_
_
_
_

Congresso do Chile inicia a votação para descriminalizar o aborto

Comissão de saúde da Câmara aprova a tramitação do projeto do Governo Bachelet

Rocío Montes
Michelle Bachelet.
Michelle Bachelet.Luis Hidalgo (AP)

Depois de 26 anos com proibição total do aborto e a seis meses do Governo de Michelle Bachelet apresentar seu projeto legislativo, o Congresso do Chile deu o primeiro e significativo passo à descriminalização da interrupção da gravidez em três casos: quando a mãe corre risco de vida, malformação fetal e estupro. Em uma sessão onde foram ouvidas as opiniões de especialistas e na qual estiveram presentes quatro ministros de Estado e aproximadamente cinquenta pessoas, entre detratores e partidários da iniciativa, a comissão de saúde da Câmara dos Deputados aprovou na noite de terça-feira a regulamentação, de modo que o projeto do Executivo socialista terá sua tramitação iniciada no Parlamento.

Mais informações
Bachelet reconhece que será difícil fazer reformas
Chile avança na descriminalização da maconha
Chile reabre um dos piores crimes da ditadura de Augusto Pinochet
Bachelet faz mudança drástica ao trocar nove ministros de sua equipe
A vaidade ferida do Chile
O Chile avança na sua lei de aborto

É apenas o primeiro passo, mas trata-se de um avanço histórico. O Chile permitia o aborto terapêutico desde 1931. Seis meses antes do final da ditadura de Augusto Pinochet, em setembro de 1989, entretanto, o regime determinou: “Não poderá ser executada nenhuma ação cuja finalidade seja provocar um aborto”. Desde então, o aborto é proibido em qualquer situação, como acontece em somente três outros países da região: Nicarágua, República Dominicana e El Salvador. Os outros dois Estados na mesma condição são Malta e o Vaticano. Mas as leis restritivas, que nos 25 anos de democracia não puderam ser modificadas pelos setores progressistas, não impedem que as mulheres abortem e que o façam sem condições de segurança. Apesar da dificuldade em estabelecer números exatos, estima-se que ocorram pelo menos 70.000 abortos clandestinos anualmente, de acordo com o relatório anual dos Direitos Humanos da Universidade Diego Portales de 2012, a última pesquisa disponível sobre o assunto.

Somente três outros países da região proíbem o aborto em qualquer situação: Nicarágua, República Dominicana e El Salvador

O projeto de lei estava contemplado no programa de Governo com o qual Bachelet foi eleita no final de 2013. Nesse período, entretanto, a socialista precisou moderar seu ambicioso pacote de reformas, tanto pela situação econômica como pelos problemas políticos que precisou enfrentar em 2015, que a deixaram com 26% de popularidade, de acordo com a pesquisa Adimark divulgada na segunda-feira. A descriminalização do aborto, entretanto, não está dentro das iniciativas que o Governo pretende reformular. Ainda que pareça pouco provável que o Chile tenha uma nova Constituição e sejam alcançadas as metas iniciais em gratuidade da educação antes do final da Administração em março de 2018, a lei de interrupção da gravidez mantém seu rumo original e o Executivo deu mostras de que pretende levá-la adiante antes do final do período. Apesar de ter a maioria no Congresso, não foi fácil: o caminho da reforma foi dificultado pela oposição da Igreja, grupos da direita e a negativa de alguns membros influentes do partido oficialista Democracia Cristã que se mobilizaram para barrar o projeto que a própria Bachelet apresentou em janeiro.

A situação política e econômica ocasionou a queda da popularidade de Michelle Bachelet

Depois da comissão de saúde da Câmara dos Deputados aprovar a moção de regulamentação na noite de terça-feira, o projeto de lei de aborto passará à sala da Câmara dos Deputados, onde os congressistas farão indicações no projeto do Executivo para continuar com o trâmite legislativo e sua discussão posterior no Senado. A direita indicou que considera que o texto é contrário à Constituição, porque não garante o direito à vida das pessoas não nascidas. É provável que, portanto, o Tribunal Constitucional emita um pronunciamento a pedido da oposição.

O projeto de lei do Governo tem amplo apoio da população. A recente pesquisa da Praça Pública – CADEM de julho de 2015 mostra que 74% apoiam o aborto quando a mãe corre risco de vida, 72% o respaldam em casos de estupro e 72% estão de acordo quando existe a probabilidade alta ou total de que o feto não sobreviva.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_