Radicalização na Venezuela
A tensão no país de Nicolas Maduro vai crescer daqui até as eleições no final do ano
O oficialismo chama de aprofundamento revolucionário e a oposição, de repressão, mas seu ponto de encontro é a radicalização do sistema, com severas limitações de liberdades, cujo último evento foi a detenção de Antonio Ledezma, prefeito de Caracas, acusado de golpista ativo. Nem neste caso, nem no de Leopoldo López, que já cumpre um ano na prisão, foram apresentadas provas além das frequentes desclassificações que o presidente Maduro profere contra eles. Por que esta aceleração do autoritarismo chavista?
Uma data pode ser a destituição, em outubro passado, do general Miguel Rodríguez Torres como ministro do Interior, com a qual o presidente parecia se afastar da fórmula “cívico-militar” para apoiar-se principalmente no partido (PSUV), ao mesmo tempo em que dava mais espaço aos coletivos de esquerda como Marea Socialista e a Frente Francisco de Miranda. Em dezembro mandava Rafael Ramírez para a ONU, o suposto contato com o capitalismo internacional, que já havia perdido a presidência da PDVSA, o antigo maná petroleiro, para ocupar o posto inócuo de ministro de Relações Exteriores, já que a política exterior é feita pelo próprio Maduro através de declarações, normalmente acusado o “imperialismo” de querer derrubá-lo. No ano passado, também aconteceu a venda do grande jornal de Caracas, El Universal para uma entidade ou pessoa desconhecida, mas que significou o fim das críticas, e na próxima semana desaparecerá das bancas Tal Cual, o jornal do intelectual da oposição Teodoro Petkoff.
O chavismo já estava tentando, há tempos, moldar o futuro com a aplicação do que considera o remédio de seus adversários capitalistas: a compra e colonização dos organismos intermediários da sociedade para que, chegada a data eleitoral, dezembro como limite, a situação seja ainda mais difícil para a oposição. Este podia ser a base do plano, mas a inflação, a escassez, a insegurança e uma política de atirar no escuro, como a intervenção de uma rede de supermercados para combater os monopólios, reduziu drasticamente, segundo as pesquisas, a popularidade presidencial.
Essa radicalização venezuelana amplia-se igualmente com protestos de parte da opinião pública latino-americana, além de ser incômoda para Governos e instituições. O Brasil e o Chile, de esquerda, e a Colômbia, de direita, limitam-se a pedir respeito e diálogo, porque ninguém quer, por seus próprios motivos, afastar-se de Caracas; e a própria Unasul, muito longe de ser uma força de atuação rápida, só pode convocar reuniões ministeriais de mero apaziguamento. E as ondas podem chegar até Podemos, que o chavismo considera um filho ilegítimo, mas que não se sente confortável com os acontecimentos.
Maduro repete incessantemente que havia uma tentativa de golpe em marcha e, embora Washington possa favorecer a desestabilização — o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper fala de “ingerências estrangeiras” — os golpes não acontecem sem a anuência ativa do Exército. O presidente venezuelano desconfia de seus chefes e comandantes intermediários? Enquanto isso, a via do diálogo, que todos aconselham, sofre com uma tensão que só vai crescer daqui até as eleições do fim do ano.
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