O risco de colapso bancário deixa a Grécia nas mãos do BCE
Se a autoridade monetária não elevar os fundos, sistema financeiro grego pode quebrar
Duas reuniões marcarão, a partir de segunda-feira, dia 6 de julho, o futuro da Grécia na Europa: o jantar entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, e, algumas horas antes, a reunião do conselho de governo do Banco Central Europeu (BCE). O risco de colapso dos bancos gregos deixa o país nas mãos de Mario Draghi: se o BCE não elevar os fundos de emergência, o sistema financeiro pode se declarar em bancarrota e levar a crise a um cenário catastrófico.
O BCE será chave nas próximas horas. O conselho de governo do banco central se reúne nesta segunda-feira, segundo fontes de Frankfurt. A grande obsessão de Frankfurt é não sujar as mãos envolvendo-se em política. Mas a decisão de segunda-feira é eminentemente política: fechar a torneira e até manter congeladas as linhas de liquidez de emergência poderia supor o fim do sistema bancário grego, que dispõe de menos de 1 bilhão —segundo o sindicato patronal dos bancos— em dinheiro, apesar do corralito (retenção dos depósitos bancários) da última semana, com 60 euros por pessoa como limite diário de saque. Se isso ocorrer, não será fácil para Draghi evitar que essa decisão seja interpretada como um castigo político.
Ele não deixa clara a posição do BCE. O recente calote ao FMI, o fim do segundo resgate e sobretudo as fracas perspectivas de um acordo podem inclinar a balança em favor dos falcões —a facção mais ortodoxa, liderada pelo Bundesbank—, que querem cortar pela raiz o crédito aos bancos gregos há alguns meses. “A única coisa que importa”, disse na sexta-feira o vice-presidente do BCE, Vitor Constancio, “são as possibilidades de acordo”. Com um não, essas possibilidades tendem a zero.
Dependendo dos países
Ninguém espera grandes decisões de Dragui até que o Eurogrupo e, sobretudo, os chefes de Estado e de Governo esclareçam sua postura. Mas em Frankfurt é tido como certo que um não pressionaria ainda mais no sentido de reduzir os fundos de emergência aos bancos, que estão nas últimas, suporia um endurecimento dos controles de capital, “e até um golpe para os poupadores, que pagariam parte da necessária recapitalização”, segundo Mujtaba Rahman, do Eurasia Group.
Se a Grécia e a Europa não chegarem a um acordo o mais rápido possível, o BCE tem prontos os planos de emergência para evitar o contágio, que incluem uma ampla gama de ferramentas como linhas de crédito cruzado (swaps) com outros bancos centrais, ajudas aos bancos dos países com relações mais próximas com a Grécia e, sobretudo, a ampliação do programa de compra de dívida pública e privada (o quantitative easing).
O grande desafio é a quebra dos bancos gregos, o que condenaria ao país inteiro e elevaria a probabilidade de saída do euro. Se o BCE fechar a torneira, ou até se a mantiver como está, os bancos podem entrar em colapso em algumas horas . Precisam se recapitalizar para reabrir e para isso há basicamente duas opções: dinheiro público europeu ou dinheiro público grego. No segundo caso, como Atenas não dispõe de fundos, a opção de uma moeda paralela ganha peso. E, sem a ajuda do BCE, ganha importância também um possível corte aos clientes, como ocorreu em Chipre. Todas as opções estão abertas; quase nenhuma é indolor.
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