_
_
_
_
_

Aliado à esquerda e à direita, PMDB deve governar metade do país

Partido do vale-tudo pode comandar 13 dos 27 Estados, além da vice-presidência, se Rousseff for eleita. Mas analistas acreditam que parte dos peemedebistas apoie Marina Silva

Michel Temer (PMDB) posa para foto com militante do PT.
Michel Temer (PMDB) posa para foto com militante do PT.Z. F. (Folhapress)

Se tudo evoluir como as últimas pesquisas eleitorais estão prevendo, o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) vai governar quase a metade do país. Dos 27 Estados brasileiros, 13 estarão nas mãos do partido, fundado em 1966. Nove Estados podem ter um governador ‘puro sangue’ do PMDB: Espírito Santo, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Amazonas, Tocantins, Pará e Rondônia. Em outros quatro, a legenda entra como coligada dos partidos que estão em primeiro: Santa Catarina, Minas Gerais, Amapá e Bahia. Nas alianças, o PMDB se junta ao DEM, partido de direita, para o Governo baiano, ao PSD que é de centro-direita, em Santa Catarina, e o PT e ao PDT, de esquerda e centro-esquerda, em Minas Gerais e no Amapá, respectivamente.

Se sair vitorioso em todos os pleitos, o PMDB governará, direta ou indiretamente, quase 77 milhões de brasileiros. O maior partido do Brasil por número de filiados - são 2,3 milhões de pessoas no total - tem também a maior bancada no Senado, 19 senadores, e a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, com 72 deputados federais, atrás apenas do PT, que soma 88. Além disso, o PMDB consegue ter uma cobertura nacional se aliando com todos os partidos em nível municipal e estadual, sem distinção de posição ou ideologia.

Atualmente, o partido está em evidência depois que o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, fez uma delação premiada para relatar os desvios de dinheiro e pagamento de propinas que aconteciam na estatal. Segundo a revista Veja, vários nomes do partido podem estar envolvidos. Mas nada abala o partido, diante do poder que detém. Segundo Carlos Pereira, cientista político da Universidade Getúlio Vargas do Rio Janeiro, é melhor ter o PMDB na aliança do que precisar dele depois. “É possível governar sem o PMDB, mas os custos são muito altos”, diz. “Quando se faz uma coalizão mais ampla, ela parece mais cara, mas no agregado é mais barata. Imagine se a cada coisa que o presidente mandar ao Congresso, ele tiver que construir a maioria na bancada [para votar a favor]”, explica. “Por isso, pode ser mais barato governar com o PMDB do que sem o PMDB”.

O partido, porém, convive com várias correntes internas. Uma delas, por exemplo, está ao lado de Dilma. Outra, era partidária a apoiar Aécio Neves, do PSDB. E outra, o PSB, de Marina Silva. O então candidato Eduardo Campos dizia que em seu governo, o PMDB seria oposição. A referência, contudo, era dirigida à ala do PMDB do senador José Sarney, do Maranhão. “Todo mundo sabe que esse PMDB está com o pé em duas canoas. A única canoa em que ele não bota o pé é na nossa porque a nossa canoa é da renovação política”, disse Campos, ressaltando ser o primeiro candidato “em 50 anos” a se posicionar dessa forma no Brasil.

Mas o PMDB do Rio Grande do Sul, por exemplo, já havia fechado apoio a Campos poucos dias antes dele morrer. Marina Silva também tem citado, ao longo da campanha, o senador gaúcho Pedro Simon com um dos nomes qualificados do partido com quem gostaria de governar.

Simon faz parte da ala mais à esquerda do PMDB. Recentemente, em entrevista à Agência Estado, o senador afirmou que deixaria a vida pública por “decepção”, e foi duro na crítica ao partido no qual se sente isolado. “O mal no Brasil hoje é esse sistema de ter 30 partidos vazios de conteúdo, votando com o Governo para ganhar um cargo aqui e outro ali. E o [P]MDB, maior partido do Brasil, ao invés de se rebelar, de ter uma palavra firme, também fica brigando por mais um ministério. O partido perdeu a consciência”, disse ele em junho deste ano, antes da reviravolta com a morte de Campos. Depois, Simon voltou atrás e decidiu concorrer novamente ao Senado.

Agora, as peças estão posicionadas de outra maneira no tabuleiro eleitoral, e, mesmo apoiando o PT oficialmente na aliança nacional, pode ser que o PMDB rache e uma parte do partido corra para o lado de Marina Silva no segundo turno. O mesmo que apoiava Aécio Neves até ele cair nas pesquisas. "O PMDB é um partido pragmático. Não teria problemas em se reposicionar e integrar a base de Marina", disse o deputado Saraiva Felipe (PMDB-MG), em entrevista recente à Agência Estado.

“Depende do valor da barganha, como a própria história do partido deixa claro”, diz Fabio Wanderley, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Um partido que não sai do governo

O PMDB nasceu em 1966, dois anos após o golpe militar, primeiramente chamado de MDB, como oposição à Arena (Aliança Renovadora Nacional, partido conservador que surgiu para dar suporte ao governo militar recém-instituído) e teve um importante papel na luta partidária contra a ditadura.

Com a volta da democracia, lançou Ulysses Guimarães nas primeiras eleições diretas para presidente, em 1989. Guimarães ficou em 7º lugar, com pouco mais que três milhões de votos. Nas eleições seguintes, em 1994, o partido lançou Orestes Quércia, que ficou em quarto lugar. Desde então, a legenda decidiu participar como aliado dos governos da vez: os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, os dois de Lula, e agora, com Dilma, com a presença do vice Michel Temer. “Quando o PMDB tentou voo solo, o resultado foi muito ruim, então o partido aprendeu a fazer parte do Governo, mas sem ser a cabeça dele”, explica Pereira.

A aliança com o PMDB significa inclinar-se para o centro. O que não é de todo mal, avalia Pereira. “Em governos conservadores, o PMDB evita saídas conservadoras, assim como em governos de esquerda, onde ele evita posições extremistas”, explica Pereira. “A existência de um partido como o PMDB que funciona como uma balança tem o papel de moderar e isso é positivo em um país continental e fragmentado como o nosso”, diz.

Wanderley, da UFMG, tem outra opinião. “O PMDB é uma clara indicação do que há de precário na estrutura partidária do país”, diz. “Conquistar o PMDB significa ganhar um aliado para o Congresso, mas um aliado precário, que está sempre disposto a barganhar uma posição melhor”.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_