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Tribuna
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Brasileiros contra a guerra política

Nos momentos de crise, os verdadeiros estadistas devem proteger a convivência em vez de usar um discurso bélico

Juan Arias

Quando o Partido dos Trabalhadores (PT), em documentos recentes, fala de “reconquistar a rua” e convoca seus militantes com slogans de “guerra”, não está fazendo um favor para a democracia nem para um diálogo que abrace todos os brasileiros, muito menos em um momento delicado como este para o país.

Os termos de reconquista e os slogans bélicos soam obsoletos hoje, sobretudo para os jovens que, com a globalização e o colapso de velhas categorias políticas, dialogam com diferentes culturas e ideias.

Quando o PT lança seu slogan para apropriar-se novamente da rua, está insinuando que a rua era sua, propriedade privada, a única com voz política autorizada a falar. A rua, no entanto, é de todos, não tem dono.

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Quando um partido convoca seus militantes com vocabulário de guerra, retrocede a um discurso de “nós contra eles”, em vez de se colocar como um representante do diálogo e de uma reconciliação entre todos os cidadãos que, antes de serem de esquerda ou de direita, se sentem, com orgulho, simplesmente brasileiros.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi criticado por ter alertado os membros de seu partido a não pedir o impeachment de Dilma, sem fatos concretos que confirmem sua suposta culpa.

No entanto, nos momentos de crise política ou social de um país, os verdadeiros estadistas não devem jogar lenha na fogueira. Devem ser mais prudentes do que os ativistas para lembrar, no calor da luta política, que não se pode nunca perder de vista os valores da convivência civil.

Não existe rico ou pobre, progressista ou conservador, socialista ou liberal que não deseje ver este país crescendo de novo, em paz, admirado fora de suas fronteiras, com menos violência e desigualdades.

Nada mais prejudicial para a simples convivência pacífica do que incitar as pessoas a um confronto que divide em vez de unir, algo que serve para todos os partidos.

Dias atrás, o acadêmico progressista Zuenir Ventura destacava com amargura e apreensão, em sua coluna no jornal O Globo, que há muitos anos não notava, inclusive entre amigos de longa data, tanta animosidade devido ao clima de guerra política que está se intensificando no país.

E isso é mais grave quando se pensa que, fora do Brasil, os brasileiros são lembrados como uma nação que nunca amou a guerra, e que sempre manteve (apesar de ser um país-continente) forte tradição unitária como povo.

Poderia parecer um paradoxo, mas, apesar de o Brasil ser hoje um dos países com os maiores índices de violência do mundo, os brasileiros não carregam em seu DNA o gosto pela briga.

Com ódio e divisões vive-se mal, o crescimento é baixo, e cria-se mais pobreza. Nos confrontos puramente ideológicos, há retrocesso em vez de avanço. Todos acabam, no final, afogados na amargura da derrota.

A verdadeira batalha democrática dos partidos não pode ser a de querer vencer a qualquer custo como nas guerras, mas a busca, sem perder a própria identidade, da pacífica convicção nacional.

Nas ditaduras existe a ordem, imposta pela força. Por outro lado, nas democracias prevalece a liberdade de pensamento e de expressão. É possível ganhar guerras políticas sem humilhar os vencidos, para não deixar, depois da vitória, um rastro de ódio e ressentimento.

A paz, ao contrário da ordem, não pode ser imposta nem conquistada, simplesmente abraçada. E, nesse abraço, que não anula divergência políticas nem sociais, não cabe a pretensão de querer exterminar o diferente.

A paz se consegue caminhando juntos na diversidade, melhor em caravana, com cada um levando em sua mochila o melhor de si, sem excomungar ninguém por suas preferências políticas ou religiosas.

A guerra capaz de fortalecer a convivência entre diferentes é a única que vale a pena ganhar.

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