Todos falam inglês. Somente três cineastas nascidos em países de língua inglesa (Gus Van Sant, Todd Haynes, e o australiano Justin Kurzel, que apresenta um Macbeth com Michael Fassbender e Marion Cotillard) concorrem à Palma de Ouro, mas metade da competição é composta por filmes falados em inglês. O caso mais curioso é o italiano: seus três diretores (Nanni Moretti, Matteo Garrone e Paolo Sorrentino) estarão na sessão principal, mas somente o filme de Moretti é em italiano. O inglês também é o idioma do grego Yorgos Lanthimos (Canino), que concorre com The Lobster; o mexicano Michel Franco, com Chronic ou o canadense Dennis Villeneuve (Sicario).
O sucesso de bilheteria. Todos os anos Cannes reserva um espaço para alguns sucessos de bilheteria de qualidade. Esse ano a honra vai para Mad Max: Estrada da Fúria, na qual George Miller, seu criador, ressuscita o herói apocalíptico. A Pixar, por sua vez, apresenta seu novo trabalho de animação, Divertida Mente, de Pete Docter (Up – Altas Aventuras), que será um dos filmes com maior bilheteria de 2015.
O problema feminino. No ano passado as cineastas chamaram a atenção por como o maior festival do mundo lhes dava as costas. A organização correu para remediar o problema. A inauguração é de responsabilidade da francesa Emmanuelle Bercot e sua La Tête Haute, a segunda vez que uma diretora tem essa honra: a primeira foi Diane Kurys em 1987 com Um Homem Apaixonado. Existem também outros dois filmes com mulheres na direção na competição da qual participam 19 filmes. E no encerramento Agnés Varda, o rosto feminino da Nouvelle Vague, receberá a Palma de Ouro de Honra. Além disso, o festival criou o programa Women in Motion para promover a incorporação de mais cineastas mulheres à indústria.
Miguel Gomes. Com a morte de Manoel de Oliveira, e com Pedro Costa ultrapassado, Miguel Gomes é o cineasta português mais conhecido. Na Quinzena de Realizadores, Gomes ocupa um lugar de honra ao apresentar seu novo trabalho, As Mil e Uma Noites, sua visão atual de Sherazade, dividida em três partes de duas horas cada uma que poderão ser vistas em dias seguidos.
A volta da Ásia. O taiwanês Huo Hsiao-Hsien passou anos preparando The Assassin, sua contribuição ao gênero wuxia, o das espetaculares lutas de artes marciais. Também estarão o japonês Hirokazu Kore-eda com Unimachi Diary, o chinês Jia Zhang-ke com Mountains May Depart, e em uma estranha decisão, o tailandês Apichatpong Weerasethakul, com Cementery of Splendour, ficou relegado à segunda grande sessão, Um Certo Olhar. Os japoneses Naomi Kawase e Kiyoshi Kurosawa também ficaram relegados às sessões paralelas.
Pouco espanhol. É preciso prestar atenção à Quinzena de Realizadores para encontrar o único longa espanhol. Un Día Perfecto, de Fernando León, que mostra as desventuras de um grupo de voluntários na guerra dos Balcãs em meados dos anos noventa com um elenco internacional: Benicio del Toro, Tim Robbins, Olga Kurylenko e Mélanie Thierry. Nessa mesma sessão será exibido o curta Puebla, de Elena López Riera e Rossy de Palma faz parte do júri. Em Cinéfondation, destinado às escolas de cinema, pela primeira vez um filme espanhol participa, ‘Vitor XX’, de Ian Garrido, vindo da ESCAC. E dois projetos espanhóis participam do Atélier, de Alberto Morais e Meritxell Colell.
Pai e filho. É difícil encontrar dois diretores pai e filho, ainda mais em Cannes. O veterano Philip Garrel com L’Ombre Des Femmes, e seu filho Louis, ator muito famoso na França que estreia como diretor de longas com Les Deux Amis, conseguiram o feito.
E dois irmãos. Pela primeira vez, dois irmãos presidem o júri. Joel e Ethan Coen, indissociáveis, lideram um grupo muito heterogêneo no qual sobressaem-se nomes como os de Xavier Dolan, Guillermo del Toro, a já mencionada Rossy de Palma, Sienna Miller, Jake Gyllenhaal e Sophie Marceau. Se pode nos servir como amostra, a atriz Frances McDormand, esposa de Joel, afirmou no ano em que ela presidiu o júri de San Sebastián que prefere premiar trabalhos bem diferentes dos quais ela protagoniza.
Dois franco-atiradores. Barbet Schroeder e Woody Allen voltaram com tudo, de modo que quando participam de Cannes nem entram na competição. Eles apresentam o filme, e ponto. Schroeder esteve em Ibiza ilustrando a revolução da música eletrônica dos anos noventa com Amnesia; e Allen utiliza novamente Emma Stone, antagonista de Joaquin Phoenix em Irrational Man.
Dois documentários sobre astros já falecidos. Buscando no cinema vérité, é possível encontrar Amy, a reconstrução da vida da cantora Amy Winehouse realizado por Asif Kapadia (Senna) ou Steve McQueen: the man & Le Mans, que repassa as paixões do mítico ator promovido por seu filho.
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