nebulosos da semana —e estancar a boataria sobre a sua saída.

Desde a coletiva de imprensa para anunciar o Orçamento de 2016, na segunda 31, o ministro foi alvo de especulações. Normalmente afável e bem-humorado, Levy estava reticente. Deixou de responder até se estava de saída ou não do Governo. Não estava. Mas não conseguiu esconder seu incômodo por ter sido voto vencido na discussão sobre a apresentação final das contas do Governo para o ano que vem. Levy queria que o Orçamento fosse apresentado com um superávit de 0,7% e não com o déficit de 0,5%, ou os 30 bilhões de reais a menos nas receitas para o ano que vem, uma confissão de que as contas não fecham.

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Durante a coletiva, pecou pela mesma razão que foi convidado para trabalhar no Governo: excesso de transparência. Para Levy, seria possível fechar as contas se o Executivo se debruçasse sobre seus programas e buscasse as distorções que representam desperdícios ou vazamentos de dinheiro incabíveis, principalmente num momento de crise. Mas a presidenta, assim como os ministros do Planejamento, Nelson Barbosa, e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, preferiu admitir rombo nas contas. A opção foi ganhar tempo e evitar que novos cortes pudessem aumentar ainda mais sua impopularidade.

Embora o ministro tenha mantido compromissos, as especulações sobre a sua saída cresceram depois da coletiva. Foram  alimentadas por inimigos da sua presença em Brasília, incluindo setores do próprio Governo, do PT e integrantes do mundo empresarial. Alguns empresários, por exemplo, estavam acostumados com um interlocutor mais flexível, que negociava renúncias de impostos em troca da manutenção de empregos, como foi o ex-titular da Fazenda Guido Mantega. Levy, no entanto, é pragmático, afeito a números e surdo para demandas que possam desviar do princípio da austeridade. O desencontro de informações fez pesos pesados da economia marcarem um jantar com Levy para quarta-feira, segundo o jornalista Fernando Rodrigues, do UOL. O presidente do Bradesco Luiz Carlos Trabuco, da Coteminas, Josué Gomes da Silva, e da CSN, Benjamin Steinbruch, estavam presentes. Estariam fechando com Levy para pressionar a presidenta a reforçar o pedido de Levy, pelo superávit de 0,7%.

Na quinta-feira, após a boataria, ficou claro que Levy venceu. O ministro é uma espécie de porto seguro para o PIB brasileiro, pela sua obsessão em garantir as condições mais favoráveis para os negócios, e tentar salvar o país de perder o grau de investimento. "Temos de consolidar as conquistas já obtidas até aqui", disse ele durante a entrevista ao EL PAÍS na mesma quarta, momentos antes de jantar com os empresários. Ele conta, ainda, com a simpatia do staff político. O vice-presidente Michel Temer, sempre que pode e até no exterior, destaca o papel fundamental de Levy neste período de crise. Espera-se, porém, os próximos passos do vice para ver se toma forma seu maior distanciamento do Planalto. De toda forma, esse apoio a Levy está prestes a passar, agora, por um importante teste de fogo: garantir um novo tributo.

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