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Promotor acusa Cristina Kirchner de acobertar Irã em atentado

Pedido bloqueio de 66 milhões de reais da presidenta argentina e de membros do Governo

Francisco Peregil
Cristina Kirchner e seu ministro do Exterior, Héctor Timerman, durante a cúpula do Mercosul realizada na cidade argentina de Mendoza, em 2012.
Cristina Kirchner e seu ministro do Exterior, Héctor Timerman, durante a cúpula do Mercosul realizada na cidade argentina de Mendoza, em 2012.ENRIQUE MARCARIAN (REUTERS)

O promotor argentino Alberto Nisman, que investiga desde 2004 o atentado com carro-bomba contra a sede portenha da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), no qual morreram 85 pessoas em 18 de julho de 1994, acusa a presidenta Cristina Kirchner e outros membros do Governo de “decidir, negociar e organizar a impunidade dos foragidos iranianos no caso AMIA” com o propósito de “liberar os acusados e fabricar a inocência do Irã”.

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Vinte anos depois que um carro-bomba explodiu às 9h05 em frente à sede da associação judaica no bairro Once, ainda não foi esclarecido quem foram os culpados do atentado mais sangrento contra a comunidade judaica desde a II Guerra Mundial, embora as investigações em Buenos Aires tenham apontado para o Irã. Depois de vários anos de investigação, a Justiça argentina emitiu em 2006 ordem de captura contra o ex-ministro da Defesa do Irã Ahmad Vahidi; o ex-ministro iraniano da Comunicação Alí Fallahijan; o ex-assessor do Governo Mohsen Rezai; o ex-adido da embaixada do Irã em Buenos Aires Moshen Rabbani; o ex-funcionario diplomático Ahmad Reza Ashgari, e o libanês Imad Fayez. Em março de 2007, a Interpol inseriu os seis altos funcionários sob alerta vermelho, o que significa busca e captura.

A investigação parecia num beco sem saída, até que no último domingo de janeiro de 2013 Cristina Kirchner publicou 19 tuítes em que mencionava dez vezes a palavra “histórico” para anunciar a assinatura de um acordo com o Irã pelo qual seria criada uma “Comissão da Verdade” integrada por juristas internacionais para esclarecer a responsabilidade pelo atentado. Aquele princípio de acordo foi rejeitado pelas principais associações judaicas da Argentina, que temiam que assiná-lo levaria à suspensão das ordens de busca da Interpol.

O promotor Nisman afirma que o acordo não foi o início de nada, e sim “a culminação de uma manobra criminosa que estava havia mais de dois anos em execução”. O objetivo de Cristina, segundo o promotor, era “aproximar-se geopoliticamente da República Islâmica do Irã e restabelecer relações comerciais plenas de Estado a Estado para aliviar a grave crise energética argentina, mediante a troca de petróleo por cereais”.

A presidenta tem a prerrogativa de firmar acordos, e o Congresso precisa aprová-los. É um contrassenso o que está acontecendo. Não tem fundamento" Aníbal Fernández, secretário de Presidência

Nisman pede em relatório de 300 páginas que Cristina e os outros acusados sejam submetidos a interrogatório e que haja embargo de seus bens no valor de 200 milhões de pesos (cerca de 66 milhões de reais). O promotor afirma que a “confabulação criminosa” para “eximir os acusados” foi decidida por Cristina e “posta em funcionamento, em especial, por seu ministro das Relações Exteriores, Héctor Marcos Timerman”. A denúncia também atinge o deputado governista Andrés Larroque, bem como os líderes sociais Luis Ángel D’Elía e Fernando Luis Esteche e o ex-promotor federal e ex-juiz Héctor Luis Yrimia, além de Jorge Alejandro “Yussuf” Khalil, líder comuniário iraniano.

O promotor diz: “Enquanto o Poder Executivo falava de justiça e verdade, tinha acertado impunidade. Procurava se aproximar geopoliticamente do Irã, trocar petróleo por cereais e até vender-lhe armas. Para isso, o chanceler Timerman fez acordos secretos com Teerã, logo reconhecidos publicamente pelo ex-chanceler iraniano Salehi, e se comprometeu a fazer cessar o alerta vermelho [ordens de busca e captura da Interpol] contra os terroristas iranianos foragidos, o que não pôde cumprir em razão da firme oposição da Interpol”.

O secretário-geral da Presidência, Aníbal Fernández, tachou de ridícula a petição do promotor. Ele disse que o acordo foi referendado pelo Senado e pela Câmara dos Deputados, onde o Governo fez valer sua maioria. “A presidenta tem a prerrogativa de firmar acordos, e o Congresso precisa aprová-los. É um contrassenso o que está acontecendo. Não tem fundamento. Por que não convocou [o promotor] para depor todos os senadores e deputados que votaram?”

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