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Equador elege sua primeira rainha da beleza indígena

A vencedora tentará uma vaga no concurso de 'Miss Equador'

A vencedora Jenny Guillin com sua coroa avaliada em 5.000 dólares.
A vencedora Jenny Guillin com sua coroa avaliada em 5.000 dólares.Edu León

Tinha de acontecer e tinha de surgir em Chimborazo (província da serra central do Equador, com 38% de população indígena) a ideia de eleger a primeira rainha indígena. Há pouco mais de um ano, uma organização resgatou a palavra incaica ñusta (que em quíchua significa donzela ou terra que não foi fecundada) para denominar o concurso de beleza exclusivo para indígenas. Assim nasceu a Ñusta Andina, que no dia 22 de maio entregou sua primeira coroa em Quito e cujo objetivo final é levar a representante das comunidades indígenas a participar do concurso de Miss Equador.

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Inti Daquilema, organizador do evento e diretor de uma escola de modelos indígenas, explica que sempre houve esforços para que as indígenas fossem incluídas nos concursos de beleza nacionais, mas que elas, por não atenderem a alguns requisitos, como ter 1,70 m de estatura, foram marginalizadas. “A mulher indígena tem direito de participar, de ser representativa dos povos indígenas, queremos apagar essa ideia de que a mulher indígena tem de estar atrás da vaca, atrás dos filhos, atrás do marido”, diz Daquilema.

A eleição da Ñusta Andina ocorreu em um ambiente carregado de simbolismos, havia alpacas empalhadas no cenário, e as candidatas acompanhavam os traços da cruz andina a cada saída. As mensagens de reivindicação eram ouvidas a todo instante. “O povo runa é como a palha do páramo, ainda que cortem, continuamos crescendo, continuamos resistindo, já são mais de 500 anos”, disse o apresentador logo no início da cerimônia.

A vencedora foi Jenny Guillin, do povo puruhá, uma indígena de 19 anos e estudante de Economia

O evento de quase quatro horas foi uma vitrine da cultura indígena. As dez aspirantes à coroa dançaram suas danças e mostraram seus trajes típicos e versões estilizadas deles no palco. Todas elas, exceto a representante do povo huancavilca (Península de Santa Elena), se expressaram em quíchua e em outras línguas da Amazônia, como o shuar.

A vencedora foi Jenny Guillin, do povo puruhá, que, segundo a lenda, nasceu da união dos vulcões Chimborazo e Tungurahua. Esta indígena de 19 anos e estudante de Economia assumiu o desafio de conseguir uma vaga no torneio de Miss Equador e assim demonstrar a riqueza cultural dos povos nativos. Como ela mesma disse em seu discurso de apresentação: “Não somos peças de museu, somos uma cultura viva”.

O Equador tem mais de um milhão de habitantes (500.379 homens e 517.797 mulheres) que se autoidentificam como indígenas, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INEC), e 71% deles dizem ser vítimas de discriminação. Por isso, cada vez mais indígenas decidem sair do padrão e criar seus próprios espaços para lutar contra a discriminação. Um exemplo são as cooperativas de poupança e crédito lideradas por indígenas. A mais bem sucedida é a Mushuc Runa (homem novo, em quíchua) que patrocina a primeira equipe de futebol de indígenas, que já joga na primeira divisão do campeonato nacional.

Mushuc Runa, Andina Marka (que comercializa a chicha morada e de jora, duas bebidas feitas de milho) e a marca de roupas Churandy (vista minha roupa, em quíchua) foram alguns dos patrocinadores da Ñusta Andina. Todas essas empresas pertencem à economia social e solidária e demonstram que os indígenas se desenvolvem à margem da sociedade equatoriana. Mas eles lutam para ser incluídos e fazer com que se cumpra o que diz o primeiro artigo da Constituição do país: “O Equador é um país intercultural e plurinacional”.

Se a Ñusta Andina participar do Miss Equador, será um avanço importante e mais um exemplo de que os indígenas podem atuar em espaços híbridos. O antropólogo Fernando García, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais, destaca que há “uma democratização da sociedade” e “uma mudança de época”, porque até há pouco, nas décadas de 1970 e 80, um indígena com poncho não podia nem entrar em uma praça e, se o fizesse, era obrigado a varrer o lugar.

A primeira Ñusta Andina, que levou uma coroa avaliada em 5.000 dólares, está decidida a levantar a bandeira contra a discriminação. “Nós, indígenas, não devemos nos considerar menos que os mestiços. Só nos falta um porta-voz que eleve nossa autoestima, que mostre toda a riqueza que temos para que nos sintamos orgulhosos”, diz.

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