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Estados Unidos

Obama quer emplacar medidas contra a desigualdade no fim do mandato

O presidente mostra a recuperação dos EUA e pede mais impostos sobre os ricos

Marc Bassets
Obama visita um centro infantil em Washington na segunda.
Obama visita um centro infantil em Washington na segunda.J. ERNST (REUTERS)

O presidente Barack Obama, na noite de terça-feira em Washington, vai colocar o combate à desigualdade no centro do debate político dos Estados Unidos. Fortalecido pela recuperação econômica do país, em seu discurso sobre o estado da União o presidente democrata vai propor a elevação dos impostos sobre os mais ricos e outras medidas de redistribuição para favorecer a classe média. As chances de as propostas avançarem no Congresso, dominado pelos republicanos, são poucas. A finalidade é outra. Em primeiro lugar, definir o campo de batalha ideológico antes das eleições presidenciais de 2016. Em segundo, consolidar o legado de Obama como o de um presidente que não apenas arrancou seu país da maior recessão em décadas, como atacou a desigualdade e a falta de oportunidades, uma ameaça ao sonho americano.

O discurso sobre o estado da União, feito diante das duas câmaras do Congresso, é um dos rituais da política norte-americana. O presidente expõe seu programa legislativo e apresenta seu diagnóstico do país. Desta vez Obama vai modificar o ritual: em vez de conservar a expectativa sobre suas propostas até o último dia, ele as vem desfiando uma a uma há semanas.

As propostas mais destacadas são a elevação para 28% do imposto sobre rendimentos de capital para os casais que ganham mais de meio milhão de dólares por ano (1,32 milhão de reais) e uma pressão maior sobre as heranças, além de um imposto sobre os bancos maiores. Em troca, o plano, que permitiria arrecadar 320 bilhões de dólares (849 bilhões de reais) nos próximos dez anos, contempla uma redução dos impostos pagos por famílias trabalhadoras e auxílios para a educação pré-escolar e as aposentadorias.

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As medidas parecem inspiradas por Thomas Piketty, o economista francês autor de O capital no século XXI, um dos sucessos de 2014. Piketty destaca o acúmulo de riqueza por parte do 1% mais rico da população, precisamente o segmento sobre o qual recairiam as medidas de Obama, e o capitalismo patrimonial de herdeiros e grandes proprietários.

A iniciativa de Obama só se entende quando se leva em conta a irrupção da senadora Elizabeth Warren, do Massachusetts. Warren é a cabeça visível da ala populista do Partido Democrata, num país onde a palavra “populismo” não é forçosamente negativa, mas designa o discurso em defesa do povo frente às elites. Warren capta o mal-estar da classe média que não está se beneficiando do crescimento.

Não é a primeira vez que Obama propõe elevar os impostos sobre os mais ricos: esse foi um dos eixos de sua campanha para a reeleição, em 2012. Mas na época o Partido Republicano repudiava esse discurso. A palavra “desigualdade” não fazia parte de seu vocabulário; o termo mágico era “empreendedor”. Tudo muda, e hoje todos querem ser populistas. O estancamento da renda da classe média e a pobreza estão presentes nos discursos de todos os pré-candidatos republicanos à Casa Branca; embora eles discordem das soluções propostas pelo presidente democrata, concordam quanto ao diagnóstico.

Obama chega liberado ao discurso sobre o estado da União, o penúltimo que fará antes de deixar a Casa Branca, em dois anos. O desemprego caiu para 5,6%, o déficit orçamentário se aproxima de 3%, o PIB vem crescendo em ritmo sustentado; a gasolina está no preço mais baixo dos últimos seis anos, e 10 milhões de pessoas sem cobertura de saúde ganharam acesso ao seguro médico, graças à reforma da saúde.

Não é a primeira vez que Barack Obama propõe elevar os impostos sobre os mais ricos

Há um ano, 28% dos norte-americanos estavam satisfeitos com o andamento da economia; hoje, são 41%. Uma pesquisa do The Washington Post e da rede ABC situa a popularidade de Obama em 50%, o nível mais alto em quase dois anos. O presidente, que seus rivais e seus aliados pensaram estar liquidado depois da derrota democrata nas eleições legislativas de novembro passado, enfrenta confiante seu primeiro discurso sobre o estado da União com o Senado e a Câmara dominados pelo Partido Republicano.

Os últimos dois meses vêm sendo os mais ativos da presidência. Com a regularização provisória de milhões de imigrantes não documentados e o início do degelo com Cuba, Obama demonstra que não se resigna a ser um líder com as mãos amarradas, que só aguarda a hora de passar o bastão adiante. Suas mãos estão atadas por um Congresso adverso, mas ele pretende aproveitar a margem de manobra de que dispõe para deixar sua marca.

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