Petrobras encolhe em meio a persistente queda de ações na Bolsa
Estatal cancela projetos de duas refinarias e redsuz atividades “ao mínimo necessário” Agência de classificação de risco Moody's rebaixa nota para investimento
Já é oficial: a Petrobras, o gigante petroleiro que encheu os brasileiros de orgulho no passado e representava o “futuro” da sétima economia do mundo para o Governo, vai reduzir suas atividades de exploração “ao mínimo necessário” durante alguns anos. Isso foi confirmando na quinta-feira pela controvertida presidenta da empresa, Graça Foster, depois de o Conselho de Administração publicar um balanço atrasado e incompleto do terceiro trimestre de 2014 por não ter conseguido entrar em um acordo sobre o custo real do enorme escândalo de corrupção que invadiu como um tumor aquela que até agora era a maior empresa pública da América Latina (e hoje, segundo a Reuters, é a petroleira mais endividada e menos rentável do mundo).
A companhia afirma, em nota divulgada nesta sexta-feira, que é impossível precisar o valor do ajuste contábil, sendo necessário o calcular por aproximação, dado que “não tem condições de precisar nem o valor nem o período em que ocorreram os pagamentos ilícitos provenientes da corrução”, por estarem “fora dos registros contáveis da empresa”. A Petrobras considerou duas metodologias para avaliar a quantidade: a percentagem média de pagamentos ilícitos (3%, segundo os depoimentos judiciais, que sugere um total de 4 bilhões de reais) e o cálculo do valor justo dos ativos em 52 projetos relacionados com as empresas implicadas, que oferecia uma quantidade de 88 bilhões de reais. A empresa descartou este segundo critério porque “inclui parcelas que não guardam relação com os subornos” e afirma que é, portanto, uma cifra errônea.
Em 2010, a Petrobras valia 380,2 bilhões de reais. Quatro anos depois, vale 2,3 vezes menos: 112 bilhões de reais. À redução de investimentos e à venda de ativos (3 bilhões de dólares) anunciados acrescenta-se a possibilidade de que a empresa atrase o pagamento de dividendos para enfrentar uma redução de créditos. A agência Moody's rebaixou nesta sexta-feira, pela terceira vez em quatro meses, o “rating” global da Petrobras devido a “preocupações sobre investigações de corrupção” derivadas da Operação Lava Jato, que o juiz Sergio Moro comanda em Curitiba.
As ações da companhia chegaram ao nível mais baixo desde o começo de 2003; seu valor de mercado caiu vários bilhões de dólares apenas nesta semana. “A diretriz do Plano de Negócios de 2015 e os próximos anos é o redimensionamento da Petrobras”, afirmou na quinta-feira Graça Foster (que foi ratificada no cargo pela presidenta Dilma Rousseff em dezembro), em referência a fazer investimentos “mais seletivos” e dar ênfase no controle dos níveis de dívida.
A companhia diz trabalhar sem descanso para recuperar a “credibilidade”, criou uma nova Diretoria de Governança e contratou dos escritórios de advocacia para realizar uma investigação interna. A confiança do mercado, enquanto isso, continua fugidia e poderia diminuir ainda mais se a empresa não pagar os dividendos de 2014 no prazo correto, uma possibilidade aventada pelo diretor financeiro Almir Barbassa: “Se uma companhia avalia que há estresse financeiro, existe a possibilidade de que não haja pagamento”.
A companhia não conseguiu obter o dinheiro esperado nos mercados internacionais de capital enquanto luta para apresentar relatórios financeiros que reflitam sua verdadeira situação atual e o custo de amortização total dos contratos corruptos: por exemplo, a compra da refinaria de Pasadena (no Texas, Estados Unidos) em 2006, pela qual pagou um preço 47 vezes superior ao que havia desembolsado dois anos antes, em 2004, a empresa belga Astra Oil. Foster declarou que as perdas por corrupção, estimadas inicialmente em 4 bilhões de reais, poderiam ser maiores e que a investigação poderia levar mais de três anos. O muito provável atraso da publicação do balanço auditado do quarto trimestre de 2014, previsto para abril, requereria a negociação com os credores para evitar um “default”.
Dilma Rousseff, ex-presidenta do Conselho de Administração da Petrobras entre 2003 e 2010, teria ficado “furiosa” com os cálculos preliminares sobre o impacto dos negócios corruptos sobre o caixa da empresa feitos por Graça Foster (88,6 bilhões de reais), segundo revelações anônimas de assessores ao jornal Folha de S. Paulo. Foi precisamente a falta de acordo sobre o impacto real de todos os contratos “sujos” no balanço do terceiro trimestre o que levou a apresentar, à noite, um documento ainda provisório que decepcionou os investidores e fez o preço das ações cair 13% no dia seguinte.
O Governo de Rousseff, que vê segundo mandato começar marcado pelo mesmo caso que prejudicou sua campanha eleitoral, pressiona discreta –mas fortemente– para proteger a saúde econômica das grandes empreiteiras implicadas no caso, independentemente de que os responsáveis sejam castigados. Além das denúncias feitas por algumas dessas empreiteiras de que o próprio Governo era o maior responsável pelo que aconteceu entre 2004 e 2012, o Executivo deve enfrentar as consequências econômicas da crise de sua empresa mais importante: entre elas, o cancelamento de projetos, como os das refinarias Premium I, no Maranhão, e a Premium II, no Ceará, que provocou indignação em ambos os estados e protestos de seus Governos.
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