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ANÍBAL FERNÁNDEZ | CHEFE DE GABINETE DO GOVERNO ARGENTINO

“É uma estupidez sem sentido dizer que o Governo o matou”

O porta-voz do gabinete de Cristina Kirchner afirma que o 'caso Nisman' é um assunto judicial e não uma batalha política

C. E. C.
Aníbal Fernández, em fevereiro de 2012 na Casa Rosada.
Aníbal Fernández, em fevereiro de 2012 na Casa Rosada.M. Brindicci (REUTERS)

Aníbal Fernández (58 anos) é a voz do Governo de Cristina Kirchner. Polemista e político de longa carreira, é presidente do time de sua cidade, Quilmes, algo frequente em um país onde futebol e política se misturam.

Pergunta. O promotor Nisman foi assassinado, como inicialmente apontou a presidenta, ou se matou?

Resposta. O Governo não fala disso, não faz sentido porque é uma questão técnica, não temos os dados.

P. A lentidão da investigação preocupa?

R. Certamente está lenta, hoje [ontem] completam-se três meses. Demorou muito a avançar, deveríamos ter mais coisas a esta altura, mas acreditamos que pode avançar a partir de agora.

P. Três meses depois, não há mais confusão que no primeiro dia?

R. Bem, já avançamos: conhece-se a arma, a promotora disse que o corpo não foi arrastado, que não foi forçado. Mas ainda não se chegou a uma conclusão.

P. Você criticou a promotora e disse que a mãe de Nisman deveria ter sido detida.

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R. E mantenho o que disse. O Governo pode expressar sua opinião, mesmo que não esteja no caso. A Corte da Argentina já disse que se pode abrir um debate sobre os casos em andamento, e o Governo participa desse debate. A investigação vai avançando, mas precisamos que se concretize logo.

P. Mas há uma questão política por trás, o Executivo não sofre mais o estrago que enfrentou de início.

R. O caso Nisman é uma questão judicial, não há uma questão política neste caso.

P. No entanto a maioria dos argentinos acredita que Nisman foi assassinado e alguns até pensam que o Governo está por trás.

R. É uma estupidez sem sentido dizer que o Governo o matou. Nenhum analista diz isso. Ninguém está nisso. Estamos exigindo a verdade, o Governo não está na jogada. Agora mesmo estão discutindo a ex-esposa de Nisman e Lagormasino [o técnico de informática que lhe deu a arma] que era o sujeito que trabalhava com ele e que saía com ele para procurar mulheres e que agora diz que dava metade de seu salário a Nisman. O Governo não tem nada a ver com isso.

P. Mas há suspeitas de envolvimento de pessoas do serviço secreto, vocês apontaram para Stiusso (homem forte da espionagem argentina até dezembro).

R. Stiusso foi um homem que estava no serviço secreto, mas foi demitido por este Governo. É possível que saiba algo do que aconteceu. Eu acredito que Nisman, na verdade, era um empregado de Stiusso.

P. Acredita que ele o matou?

R. Eu não posso saber quem o matou ou se foi suicídio, o que digo é que pode saber algo do que aconteceu. A justiça é que tem que determinar. Stiusso saiu do país sem que ninguém o impedisse. Agora a justiça tem que decidir sobre Stiusso e é muito provável que ordene sua detenção.

P. Vocês chamaram Stiusso à Casa Rosada e ele não compareceu. Dizem que está fora do país. Não sabem onde está um personagem chave como ele?

R. Não temos como saber, a lei não nos permite buscá-lo, isto está nas mãos da justiça.

P. A maioria dos argentinos também acredita que nunca se saberá o que aconteceu com Nisman.

R. Estou convencido de que vamos saber o que aconteceu, os peritos estão avançando e logo teremos uma opinião técnica. É a justiça que terá que dar essa explicação.

P. Que imagem a Argentina oferece ao mundo se três meses depois não se sabe quase nada?

R. A imagem é a da investigação. Queremos que se chegue uma solução o mais breve possível, mas assistimos de fora. O artigo 109 da Constituição diz que o presidente não pode arrogar-se o conhecimento de nenhuma causa. A única coisa que podemos fazer é ajudar a justiça.

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