A beatificação de Romero, padre que se tornou ícone da América
Assassinado durante uma missa em 1980, sacerdote salvadorenho viveu pelos pobres
![Sacerdotes na cerimônia de beatificação de Óscar Romero, no sábado.](https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/C67GX2HSVPM35USFUWNW2QW62I.jpg?auth=bcf39273bfc4074d2760b0b892bb35c5469341878b170753ee2357f610803bf7&width=414)
Óscar Arnulfo Romero, arcebispo de San Salvador assassinado há 35 anos por pistoleiros de ultradireita, foi oficialmente declarado beato no sábado pelo papa Francisco, que, numa carta lida a uma multidão em El Salvador, descreveu o religioso como “exemplo de servo de Deus” e “pai dos pobres”. As cerca de 300.000 pessoas concentradas na praça Salvador del Mundo, na capital salvadorenha, ovacionaram e deram vivas a Romero depois da leitura da carta por Jesús Delgado, um bispo que foi secretário particular do novo beato.
A beatificação foi concretizada quando uma relíquia de Romero – a camisa ensanguentada que usava no dia do seu assassinato, flores e uma palma que significa “a vitória dos mártires” – foi incensada pelo cardeal Angelo Amato, enviado do Papa.
Amato, que presidiu a liturgia, enfatizou que “esta é uma festa de regozijo e de fraternidade para a Igreja e para a nação salvadorenha”. “Romero não é um símbolo de divisão, e sim de fraternidade e concórdia”, acrescentou.
A cerimônia teve a participação dos presidentes Salvador Sánchez Cerén (El Salvador), Rafael Correa (Equador), Juan Carlos Varela (Panamá) e Juan Orlando Hernández (Honduras), além do primeiro vice-presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e do vice-presidente da Venezuela, Jorge Arriaza, entre outras autoridades latino-americanas. Surpreendeu a presença do prefeito da cidade de Santa Tecla, Roberto D’Aubuisson, filho e homônimo de um militar ultradireitista acusado de ordenar a morte de Romero, ocorrida em 24 de março de 1980.
A Comissão da Verdade criada pelas Nações Unidas depois da guerra civil salvadorenha para investigar a violência política nesse conflito acusou D’Aubuisson, morto em 1992, e seus seguidores mais próximos de serem os autores do assassinato de Romero, perpetrado enquanto ele celebrava missa na capela de um hospital da capital.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elogiou a beatificação de Romero: “Hoje me uno às pessoas de El Salvador e de todo o mundo para receber com regozijo a beatificação do arcebispo Óscar Romero. O religioso foi uma figura inspiradora para as pessoas de El Salvador e de todo o continente americano. Foi um sacerdote inteligente e um homem valente, que perseverou apesar de precisar enfrentar uma oposição proveniente dos dois extremos do espectro político”, disse ele em nota.
O arcebispo italiano Vicenzo Paglia, ao ler a biografia do beato na praça, afirmou que “Romero foi um exemplo de pastor que defendeu os pobres. Romero continua falando e pedindo nossa conversão. Hoje continua a missa que interromperam no dia da sua morte”.