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Após escândalo da FIFA, negócio entre CBF e Nike volta a ficar sob suspeita

Relação já foi investigada por CPI, em 2001. Presidente da CBF se nega a defender Marin

São Paulo / Rio de Janeiro -
O presidente da CBF, Del Nero, durante entrevista nesta sexta-feira.
O presidente da CBF, Del Nero, durante entrevista nesta sexta-feira.Silvia Izquierdo (AP)

Na noite de quinta-feira, um tweet alertou sobre algo estranho: o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo do Nero, pagava sua conta no já famoso hotel Baur au Lac de Zurique e partiu, um dia antes da votação da FIFA na qual ia apoiar, segundo admitiu, Joseph Blatter. Preferia voltar ao Brasil para se proteger de uma extradição em caso de ser também detido? Precisava pôr ordem e dar cara para uma instituição ferida? Era já consciente de que o futebol sul-americano decidia se opor em bloco a Blatter e preferia o fazer discretamente?

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Depois de aterrissar no Rio, na manhã desta sexta-feira, Del Nero afirmou que voltava ao Brasil para “esclarecer tudo” e que adiantava seu retorno para seguir de perto as investigações diversas e a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado impulsionada por seu maior inimigo, o ex-jogador e hoje senador Romário de Souza Faria. Horas depois, em uma coletiva de imprensa, declarou que “nunca” viu corrupção no futebol, que não sabe “nada” de pagamentos ilegais, mas que vem a dar “explicações suficientes, onde seja, a todos os setores que façam falta […] sobre um assunto grave”. Del Nero não renunciará, assegura, porque ele não é o conspirador número 12 ou 13 citados no documento da Justiça norte-americana e porque nunca “recebeu nem receberia nada”. O dirigente máximo da CBF evitou defender seu antecessor e "padrinho", o detido José Maria Marin (destituído como vice-presidente da entidade), a quem desejou sorte, mas de quem voltou a se distanciar após ter retirado o nome dele do edifício-sede que a entidade tem em Rio.

Del Nero está há um mês no cargo e não aparece no documento do Departamento de Justiça norte-americana revelado na quinta-feira, embora isso não exclua seu aparecimento futuro. O fornecimento de material esportivo para a seleção brasileira e os direitos de transmissão da Copa Libertadores da América estão na mira dos promotores norte-americanos. No primeiro caso são investigadas a famosa multinacional norte-americana Nike e a CBF. No segundo, a Confederação Sul-americana de Futebol, a Conmebol. Em ambas situações, os investigadores norte-americanos registraram uma série de pagamentos ilegais aos diretores que participavam nas negociações. Os diferentes subornos foram confirmados pelo empresário brasileiro José Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo Traffic e réu confesso de ter participado na trama.

Hawilla não cita especificamente a Nike, mas afirmou ante os promotores norte-americanos que intermediou em um pagamento de subornos entre “uma empresa de material esportivo” e dirigentes da confederação brasileira em 1996, ano em que a Nike se tornou copatrocinadora da seleção canarinha e sua fornecedora exclusiva de material esportivo. Este assunto já foi objeto de uma CPI nos anos 2000 e 2001, embora não tenha sido comprovado. Naquela ocasião, tanto Hawilla como o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira negaram a existência de fraudes.

Nesta semana, depois que sete dirigentes da FIFA acabaram detidos, o relator daquela CPI, o deputado Silvio Torres (PSDB-SP) disse que as investigações são semelhantes das que ocorreram no Brasil, mas agora há mais provas e um termo de colaboração, que facilitaria as apurações. Por esse acordo de delação, o empresário Hawilla, comprometeu-se em devolver 151 milhões de dólares para o Governo dos Estados Unidos. As investigações ocorrem neste país por conta de supostas fraudes ao sistema financeiro americano. Bancos de lá teriam movimentado os recursos ilegais.

O dirigente máximo da CBF evitou defender seu antecessor e "padrinho", o detido José Maria Marin

Torres afirmou também que espera ver outros dirigentes brasileiros implicados na trama. Até o momento, apenas o ex-presidente da CBF e dirigente da FIFA José Maria Marin fora detido. “Acho que o Ricardo Teixeira deve estar se escondendo”, afirmou ao Jornal O Globo. Teixeira presidiu a CBF entre 1989 e 2012. Renunciou ao cargo por causa de uma investigação interna da FIFA que descobriu que ele recebeu 100 milhões de dólares em propinas entre 1992 e 1997 para garantir contratos da federação.

Paralelamente às investigações americanas, o Governo brasileiro informou nesta quinta-feira que abrirá um inquérito para apurar as responsabilidades de autoridades do país no caso. Se ampliadas, as investigações podem chegar a clubes de futebol e às emissoras que compraram os direitos de transmitir as partidas dos principais torneios nacionais. A Polícia Federal e o Ministério Fiscal já  apreenderam vasta documentação.

A empresa Nike não rebate as informações fornecidas por Hawilla, mas informou por meio de uma nota que as denúncias “não indicam que a companhia estivesse envolvida em condutas delituosas”. Nike acrescenta que está colaborando com as autoridades e que está preocupada com “as acusações muito sérias”.

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