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PMDB conta com um ‘círculo virtuoso’ no Rio de Janeiro

PMDB tem a prefeitura da capital fluminense e está no governo estadual há 11 anos Partido também compõe maioria no Legislativo

Gil Alessi
Cabral, Pezão e Cunha em convenção do PMDB no Rio.
Cabral, Pezão e Cunha em convenção do PMDB no Rio.Divulgação (PMDB)

Existe um Estado brasileiro onde um mesmo partido está no comando do Governo, da prefeitura e das presidências da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal — além de ter as maiores bancadas nas duas casas. É um Estado onde os principais partidos políticos do país, como o PT e o PSDB, não apitam, porque são nanicos. Este é o Rio de Janeiro do PMDB, ou ‘peemedebebistão’.

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A origem do sucesso fluminense do partido, fundado em 1980 como sucessor do Movimento Democrático Brasileiro (MDB, legenda de oposição ao regime militar), está em uma aliança selada em 2006. Naquele ano, o então candidato ao governo Sérgio Cabral disputava o segundo turno das eleições para o Estado, e costurou um acordo com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi aí que teve início o processo chamado pelos especialistas de ‘círculo virtuoso fluminense’: “Tivemos até 2006 vários governantes que se opuseram ao Governo federal. César Maia, Anthony Garotinho e Leonel Brizola [morto em 21 de junho de 2004]. E isso inibia bastante o recebimento de recursos federais voluntários, oferecidos por convênios. Em 2005, o Rio era o penúltimo Estado do país em termos de recebimento de recursos federais voluntários”, diz o cientista político Geraldo Tadeu Moreira Monteiro, diretor do Centro de Pesquisas e Ensino de Pós-graduação em Ciências Sociais da Faculdade Cândido Mendes (Iuperj). A partir de 2007, o cenário mudou radicalmente, com investimentos massivos do governo Lula no Estado, Olimpíadas, recursos para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um boom na indústria do petróleo e a final da Copa do Mundo.

O resultado foi um crescimento econômico acima da média nacional no Estado, que hoje tem a menor taxa de desemprego do país. “O eleitor em geral é muito pragmático. Se há crescimento econômico e melhorias na infraestrutura, para ele está ótimo. Se não, vota na oposição. Considerações éticas e ideológicas ficam para o eleitor mais intelectualizado”, afirma o cientista político.

O caso do ex-governador Sérgio Cabral é um emblema deste pragmatismo do eleitor. Imerso em denúncias de favorecimento de empresários ligados à construtora Delta (declarada inidônea pela Justiça), e com a popularidade em baixa, ele deixou o cargo em abril de 2014, oito meses antes do término do mandato. Mesmo assim, conseguiu emplacar seu sucessor, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, nas últimas eleições.

O PT, por outro lado, também colheu os frutos da parceria: o Rio de Janeiro foi o único Estado do Sudeste do país a dar maioria de votos para Dilma Rousseff nas eleições de 2014.

Como consequência desse ciclo desenvolvimentista vivido no Estado, o que se viu foi o domínio absoluto da máquina estatal pelo PMDB, que completa em 2015 doze anos à frente do Executivo. O atual governador, Pezão, fica no cargo até 2018. Até a eleição de Rosinha Garotinho (que tomou posse em 2003 e em 2004 deixou o PSB para ingressar no PMDB), o PDT era a força dominante no Estado.

A aliança entre os partidos mudou o perfil da política no Estado. João Feres Júnior, vice-diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), afirma que “até então a política fluminense havia sido marcada historicamente pelo personalismo, por líderes carismáticos, e não por partidos políticos fortes. A parceria com o governo federal inverteu esta lógica”.

Segundo Feres, os ex-governadores usavam o Executivo estadual como trampolim para a presidência, ambição que os quadros atuais não têm, pelo menos em tese — há quem aposte que o prefeito Eduardo Paes pode ser candidato nas próximas eleições. “É claro que tudo pode mudar até 2018, mas o fato é que a parceria com o PT é fundamental para o Rio de Janeiro. Do ponto de vista do Estado, o rompimento seria péssimo, até porque no momento o PMDB não tem candidato viável para o Planalto, e a outra alternativa, o PSDB, ainda é uma legenda muito voltada para São Paulo, que é um Estado gigante e faminto por recursos”.

Eduardo Raposo, Coordenador da Área de Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), afirma que o partido se especializou em oferecer maiorias para o jogo político parlamentar: “O PMDB é perito em blindar presidentes, mas ele não tem nenhum nome importante em âmbito nacional. Então ele aposta em outros partidos, mas ganha ministérios, a vice-presidência, a Câmara e o Senado [o PMDB tem a presidência das duas casas do Congresso Nacional]”.

‘Nanicos’

O Rio tem ainda outra particularidade. Em geral, no país, há um polo liderado pelo PSDB e um liderado pelo PT, com outros partidos médios gravitando em volta deles. “Aqui os dois são nanicos”, afirma Monteiro. Segundo o cientista político, no Estado o PMDB aglutina um “centrão”, com cerca de 19 partidos. “Destas legendas que apoiam o governo, cerca de 15 estão representados em secretarias ou com cargos de alto escalão. Isso joga a oposição, que é basicamente feita pelo PSOL à esquerda e pelo PR à direita, para as franjas do sistema político”, explica.

Para ele, a natureza do PMDB, tanto no Brasil como no Rio, é a de uma federação de lideranças que se acomoda em um ‘condomínio de poder’, que por sua vez acolhe a todos, e assim, o partido não tem um 'dono', como é o caso do PT de Lula, ou o PSDB de Fernando Henrique Cardoso. “Não existe um grande cacique. É óbvio que o vice-presidente Michel Temer, os presidentes da Câmara e do Senado [Eduardo Cunha e Renan Calheiros], o prefeito e o governador do Rio são os maiores expoentes. Mas seus interesses acabam se acomodando”.

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