Papa Francisco viaja para “a grande pátria latino-americana”
O pontífice inicia neste domingo uma viagem por Equador, Bolívia e Paraguai
Francisco já é o Papa da América. Não só por ser o primeiro pontífice nascido no continente, ter recebido todos os presidentes latino-americanos em seus dois anos à frente da Igreja ou por estar contribuindo de forma ativa para a aproximação entre Cuba e Estados Unidos. Jorge Mario Bergoglio se tornou um líder da América porque seus discursos, tão próximos do sofrimento das pessoas e da região, ressuscitam também a esperança da “grande pátria”. A viagem que começa hoje no Equador, Bolívia e Paraguai é a melhor prova disso.
O papa Francisco não entrou na Itália por Milão nem na Europa por Paris ou Berlim. Na hora de planejar suas primeiras viagens —o encontro com a juventude do Rio de Janeiro já tinha sido organizado por Bento XVI—, Bergoglio se decidiu por Lampedusa ou Albânia da mesma forma que, agora, preferiu voltar à América Latina por três dos países mais desfavorecidos e não pelo México, Brasil ou Argentina. “A geografia de Francisco”, explica o uruguaio Fermín Carriquiry, vice-presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, “é a de uma Igreja solidária com o sofrimento dos povos, sejam ou não católicos. Como se viu em suas duas encíclicas, Francisco propõe um encontro que derrube muros e construa pontes”.
Da mesma forma que João Paulo II baseou boa parte de sua liderança na luta contra os regimes comunistas, o papa Francisco já se tornou um verdadeiro contrapoder, como demonstra a repercussão de sua recente encíclica dedicada ao aquecimento global. Também em sua primeira visita à América hispânica, Jorge Mario Bergoglio levará seu foco midiático para o que ele mesmo definiu como “o continente da esperança” em uma homilia pronunciada no Vaticano em dezembro: “O futuro da América Latina tem de ser forjado pelos pobres e pelos que sofrem, pelos humildes, pelos que têm fome e sede de justiça (...). Por isso, a América é o continente da esperança. Porque dela se esperam novos modelos de desenvolvimento que conjuguem tradição cristã e progresso civil, justiça e equidade com reconciliação, desenvolvimento científico e tecnológico com sabedoria humana, sofrimento fecundo com alegria esperançosa”.
Bergoglio, que costuma falar da “grande pátria latino-americana”, aproveitará sua visita ao Equador, Bolívia e Paraguai para se dirigir a todo o continente nos 22 discursos que prevê pronunciar durante a viagem. Até o secretário do Estado do Vaticano, Pietro Parolin, admitiu que a excursão terá inegáveis “conotações políticas”, uma vez que a América Latina se transformou em um “verdadeiro laboratório” onde se está experimentando “novos modelos de participação e formas de Governo mais representativas que dão voz também às faixas de população que até agora não eram suficientemente ouvidas”.
Protestos no Equador
Ao interesse em si da viagem papal se acrescenta a circunstância de que o Equador, onde Jorge Mario Bergoglio chegará esta tarde, encontra-se há semanas imerso em uma onda de protestos contra as políticas do presidente, Rafael Correa, que atravessa um de seus piores momentos. O presidente dispôs um contingente de 18.000 policiais —cerca de 40% do total de efetivos.
Depois de se reunir com o presidente Correa, o papa Francisco viajará amanhã para Guayaquil, onde celebrará uma missa e almoçará com velhos amigos jesuítas do colégio Javier. Na segunda-feira e na quarta-feira, em Quito, o Papa manterá diversos encontros com o mundo universitário e a sociedade civil. Na quarta-feira partirá para a Bolívia. Em La Paz, realizará uma visita de cortesia ao presidente Evo Morales e se reunirá depois na Catedral com as autoridades civis, mas para evitar os efeitos da altitude só permanecerá quatro horas, seguindo depois para Santa Cruz de la Sierra.
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