Quanto pior para eles, melhor para todos nós
Se o preço do melhor for passar pelo pior, como no caso do Plano Real, que venha o cataclismo
Reduzir a maioridade penal não resolve o problema da violência. Regulamentar a terceirização não soluciona as questões trabalhistas e limitar por projeto de lei o número dos ministérios não garante austeridade ou menos corrupção a um Governo. Cada um desses remendos pode no máximo, se bem executado, contribuir para alcançar os objetivos em que se baseiam seus defensores.
Eu sei, é difícil não acreditar em mágica depois que um governo, mexendo em um zero aqui, outro ali, magicamente "tirou" (aspas infinitas) milhões da miséria. Mas não tem atalho. Se o Estado pode fazer alguma coisa para melhorar segurança, emprego e gasto público, é evoluir, modernizar-se, adequar-se, e isso só é possível por meio de reformas constantes, pensadas, planejadas e expostas de forma clara. Daquele tipo de decisão política desgastante que os governos só tomam quando empurrados contra a parede, quando não há mais para onde escapar com a retórica vazia dos palanques.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tem criticado aqueles que torcem pelo "quanto pior, melhor". Mas se o preço do melhor for passar pelo pior, como no caso do plano econômico que só veio no Governo improvisado pós-impeachment, há mais de 20 anos, que venha o cataclismo. Seja em forma de impedimento, de renúncia ou simplesmente de sangrenta e prolongada paralisação. Só não dá para continuar a fingir, em nome da ideologia furada que só se materializa da forma mais caricata, que existe indústria no pais, que é seguro andar pelas ruas, que a educação evolui a passos largos e que o mercado de trabalho segue sendo um paraíso getulista.
Receosos por não enxergar alternativas ao atual Governo, os eleitores de Dilma Rousseff se digladiam nas redes sociais com críticos do Palácio do Planalto e do partido da presidenta. A defesa é legítima e se confunde com a reafirmação do valor do próprio voto, mas se esvazia na constatação de que Dilma se elegeu com um discurso e, semanas depois, antes mesmo de seu segundo mandato começar, governou com outro, entregando a economia nas mãos de um outrora temido banqueiro.
É por medo do futuro desconhecido e dos possíveis retrocessos que ele possa trazer que os defensores do Governo desqualificam e debocham das manifestações contra o PT, caricaturando pessoas que, ainda que não saibam verbalizar da maneira mais politicamente correta, querem o mesmo que eles: que o país funcione. Sempre foi por isso – e continuará sendo, inevitavelmente – que as pessoas vão sair espontaneamente às ruas.
Que protestem e reclamem, portanto, os coxinhas, os enroladinhos, os pasteis e os croquetes Brasil afora. E, se for o caso de ruptura e mudança, que venha Michel Temer ou Eduardo Cunha ou Aécio Neves ou Jair Bolsonaro ou Ronaldo Caiado ou quem quer que seja, mas que venha acossado, acuado, encurralado; sob pressão o bastante, enfim, para pelo menos se ver forçado a baixar a cabeça e fingir humildade em público. Quanto pior para eles, melhor para todos nós.
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