Oposição venezuelana priorizará eleição legislativa, e não protestos
Prisão do prefeito Antonio Ledezma não provoca mudanças na estratégia da oposição Ela aposta numa reviravolta eleitoral graças ao descontentamento da população
Com a detenção e envio para a prisão dos dirigentes oposicionistas Leopoldo López e Antonio Ledezma, a ala que propõe desde fevereiro de 2014 o fim imediato da Presidência de Nicolás Maduro está sendo degolada. Do grupo de líderes que na ocasião encabeçaram a tomada das principais cidades só resta em liberdade a ex-deputada María Corina Machado, cuja equipe teme que tenha sorte semelhante à de seus companheiros de estratégia nos próximos dias. "A Saída", como foi batizado o plano que pretendia encerrar de maneira antecipada os dias de Maduro no Governo da Venezuela, sofreu contratempos que minaram a disposição de seus seguidores de se medirem com o regime nas ruas.
Entre a facção opositora menos afeita a convocar manifestações –representada pelo pleno da Mesa de la Unidad (MUD), a coalizão de partidos políticos opositores- aumentou a sensação de que não é a hora de desviar de sua estratégia: aproveitar o descontentamento generalizado entre os venezuelanos por causa da crise do modelo econômico chavista –um capitalismo de Estado estalinista, como o definiu Felipe Pérez, ex-ministro das Finanças de Hugo Chávez- para acumular força eleitoral e tentar controlar pela primeira vez em 16 anos o Legislativo. As eleições para renovar o Parlamento nacional serão realizadas no segundo semestre do ano, e hoje a oposição, segundo as pesquisas de opinião, parece com mais chance de ficar com a maioria. Tradicionalmente, as eleições ocorrem em dezembro, mas um decreto das autoridades eleitorais podem antecipá-la. Não seria a primeira vez.
O chavismo controla o Conselho Nacional Eleitoral e pode manobrar para criar uma regra eleitoral que lhe permita, como em 2010, conseguir mais deputados, apesar de somar menos votos. Pode, por exemplo, aumentar o número de parlamentares eleitos nos municípios da província mais remota, onde seu apoio é sólido. São especulações dos analistas, mas não diminuem o entusiasmo da liderança opositora em infligir uma derrota histórica, esmagadora, à situação.
O chavismo controla o Conselho Nacional Eleitoral e pode manobrar para criar uma regra eleitoral que lhe permita, como em 2010, conseguir mais deputados, apesar de somar menos votos
A MUD cerrou fileiras com o prefeito Ledezma, sem perder seu Norte. Um dia depois de seu envio à prisão, o secretário da aliança, Jesús Torrealba, anunciou que em 3 de maio serão convocadas eleições primárias para escolher candidatos unitários para os cargos de deputado. O anúncio não foi recebido totalmente bem pelo grupo da "Saída", mas as divergências não foram tornadas públicas. Dentro da oposição parece que se toma consciência de que é o momento de mostrar coesão política para avançar. "Creio que sejam perfeitamente compatíveis as agendas diferentes que temos. Que não estejamos todos juntos nos mesmos atos não significa que não estejamos remando para o mesmo lado", afirma Roberto Enríquez, presidente do partido social-cristão Copei. "O importante é ganhar a Assembleia Nacional para, a partir dali, propor uma emenda à Constituição que elimine a reeleição contínua e que reduza o período presidencial, o que implicaria na convocação de nova eleição presidencial", acrescenta.
O chavismo, no entanto, tenta levar a oposição ao confronto na rua, onde sempre venceu. Até agora não teve êxito. O que conseguiu provocar é a preocupação da comunidade internacional. Aos isolados pronunciamentos do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, da secretária de Estado adjunta para o Hemisfério Ocidental dos EUA, Roberta Jacobson, e da chancelaria do Brasil, somaram-se o da Organização dos Estados Americanos, que ressaltou o alerta provocado pela forma como foi detida uma autoridade eleita por voto popular, e o da Unasul. Seu secretário-geral, o ex-presidente colombiano Ernesto Samper, anunciou que na próxima semana irá a Caracas uma comissão integrada pelos ministros das Relações Exteriores do Brasil, da Colômbia e do Equador para examinar a situação e conversar com o Governo venezuelano, depois da detenção do prefeito Ledezma.
Esses países participaram das fracassadas conversações entre Executivo e oposição em 2014, que não conseguiram aproximação. Nada indica que desta vez haja outra vontade. À oposição não interessa dar a mão a um Governo que continua empenhado em replicar a experiência comunista do século XX e caminha pela beira do precipício. E o Governo vê como um ato de traição à memória do finado Hugo Chávez qualquer acordo com seus opositores –e muito mais um pacto. Foi o que disse na noite de sábado o próprio Maduro, quando convocou o canal do Estado, Venezolana de Televisión, para saudar Mario Silva, apresentador do programa La Hojilla, em seu regresso à televisão venezuelana. "Nós quebramos o feitiço da traição. Os Estados Unidos e a oligarquia pensavam que eu iria trair as bandeiras de Chávez. Jamais. Nem nesta vida nem nas cem vidas que possam vir."
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