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Piketty, inspirador do debate sobre as desigualdades, aplaude Obama

“Este discurso vai claramente na direção certa”, diz o economista francês Obama propôs subir os impostos dos ricos e ajudar as classes médias

M. B.
O professor e economista francês Thomas Piketty.
O professor e economista francês Thomas Piketty.SEBASTIÁN SILVA (EFE)

Thomas Piketty, o economista francês que colocou as desigualdades no centro do debate nos Estados Unidos e Europa, aplaudiu nesta quarta-feira o discurso do presidente Barack Obama sobre o Estado da União. Obama concentrou boa parte do discurso nas disparidades de renda e riqueza e na maneira de atenuar isso depois que a primeira economia mundial conseguiu superar uma das piores crises das últimas décadas.

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“Sim, este discurso vai claramente na direção certa”, disse Piketty ao EL PAÍS por e-mail. O economista, autor do best-seller O Capital no Século XXI, elogia, entre as medidas propostas pelo presidente dos EUA, o restabelecimento “de um mínimo impositivo para os mais ricos a fim de investir na educação”.

Não se sabe se Obama leu o livro de Piketty, mas, como apontaram alguns comentaristas nos EUA, suas ideias sobrevoam o discurso do presidente.

Uma das medidas centrais de Obama para reduzir as desigualdades é aumentar os impostos sobre os rendimentos do capital e sobre as heranças. E um dos argumentos centrais do livro de Piketty é que a disparidade entre as remunerações procedentes de investimentos e a acumulação de patrimônio – por meio de heranças, por exemplo – e os ingressos dos assalariados, aumenta as desigualdades.

“A realidade é que o discurso sobre o Estado da União foi muito bom, mas o presidente Obama tem uma ideia para torná-lo ainda melhor: cobrar impostos de Wall Street e dos super-ricos para que o trabalho da classe média seja mais rentável”, escreveu o jornalista Matt O’Brien no The Washinton Post. “É Piketty com sotaque norte-americano.”

A sintonia de Piketty com o democrata Obama contrasta com sua posição contrária à política econômica do presidente francês, o socialista François Hollande. No começo do mês, Piketty rechaçou a Legião de Honra, a máxima condecoração de seu país.

O economista argumentou na época que não corresponde a um Governo decidir o que é honorável. E disse que aqueles que lhe deram o prêmio usariam melhor seu tempo dedicando-se à reativação na França e na Europa.

O sucesso dos Estados Unidos na hora de reativar a economia depois da recessão contrasta com as dificuldades da Europa. Nestes anos, enquanto a União Europeia aplicava políticas de austeridade, o Governo de Obama e o Federal Reserve impulsionavam planos de estímulo fiscais e monetários.

Durante uma visita aos EUA em abril último, Piketty se reuniu com representantes do Governo Obama, como o Secretário do Tesouro, Jacob Lew. Em uma visita posterior, participou em um debate com senadora democrata por Massachusetts, Elizabeth Warren, cabeça mais visível da ala progressista do Partido Democrata e promotora de muitas das ideias que Obama expôs na terça-feira no discurso sobre o Estado da União.

“O presidente Obama disse muito bem: ‘As coisas vão melhor para este país quando todo mundo tem oportunidades, todo mundo contribui com sua parte e todo mundo joga sob as mesmas regras’”, disse Warren em sua página de Facebook depois do discurso. “As famílias precisam de normas que não prejudiquem ninguém em particular. É hora de colocá-las em marcha”.

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