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Tropas ucranianas abandonam cidade estratégica sitiada por separatistas

Soldados ucranianos se retiram da localidade estratégica de Debaltsevo

Militares ucranianos deixam Debaltsevo.Foto: reuters_live | Vídeo: g. g (REUTERS) / reuters-live

O presidente ucraniano, Petró Poroshenko, confirmou nesta quarta-feira que maioria de suas tropas deixou Debaltsevo, estratégica cidade situada entre Donetsk e Lugansk que já está sob o controle dos separatistas. Apesar do cessar-fogo firmado na quinta-feira passada e em vigor desde a meia-noite de sábado, rebeldes e soldados de Kiev continuaram a se enfrentar na região, onde, segundo um líder separatista, o exército ucraniano teria perdido cerca de 3.000 homens.

“As Forças Armadas da Ucrânia e a Guarda Nacional concluíram na manhã desta quarta-feira a operação de retirada ordenada de Debaltsevo. Já saíram 80% das unidades”, declarou Poroshenko no aeroporto de Kiev, antes de viajar para a zona de conflito. Os ucranianos vinham negando que a situação de suas tropas fosse crítica e, poucas horas antes das declarações do presidente, um porta-voz militar tinha insistido que continuassem resistindo nessa cidade chave.

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Poroshenko acrescentou que o restante do efetivo se retiraria em breve e ressaltou que as unidades tinham saído “com todo seu armamento, carros de combate, blindados, peças de artilharia e veículos de transporte”. Os separatistas tinham dito que não permitiriam o recuo das tropas ucranianas a não ser que elas saíssem sem nenhum tipo de arma.

Mas é difícil saber ao certo qual a sorte de milhares de soldados ucranianos, porque os rebeldes negaram que eles tivessem rompido o cerco –e sem fazê-lo, não teriam podido se retirar com seu armamento– e disseram que cerca de 1.000 tinham deposto as armas para poder sair por um corredor aberto pelos rebeldes. Ao mesmo tempo, constatavam que os combates prosseguiam com as forças que continuavam na resistência.

O que está claro é que os separatistas ficaram com a estratégica cidade, vital para restabelecer o transporte na região

Eduard Basurin, vice-comandante das milícias separatistas, disse nesta quarta-feira que 11 localidades da região de Debalstevo tinham caído nas mãos dos rebeldes e afirmou que os soldados tinha se entregado, mas cerca de 3.000 ainda continuavam no cerco. Mais tarde, declarou à imprensa em Donetsk que, segundo estimavam, cerca de 10.000 ucranianos estavam inicialmente cercados, e cerca de 3.000 tinham sido eliminados.

O que está claro é que os separatistas ficaram com a estratégica cidade, vital para restabelecer o transporte (particularmente o ferroviário) entre os bastiões rebeldes de Donetsk e Lugansk. A bandeira da Nova Rússia –união entre as autoproclamadas repúblicas populares pró-russas– tremula no alto de um edifício de nove andares da cidade de Debaltsevo, informou a televisão russa. No local, segundo os separatistas, havia franco-atiradores e observadores que transmitiam dados para rebater a mira da artilharia ucraniana.

Apesar da retirada de Debaltsevo, há confrontos esporádicos entre grupos de militares. O deputado ucraniano Semion Semenchenko, comandante do batalhão de voluntários Donbás, dizia em sua página no Facebook que na tarde da quarta-feira haviam irrompido novos combates durante a retirada das tropas leais a Kiev.

O debate sobre Debaltsevo em Minsk

Mesmo com os acordos de Minsk, obtidos na cúpula dos líderes da Alemanha, da França, da Rússia e da Ucrânia, que preveem em seu primeiro ponto o cessar-fogo incondicional, os rebeldes defendiam que Debaltsevo, por estar sitiada, não ficava na linha de conflito, mas dentro do território controlado por eles. O presidente russo, Vladimir Putin, propôs tratar na capital bielorrussa da maneira de estabelecer uma retirada honrosa das tropas ucranianas, mas seu colega ucraniano insistiu que a situação de suas tropas não era crítica. Na entrevista coletiva que concedeu em Minsk depois da cúpula, Putin advertiu que era provável a continuação dos combates na região de Debatsevo, porque alguns tentariam romper o cerco, enquanto outros se esforçariam para impedi-los. E na quinta-feira, Moscou, lembrando desses fatos, justificou a tomada da cidade estratégica pelos rebeldes.

“A linha real do cessar-fogo passa fora dos limites de Debaltsevo, porque essa área é controlada pelos rebeldes”, declarou na quarta-feira em entrevista coletiva o ministro do Exterior da Rússia, Serguéi Lavrov, que repetiu, como fizera na véspera Putin durante sua visita a Budapeste, que as tropas ucranianas estavam cercadas.

O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, declarou em Riga, antes do início da reunião dos ministros da Defesa da Aliança, que os separatistas usaram armas modernas em Debaltsevo, o que significa que a Rússia, como insiste o Ocidente, apoia militarmente os rebeldes. O Kremlin nega isso e considera que o conflito seja parte da grave crise interna vivida pela Ucrânia. Stoltenberg ressaltou que a situação na região “é muito difícil e fica pior”.

Horas antes que começasse a retirada ucraniana, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, condenou as violações do cessar-fogo na Ucrânia e o bloqueio dos observadores internacionais em uma conversa telefônica com Poroshenko. “O vice-presidente também condenou veementemente a Rússia e os separatistas por bloquearem o acesso a Debaltsevo e dos observadores da OSCE, o que permite aos separatistas que continuem seus ataques à vontade”, informou a Casa Branca em comunicado divulgado nesta quarta-feira. “O vice-presidente e Poroshenko consideram que se a Rússia continua a violar os acordos de Minsk, inclusive o mais recente, firmado em 12 de fevereiro, os custos para a Rússia crescerão”, acrescenta a nota.

Enquanto isso, os separatistas afirmam que, como mostra de boa vontade, começaram a retirada unilateral de seu armamento pesado da área de mais tranquilidade: o Sul, em especial a região das localidades de Yelenovki, Telmanovo e Yasinovataya. Conforme os termos de Minsk, a retirada das armas pesadas deveria começar na quarta-feira e ser concluída no prazo de 14 dias, mas as partes em conflito alertaram que não as retirariam enquanto continuassem os disparos, pelos quais se culpam mutuamente.

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