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Contra jihadistas, Valls anuncia controles imediatos na Internet

Primeiro-ministro afirma que a França “está em guerra contra o islamismo radical”

Hollande impõe a medalha da Legión de Honor a um dos policiais morridos no ataque contra 'Charlie Hebdo'.Foto: reuters_live | Vídeo: FRANÇOIS MORI (REUTERS) / REUTERS-LIVE|
Carlos Yárnoz

A França abriu nesta terça-feira um profundo debate sobre as medidas extraordinárias contra o terrorismo. O primeiro-ministro Manuel Valls anunciou na Assembleia Nacional um pacote de “medidas excepcionais” para confrontar a onda de ataques jihadistas na França. Ele insistiu na necessidade de elevar o controle sobre a Internet e as redes utilizadas pelos movimentos violentos para fazer propaganda e proselitismo. Prometeu que seu Governo agirá a todo momento com o máximo respeito aos “direitos, aos valores e às liberdades democráticas”, mas defendeu medidas excepcionais para fazer frente a “uma situação excepcional”.

“A França está em guerra contra o jihadismo e o islamismo radical. Mas não contra o islamismo e os muçulmanos”, declarou Valls ao encerrar com um vibrante discurso a emotiva homenagem parlamentar às 17 vítimas dos ataques da última semana em Paris. O ato havia sido aberto pelo presidente da Assembleia, o socialista Claude Bartolone, com a leitura dos 17 nomes. Os deputados ficaram de pé e cantaram A Marselhesa.

“A França está de pé”

"Se temos feridos, nos levantaremos. Se temos mortos, os enterraremos e lutaremos." A citação de André Malraux, político e escritor francês falecido em 1976, foi usada ontem pelo presidente da República, François Hollande, em seu emocionante discurso durante a homenagem aos três policiais assassinados na semana passada em Paris. No pátio do impressionante edifício da Prefeitura, junto à Câmara Municipall, assistiam aos três féretros os familiares de Ahmed Merabet, o policial muçulmano de origem argelina; Franck Brisolado, guarda-costas do diretor doCharlie Hebdo, e Clarissa Jean-Philippe, guarda municipal nascida na Martinica. "Representam a diversidade da França, das forças de segurança da França", disse Hollande antes de lhes oferecer postumamente a medalha da Legião de Honra. "Se a França está de pé, é porque policiais caíram. Morreram para que possamos ser livres. A França não se dobra jamais, não cede jamais, não se submete jamais".

Nesse ambiente, todas as medidas anunciadas por Valls foram recebidas com gestos de assentimento. Ele advertiu que os riscos de novos atentados são “sérios e elevados”, já que os cúmplices dos três jihadistas abatidos na semana passada continuam em liberdade.

Com relação à Internet e às redes, o primeiro-ministro afirmou que são cada vez mais utilizadas para a “doutrinação” e “a captação” de futuros jihadistas, para a difusão de “mensagens de ódio” e para que os terroristas mantenham contato entre si e adquiram “técnicas que depois lhes permitem passar à ação”.

Por tudo isso, anunciou que, no prazo de oito dias, os ministros do Interior e de Justiça apresentarão iniciativas a respeito. Com o mesmo objetivo, “os serviços de informação contarão com mais sistemas para cumprir sua missão”. As unidades antiterroristas serão reforçadas com pelo menos 400 novos membros, sobretudo do setor de informática, analistas, pesquisadores e tradutores, porque neste momento há o risco de serem “esmagados” devido ao aumento de jihadistas franceses. Valls lembrou que pelo menos 1.250 foram à Síria e ao Iraque.

Em breve, anunciou, os serviços policiais e legais contarão com uma lista atualizada dos detidos por atividades islâmicas radicais, que serão obrigados a informar o endereço de suas residências.

A França adotará por sua conta antes de setembro um controle de dados sobre os passageiros em aeroportos. Faz anos que o Parlamento Europeu tem uma medida semelhante bloqueada para o continente –o Passenger Name Record— apesar da pressão de vários países. “Não podemos perder tempo”, alertou Valls.

Como já havia dito no dia anterior, Valls destacou a necessidade de que os presos por delitos jihadistas estejam em celas isoladas. A administração penitenciária terá novas atribuições para controlar a atividade dos presos, já que as prisões se transformaram em um dos principais lugares de doutrinamento e movimentos radicais.

Além disso, o Governo pretende intensificar a vigilância sobre bairros de grandes cidades onde há anos é registrado um intenso tráfico de armas. E pretende envolver todo o sistema educacional para que, a partir da escola, sejam combatidas as ideologias excludentes e se explique o laicismo como valor básico da República. A polícia intensificará os controles sobre imãs radicais. “Que a justiça seja implacável contra os pregadores do ódio”, disse Valls.

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O partido de Nicolas Sarkozy, a União por um Movimento Popular (UMP), mantém um debate interno sobre as medidas de exceção. Alguns de seus dirigentes tendem a uma lei similar ao restritivo Patriot Act aprovado nos EUA depois de 11 de setembro. Ontem, seu líder na Assembleia, Christian Jacob, se mostrou partidário de reduzir as liberdades individuais em circunstâncias tão excepcionais. “Se temos de restringir as liberdades de cada um, façamos isso”, afirmou.

Para encerrar o dia, a Assembleia aprovou por 488 votos a favor, um contra (de Jean-Pierre Gorbes, da UMP) e 13 abstenções a autorização para que as forças francesas mantenham os bombardeios contra o Estado Islâmico no Iraque. Era um passo obrigatório do Governo depois de quatro meses do início desses ataques. A França tem 15 caça-bombardeiros que operam nos Emirados Árabes e Jordânia. O ministro da Defesa, Yves Le-Drian, por sua vez, informou que o porta-aviões Charles De Gaulle partiu hoje para a região.

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