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EUA sofrem mais ataques inspirados pela direita radical que pelo jihadismo

Terrorismo doméstico matou o dobro de norte-americanos que o radicalismo islâmico

Pablo Ximénez de Sandoval
Protesto para pedir a retirada da bandeira confederada na Columbia.
Protesto para pedir a retirada da bandeira confederada na Columbia.AP

O assassinato a sangue frio de nove pessoas negras em uma igreja de Charleston pelas mãos de um extremista branco de 21 anos voltou a colocar o foco sobre o perigo real representado por extremistas da direita norte-americana em um momento no qual a segurança nacional dos Estados Unidos se concentra em conter a ameaça jihadista. Dylann Roof nunca escondeu seu gosto por armas e símbolos racistas. Com suas nove vítimas, agora já são 48 os mortos por direitistas radicais nos Estados Unidos desde os atentados de 11 de setembro de 2001, segundo uma contagem feita pelo centro de estudos sobre segurança internacional New America que compara o número de vítimas do que chama "deadly right wing attacks" (na tradução, ataques inspirados em bandeiras da extrema direita) e "deadly jihadist attacks" (ataques com mortos motivados pelo jihadismo). Os mortos por terrorismo cuja inspiração é o extremismo islâmico nos EUA durante esse mesmo período chegam a 26.

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O estudo se concentra nos ataques cometidos por cidadãos norte-americano ou assimilados aos EUA, reunidos sob o título de terrorismo doméstico. Cita um total de 460 indivíduos acusados de terrorismo nesses anos, ou com motivações terroristas críveis. Destes, 277 são jihadistas e 183 de outras ideologias. Dos 19 casos analisados, o genocídio de Charleston é o que provocou mais vítimas mortais, seguido pelo cometido por um neonazista em um templo sikh em Wisconsin em 2012 (seis mortes).

É difícil definir a motivação extremista da direita. Ela não pode ser equiparada ao terrorismo, os autores reconhecem, já que a Constituição protege a liberdade de expressão e o direito de ter opiniões radicais. Os autores se concentram nos casos em que a violência é usada para conseguir esses fins. Por exemplo, o estudo classifica dentro das vítimas do extremismo de direita (dentro do segmento deadly right wing attacks) o segurança de um banco assassinado durante um assalto em Tulsa, Oklahoma, em 2004. A razão é que o motivo final dos assaltantes era comprar armas para vingar a atuação do Governo federal nos acontecimentos de Waco (Texas) em 1993.

O maior atentado em solo norte-americano entre Pearl Harbor (em 1941) e 11 de setembro de 2001 foi realizado por outro extremista, Timothy McVeigh, cujo motivo era o ódio contra as instituições federais. As bombas colocadas no edifício federal em Oklahoma mataram quase 170 pessoas em abril de 1995.

Massacre reabre debate sobre riscos do acesso às armas

EL PAÍS, São Paulo

O assassinato de nove pessoas na Igreja Metodista Episcopal Africana Emanuel (Emanuel African Methodist Episcopal Church), no último dia 18, voltou a acirrar o debate sobre os riscos da facilidade de acesso às armas de fogo. "Tenho feito declarações como essa vezes demais", disse o presidente Barack Obama, ao lamentar o massacre, voltando a abordar o tema considerado um tabu pelos norte-americanos. De fato, Obama fez discursos devido à violência por arma de fogo 14 vezes nos últimos sete anos. E, apenas um dia após o atentado, o principal jornal de Charleston trazia um anúncio de uma loja de armas.

O tema também está no centro das discussões no Brasil, onde uma comissão especial da Câmara, comandada por deputados da frente parlamentar pela Segurança Pública, estuda aprovar um projeto de lei (3722/2012) que acaba com o Estatuto do Desarmamento.

De autoria do deputado federal Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), o projeto - baseado em ao menos duas informações incorretas - libera o porte de armas para pessoas com mais de 21 anos que não tenham antecedentes criminais nem estejam sendo investigadas por crime doloso. Paralelamente, porém, estima-se que o Estatuto, criado em 2003, tenha salvo 160.000 vidas no Brasil. O tema segue em análise no Congresso.

A pré-candidata democrata à presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, abriu uma porta para o debate quando chamou os acontecimentos de Charleston de um ato de “terror racista”, ao mesmo tempo em que fazia coro à exigência da retirada da bandeira confederada dos edifícios públicos em alguns Estados do sul - a bandeira, usada pelos Estados do sul dos EUA durante a Guerra Civil (ou Guerra de Secessão), é vista por críticos como um símbolo do ódio racial no país.

Entre os ataques de inspiração do extremismo islâmico, os mais graves reunidos pela New America são os assassinatos de Ali Muhammad Brown em Washington e Nova Jersey em 2014 e o genocídio da base militar de Fort Hood em 2009, quando um psiquiatra militar abriu fogo na base gritando "Alá é grande" e matou 13 pessoas.

O estudo coloca do lado dos ataques jihadistas em solo norte-americano aqueles em que há indícios de influência do extremismo islâmico em sua realização. Por exemplo, o atentado contra a maratona de Boston em 2013, cometido por dois irmãos de uma família de origem chechena que viviam nos Estados Unidos desde que eram crianças. Eles não tinham nenhuma relação formal com qualquer grupo terrorista. Como o cidadão egípcio que matou duas pessoas no aeroporto de Los Angeles em 2002, são indivíduos influenciados pela ideologia jihadista, mas não terroristas enviados para agir em solo norte-americano.

Esta última possibilidade é um dos temas recorrentes em termos de segurança por parte do Partido Republicano. No ano passado, com base na crise na fronteira causada pela chegada de dezenas de milhares de crianças da América Central, vozes do partido justificaram a necessidade de blindar a fronteira porque, se uma criança conseguia atravessá-la, os terroristas do Estado Islâmico também conseguiriam.

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