_
_
_
_

E se Varoufakis tiver razão?

Economistas consultados pelo EL PAÍS dizem que estão exigindo o impossível da Grécia

Claudi Pérez
Yanis Varoufakis em Atenas.
Yanis Varoufakis em Atenas.ALKIS KONSTANTINIDIS (REUTERS)

A Grécia é o país que mais fez reformas durante a crise. O autor dessa frase não é o ministro de Finanças grego, Yanis Varoufakis, mas um banco alemão, Berenberg, que há vários anos estuda as reformas — essa palavra mágica — na zona do euro. As instituições anteriormente conhecidas como troika e os parceiros europeus insistem que, mesmo assim, o país precisa de mais reformas. E é verdade. Mas a última oferta dos credores para evitar um default exige que a Grécia, além disso, consiga um superávit fiscal de 1% do PIB este ano: 3 bilhões de euros (10,5 bilhões de reais) a mais em cortes de gastos. E não menciona uma só palavra para reestruturar a dívida. Vários economistas de primeira linha concordam que o plano está equivocado.

O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, ganhou as eleições com um programa baseado justamente no oposto: por fim à austeridade e conseguir um alívio da dívida. Todos os argumentos do polêmico Varoufakis giram em torno dessas duas cartadas. Os especialistas consultados não aprovam o estilo do ministro, mas acreditam que esse ponto de vista é incontestável. "A dívida grega é insustentável. A Europa tem de reconhecer isso de uma vez por todas e fechar uma reestruturação em troca de reformas", disse Marcel Fratzscher, diretor do think tank alemão DIW. "Podemos continuar fingindo que a Grécia vai pagar tudo, mas é um equívoco continuar negando a realidade e insistir em moralismo, sob o qual a Grécia deve ser punida", acrescenta o liberal Paul De Grauwe, da London School. "A reestruturação é imprescindível e vai acontecer", diz Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. "O dia do reconhecimento é apenas uma questão de tempo", arrisca Ken Rogoff, da Universidade Harvard.

Cinco anos após a descoberta do pecado original — os gregos mentiram descaradamente sobre suas contas públicas —, a zona do euro parece decidida a repetir antigos erros. As últimas propostas do bloco "parecem desenhadas para evitar um problema político em Berlim ou Madri do que resolver as dificuldades da Grécia", destaca Athanasios Orphanides, ex-presidente do Banco Central de Chipre. "A saga grega é a constatação de que a confiança no projeto europeu foi minada por uma combinação de interesses nacionais, relato moral e o ressurgimento dos estereótipos", reclama.

Mais informações
Bolsas europeias e dos EUA caem por medo de um calote da Grécia
'O último ato da Europa?', Joseph E. Stiglitz
Grécia: guia básico para entender a crise econômica e a dívida
Grécia rejeita acordo por corte adicional de 2 bilhões de euros

Superávit inalcançável

Os economistas não concordam somente sobre a necessidade de reestruturação: são unânimes na crítica às metas fiscais estabelecidas. "A Grécia simplesmente não pode alcançar um superávit orçamental de 1% este ano. Em meio a uma recessão, pedir mais austeridade é contraproducente: depois do desastre dos últimos anos, é incrível que sigamos por esse caminho", diz Simon Wren-Lewis, da Universidade de Oxford. Para Charles Wyplosz, do Graduate Institute, "a imposição de mais cortes mostra o quão longe os Governos europeus estão de assumir a responsabilidade por graves erros no passado". "Uma rodada adicional de cortes vai piorar as coisas. Não aprendemos: este não é mais um debate econômico, mas político e cheio de tabus", acrescenta Wyplosz. "Seria mais lógico pedir um orçamento equilibrado este ano, com metas mais ambiciosas futuramente. E condicionar essa concessão da promessa de reestruturar à realização de reformas. Isso é fácil de dizer, mas menos fácil de fazer para os ministros do euro", argumenta Ángel Ubide, do Peterson Institute.

O fim das negociações está se aproximando. A tensão está de volta e com ela a possibilidade de uma saída da Grécia da zona do euro. "Se os credores fossem sérios nas metas fiscais e na reestruturação, não estaríamos falando novamente de Grexit (neologismo que une Grécia e exit para a saída da Grécia da zona do euro); não teríamos perdido tempo", critica Kevin O'Rourke, do Trinity College. Lorenzo Bini-Smaghi, ex-conselheiro do Banco Central Europeu (BCE), diz que a saída da Grécia "poderia fortalecer o euro a médio prazo, mas a transição seria problemática, exigiria dar passos firmes no sentido da integração e, acima de tudo, um BCE muito ativo". "O Grexit teria implicações limitadas de curto prazo, mas a médio prazo representa uma revolução copernicana: é como dizer aos mercados que a zona euro é um arranjo temporário, e que quando a próxima recessão atinja as costas da Europa, já podem procurar o próximo candidato a sair”, conclui De Grauwe.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_