Rafael Correa diz que o Equador enfrenta um golpe de Estado suave
Governo equatoriano desqualifica as três mobilizações convocadas para esta quinta-feira
O presidente do Equador, Rafael Correa, enfrenta a quarta semana de mobilizações. Políticos de oposição como Jaime Nebot, prefeito de Guayaquil, e o ex-candidato presidencial, Guillermo Lasso, uniram-se às marchas que os cidadãos convocaram desde o início de junho contra os projetos de lei que previam impostos à herança e ao lucro imobiliário. A retirada temporária dos projetos de lei de Correa não foi suficiente para serenar os ânimos, nem o pedido de diálogo nacional feito pelo Palácio Carondelet (sede do Governo). A oposição agora quer a renúncia do mandatário.
Três marchas contra o Governo estão previstas para esta quinta. O deputado Andrés Páez, do partido conservador CREO, convocou os cidadãos para uma caminhada partindo dos arredores da Assembleia Nacional até a sede do Governo. Ao mesmo tempo, os sindicatos, indígenas e camponeses, que reivindicam sobretudo direitos trabalhistas, iniciarão sua marcha com o mesmo destino, mas saindo do Instituto de Seguridade Social. A eles se juntarão pela primeira vez os profissionais da saúde, que se opõem à Agência para a Garantia da Qualidade da Saúde, criada em 25 de junho por decreto presidencial. O temor dos médicos é que sejam impostos tetos às tarifas do sistema de saúde particular. Alberto Narváez, da Federação Médica Equatoriana, critica a atitude unilateral do presidente e pede mais diálogo.
O Governo qualificou essas mobilizações como “um golpe de Estado suave”. Na tarde de quarta-feira, véspera das concentrações, os Ministérios do Interior e das Relações Exteriores convocaram a imprensa para falar sobre o que chamaram de tentativas de desestabilização da democracia. O ministro do Interior, José Serrano, afirmou que há uma conspiração em marcha, cujo objetivo é tomar o Carondelet. Segundo dados de inteligência, haveria planos de incentivar o uso de bastões com ponta pelos manifestantes para destruir os escudos policiais, além de bombas com tinta para cegar os soldados e pimenta para incomodar os cães e cavalos que os acompanham.
O relatório apresentado pelo Ministério do Interior afirma que se os “golpistas” (identificados com nome e sobrenome) não conseguirem tomar o poder, pretendem ocupar os aeroportos de Quito e Guayaquil e bloquear as passagens fronteiriças para provocar “pelo menos um caos nacional” e conseguir que o Papa Francisco cancele sua visita ao país, prevista para 5 de julho. Entre os mencionados está Lourdes Tibán, do movimento político Pachakutik, que negou as acusações. “Não queremos uma paz temporária só porque vem o Papa. Queremos um Equador de paz e liberdades”, disse.
O ministro das Relações Exteriores, Ricardo Patiño, também advertiu que a democracia corre perigo e apresentou três representantes do Comitê de Vítimas da Guarimba e do Golpe Contínuo da Venezuela, que falaram sobre as semelhanças da situação atual do Equador com o que ocorre em seu país.
Por sua vez, o presidente Rafael Correa divulgou uma mensagem nas redes sociais: “Queríamos que as tensões diminuíssem nesta semana. Por isso, inclusive suspendemos um ato massivo que teríamos na Shyris. Mas infelizmente temos claros indícios de que os golpistas tentarão tomar o Carondelet (...) Convocamos [as pessoas] a lotar a Plaza Grande a partir das 16h, com música e alegria, pacíficos mas firmes. Somos mais, muitíssimo mais. (...) Tentam nos manter em constante enfrentamento, como fizeram na Venezuela. Não conseguirão”.
Ao redor do Governo foi criada a Frente Unidos, que reúne várias organizações sociais próximas do “correísmo”. Ao lado delas sairão às ruas partidários da Aliança País, liderados por sua secretária executiva e ex-ministra de Estado, Doris Soliz, que justificou a marcha do Governo na televisão estatal. “Queremos dizer ao povo que não queríamos continuar com as atividades de mobilização, mas temos que fazer isso para impedir os golpistas”, afirmou.
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