Prisioneiro político venezuelano Rodolfo González é encontrado morto
Conhecido como ‘O Aviador’, tinha 64 anos e foi acusado de organizar protestos em 2014
Na semana em que tanto o Parlamento Europeu como os Estados Unidos e a Espanha (na sexta-feira, por meio do presidente Rajoy) exigiram a libertação dos presos políticos na Venezuela, um deles foi encontrado morto na prisão. Chamava-se Rodolfo González e tinha 64 anos. A polícia venezuelana o conhecia pelo apelido de ‘O Aviador’, porque era dono de uma agência de viagens. Estava preso desde abril de 2014, acusado de coordenar a logística dos protestos acontecidos no país entre fevereiro e junho de 2014, que tiveram 43 mortes, 800 feridos e mais de 3.000 prisões, fatos pelos quais o Governo também mandou para a prisão Leopoldo López, um dos líderes da oposição.
A notícia da morte do González foi confirmada na sexta-feira por uma de suas filhas, Lissette, por meio de sua conta do Twitter. Rodolfo González poderia sair da cadeia nos próximos dias para cumprir prisão domiciliar, mas os guardas da sede principal do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) lhe disseram que seria transferido para a prisão de Yare, perto de Caracas, uma das penitenciárias mais perigosas do país — as prisões da Venezuela figuram entre as piores da América. Sua família não tinha conhecimento dessa medida.
González havia insinuado várias vezes que poderia acabar com a própria vida caso permanecesse muitos anos na prisão. Sua filha Lissette afirmou ao EL PAÍS que a partir da quarta-feira, depois que uma equipe do Ministério de Serviços Penitenciários visitou os prisioneiros, González mostrou-se muito mais preocupado porque a mudança parecia iminente. “Nós pensamos que meu pai se suicidou porque estava muito ansioso, mais que de costume, com essa situação”, afirmou Lissette por telefone.
Gonzalo Himiob, representante da ONG Foro Penal, afirmou que desde quinta-feira, sem o conhecimento da defesa e sem autorização do tribunal, o Ministério de Serviços Penitenciários preparava a transferência dos 20 estudantes presos nas instalações da polícia política. “Aparentemente esse processo foi paralisado pela morte de González”, afirmou o advogado também por telefone.
A organização calcula que 102 pessoas cumprem pena ou estão sendo processadas por casos relacionados com a violência política na Venezuela atualmente. Em alguns desses processos judiciais as sentenças foram pronunciadas com base em provas duvidosas. Nos julgamentos que estão em curso, como o do líder opositor Leopoldo López, nem sequer foi permitido que a defesa apresentasse suas testemunhas. Por todas essas razões, a oposição venezuelana afirma que essas 102 pessoas são prisioneiras do regime. O Governo não reconhece a existência de presos políticos e afirma, mediante um jogo e palavras, que na realidade mantém políticos presos.
A audiência preliminar de González terminou há quatro meses, mas ainda não havia sido designado o tribunal que levaria a cabo o julgamento. Sua esposa, Josefina, também foi indiciada, mas devia se apresentar a cada 30 dias. Como é norma no sistema judicial da Venezuela, havia um atraso importante que minou os ânimos de Rodolfo González. Sua filha comentou que a única prova que tinham para acusá-lo de ser o organizador dos protestos era uma declaração anônima. “Meu pai colaborava com os manifestantes, mas de modo algum tinha capacidade para coordená-los. Ajudava-os como qualquer outro vizinho”, afirma. No jargão chavista, esses anônimos são conhecidos como “patriotas cooperantes”.
O Ministério Público atribuiu à promotora da 22ª Vara Nacional, Raiza Sifontes, a realização das investigações. Durante a manhã da sexta-feira, nenhuma autoridade oficial se pronunciou. Quem se manifestou, mas num sentido mais amplo e de fora da Venezuela, foi o presidente do Governo da Espanha, Mariano Rajoy. Depois de ter se reunido com a esposa do prefeito da Grande Caracas, Antonio Ledezma, que está preso, Rajoy se pronunciou no Twitter a favor da libertação do dirigente opositor. “Solidariedade com os venezuelanos e com Mitzy, esposa do prefeito Ledezma. Liberdade”.
Essa declaração foi feita depois que o Parlamento Europeu exigiu do presidente Nicolás Maduro que liberte imediatamente todos os líderes políticos, estudantes e manifestantes presos contrários ao Governo “que foram castigados arbitrariamente e sem fundamento legal”. A exigência foi avalizada por uma resolução conjunta dos quatro principais grupos da Eurocâmara, na qual não se incluíram sanções à Venezuela.
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