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Política Argentina

Preso suposto testa-de-ferro de vice-presidente da Argentina

Empresário, que teria feito negócios com Boudou, é acusado de lavagem de dinheiro

Alejandro Rebossio
Amado Boudou, em junho.
Amado Boudou, em junho.GUSTAVO AMARELLE (AFP)

O cerco da Justiça sobre o kirchnerismo aumentou depois da expressiva marcha na quarta-feira passada, em Buenos Aires, que teve como objetivo pedir esclarecimentos sobre a misteriosa morte do promotor Alberto Nisman. Na sexta-feira à noite, na província de Mendoza, a polícia prendeu Alejandro Vandenbroele, o suposto testa-de-ferro do vice-presidente da Argentina, Amado Boudou. Ele teria usado meios ilícitos para ficar com uma participação na Ciccone, empresa que imprimia notas de 100 pesos, segundo processo no qual ambos foram acusados. Mas, desta vez, não é a Justiça da Argentina que está contra Boudou, mas a do Uruguai, que pediu a prisão do empresário à Interpol devido à denúncia de lavagem de dinheiro.

Néstor Valetti, juiz que investiga o crime organizado em Montevidéu, quer interrogar Vandenbroele por injeções de fundos suspeitas na empresa holandesa The Old Fund, por intermédio de outra sediada no Uruguai. Vandenbroele comprou a gráfica Ciccone usando a The Old Fund na transação. Em 2012, sua ex-mulher o acusou de ser o suposto testa-de-ferro de Boudou, em uma entrevista ao jornalista Jorge Lanata. A partir de então, começaram as investigações contra o economista que a presidenta da Argentina, a peronista Cristina Kirchner, havia escolhido como candidato a vice-presidente nas eleições de 2011, quando, juntos, conseguiram 54% dos votos.

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Boudou, que então era cogitado como o possível sucessor de Kirchner, viu suas aspirações políticas rapidamente prejudicadas, mas nunca renunciou ao cargo, nem pediu um afastamento. A chefa de Estado sempre o apoiou. Em 2014, o juiz Ariel Lijo indiciou o vice-presidente por supostas negociações incompatíveis com o serviço público e subornos. No processo, Lijo alega que, quando era ministro da Economia de Kirchner, entre 2009 e 2011, Boudou teria elaborado um plano para facilitar o pagamento de impostos pela Ciccone que, assim, poderia quitar suas dívidas com a Fazenda e fechar contratos para imprimir notas de 100 pesos. Também decidiu indiciá-lo porque suspeita que Vandenbroele era realmente seu testa-de-ferro.

Boudou é acusado de suborno no caso que envolve o suposto testa-de-ferro

O indiciamento de Boudou foi confirmado na quinta-feira por um tribunal superior, mas o promotor do caso prevê que o julgamento apenas será iniciado depois das eleições em outubro deste ano, quando o sucessor de Kirchner será eleito. O suposto testa-de-ferro do vice-presidente está preso, mas agora é preciso ver se a Argentina vai extraditá-lo ao Uruguai. O Governo Kirchner tem a última palavra.

O escândalo da gráfica Ciccone, que foi estatizada em 2013, se soma às investigações contra a chefa de Estado. Ao contrário de Boudou, Kirchner não foi citada em nenhum processo. Em janeiro passado, quatro dias antes de morrer, Nisman a denunciou por supostamente acobertar terroristas islâmicos. Na semana passada, o promotor Gerardo Pollicita assumiu o caso e apresentou formalmente a denúncia. Agora resta saber se o juiz responsável pelo caso, Daniel Rafecas, rejeita a denúncia ou decide investigá-la. Juristas de peso acreditam ser difícil provar que a presidenta tenha cometido um crime.

Além disso, o juiz Claudio Bonadio investiga Kirchner, seus dois filhos e sua sobrinha em negócios com o hotel da família, o Hotesur. Neste caso, o hotel teria fechado contratos com o empresário kirchnerista Lázaro Báez, acusado de lavagem de dinheiro.

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