Lula apela a Dilma para que tente barrar aprovação da terceirização
Petista discursa a metalúrgicos assustados com avanço do projeto e incita mobilização
“Não deixar aprovar a lei 4330 é uma questão de honra da classe trabalhadora brasileira.” A frase, dita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura do 9º Congresso Nacional dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), deu o tom do encontro dos trabalhadores dessa categoria nesta terça-feira à noite. Ovacionado por uma sala abarrotada de gente, Lula, que, juntamente com o ator e ativista norte-americano Danny Glover, abriu o Congresso realizado em um grande hotel cinco estrelas ao lado do aeroporto de Guarulhos fez um pedido: “Dilma, por favor, tente fazer com que o Congresso Nacional respeite as conquistas históricas da classe trabalhadora brasileira”.
A aprovação pelo Congresso na semana passada do Projeto de Lei 4330, que trata da terceirização, espalhou medo e insegurança em centenas de trabalhadores. “No chão de fábrica nos perguntam se ficarão sem salário ou se terão o salário reduzido”, diz Paulo Cayres, presidente na Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM). “Essa lei influencia tanto a nossa vida que iremos parar o nosso congresso nesta quarta-feira para realizar uma panfletagem no aeroporto de Guarulhos para conscientizar as pessoas à respeito dela”, disse Cayres.
Ele diz que o primeiro impacto, caso a lei entre em vigor, será nos salários dos trabalhadores. “Porque põe fim às convenções coletivas”, explica. Ele acredita ainda que o projeto trará aos trabalhadores condições de trabalho “análogas à escravidão”. “A experiência que não há relação entre a produtividade e o grau de regulação do trabalhador”, diz Fernando Lopes, secretário-adjunto da Industriall Global Union, federação que representa mais de 50 milhões de trabalhadores, de diferentes categorias, em 140 países. “Os países como o maior índice de trabalhadores terceirizados também são os mais miseráveis porque quando a renda não melhora, isso é danoso para toda a sociedade e não só para a classe trabalhadora.”
Nos corredores do congresso da CNM, comentava-se o clima com que os trabalhadores receberam a notícia da aprovação da PL 4330. “De forma até surpreendente, eles estão revoltados”, contou Stefânio Marques Teles, do Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte, Contagem e região. “Eles não têm o entendimento geral do que a lei trata exatamente, mas entendem que vão tomar parte dos seus salários e arrebentar com os direitos trabalhistas”, diz. Segundo Teles, muitos estão enviando e-mails aos deputados que votaram à favor da lei, cobrando uma posição. “Isso é muito raro. Eles costumam se envolver em uma ou outra questão, mas nunca como dessa vez”.
Para alguns, por outro lado, esse pode ser um bom momento da esquerda se rearticular. “É o momento de a esquerda se aproveitar dessa situação e colocar a cabeça para fora da janela e respirar”, disse Vanderlei Aparecido Strano, metalúrgico de São Carlos, interior de São Paulo.
Danny Glover protesta contra a PL 4330 e chama Lula de “herói”
Um dos convidados de honra da abertura do 9º Congresso Nacional dos Metalúrgicos, o ator e ativista norte-americano Danny Glover, iniciou sua fala prestando homenagem ao escritor uruguaio Eduardo Galeano, que faleceu nesta segunda-feira. "Uma das minhas vozes favoritas da América Latina, e alguém que eu aprecio muito", disse Glover.
Em seguida, recordou que a Organização das Nações Unidas declarou esta, a década da igualdade racial em todo o mundo. “E nós temos que estar sempre presentes com esse tema para poder curar as cicatrizes do nosso povo afrodescendente”.
Entusiasta do ex-presidente Lula, Glover encerrou seu breve discurso reafirmando sua admiração pelo ex-metalúrgico. “Estou muito honrado de estar aqui com o meu herói que eu já conhecia muito antes dele ser presidente e de ele chegar aonde chegou, o nosso querido ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, disse, sob aplausos.
Casado com Eliane Cavalliero, ativista brasileira e professora universitária, Glover é engajado na defesa dos direitos humanos e na igualdade racial.
Segundo Paulo Cayres, os deputados que votaram a favor da lei já estão sofrendo pressão das suas bases, o que pode fazer com que o projeto seja revisto. “Os próprios deputados estão voltando para as suas bases e sendo atacados. O próprio [Eduardo] Cunha [do PMDB, presidente da Câmara] foi vaiado outro dia em São Paulo.”
Como o projeto de lei trata de direitos trabalhistas, algo que vem do Governo Getúlio Vargas, mexer nesse vespeiro pode, de fato, unificar a classe trabalhadora para lutar em torno de um tema no momento de fragilização da esquerda, entre outras coisas, por causa dos desgastes dos governos do PT. “Do ponto de vista da esquerda, essa PL já unificou”, diz Paulo Cayres. “Partidos como o PSOL, PSTU e PT já estão se mobilizando”.
Veta dilma
Passando por todas as instâncias – Congresso e Senado – a última esperança está em a presidenta Dilma Rousseff vetar a lei. Com o Governo fragilizado, é difícil saber se ela tomaria essa posição. Mas se tomasse, poderia ser uma medida que agradaria, finalmente, às suas bases. “Na minha opinião, o mais correto seria a Dilma vetar”, diz Fernando Lopes. “Isso seria bom pra ela, que devolveria todo o ônus ao Congresso e, principalmente, a Eduardo Cunha”.
Convocado por partidos políticos da esquerda, sindicatos e centrais de trabalhadores de diversas categorias, um ato está marcado para esta quarta-feira, dia 15, contra a lei da terceirização, em todo o país. Intitulado Dia Nacional de Lutas.
“É um dia muito importante”, disse Vagner Freitas, presidente da CUT. “Por conta da nossa pressão, o Eduardo Cunha já amarelou e não quis votar hoje [terça-feira] o projeto”, afirmou, convocando os trabalhadores para uma paralisação às 15h em frente à Fiesp na Avenida Paulista, e depois, às 18h no Largo da Batata, na zona oeste da cidade de São Paulo.
Lula: "Esse pessimismo não é do Brasil. É de São Paulo"
Em discurso de quase uma hora de duração, o ex-presidente Lula defendeu a presidenta Dilma, a Petrobras, o trabalho do combate de Governo à corrupção e afirmou que grande parte da culpa pelo momento de recessão econômica do país é do pessimismo. “Eu nunca vi na minha vida tanto pessimismo”, disse. “A gente não vai construir uma nação com tanto pessimismo assim”.
O ex-presidente responsabilizou a imprensa pelo clima negativo. “Não sei se no mundo a imprensa gosta tanto de ser negativa assim. Mas aqui, se não tiver desgraça, não sai [a notícia]”, afirmou. Para Lula, o pessimismo ocorre, em maior parte, em São Paulo, Estado que menos votou no PT nas últimas eleições. “Esse pessimismo não é do Brasil. É de São Paulo”.
Se sentindo em casa, já que discursava para um público formado apenas por metalúrgicos, eleitores do PT, Lula aproveitou para defender e reafirmar a sua confiança na presidenta Dilma Rousseff. “Nunca este país teve uma mulher séria como a Dilma que combateu tanto a corrupção como a Dilma”, disse.
“A Dilma faz parte de um projeto. Nós fazemos parte de um projeto. Se esse projeto não der certo pra Dilma, não dará certo para nós”, afirmou. “Companheira Dilma, eu queria te dizer uma coisa: se ter gente que vai pra rua pra te defender e te ajudar a sair dessa enrascada, é essa gente aqui, ó”, e apontou para a plateia, sob aplausos.
E, da mesma maneira, defendeu o PT. “Vamos parar de criminalizar esse partido, porque esse partido não é um ou dois deputados. Esse partido é muito mais gente.”
Segundo o ex-presidente, os ajustes fiscais e econômicos que vem sendo anunciados pelo Governo são naturais. “Quem nunca aqui teve que fazer um ajuste na sua casa?”.
Lula iniciou seu discurso falando sobre a retirada de Cuba da lista dos países terroristas dos EUA. “O dia de hoje é um dia especial. É um dia feliz para nós companheiros que amamos a democracia, porque quando Obama foi eleito presidente da República, eu sentia que alguma coisa estava mudando no mundo e nos EUA. Quando eu vi os EUA votar em um negro para presidente, eu pensei ‘alguma coisa está mudando de verdade no planeta terra’”.
“Assinar o documento tirando Cuba do caminho do terrorismo é pouco porque acreditamos que não há nenhuma razão para continuar com o embargo de Cuba, porque não existe povo mais honesto que o povo cubano.”
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