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Cuba admite pela primeira vez um jornal independente em evento oficial

O Governo cubano autorizou a participação do site 14ymedio.com, de Yoani Sánchez, durante o Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano

A incipiente imprensa independente cubana conseguiu esta semana uma modesta vitória em sua dura luta pelo direito de existir na ilha, onde todos os meios de comunicação pertencem ao Estado. A decisão do Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, que começou na quinta-feira em Havana, de autorizar a participação do site 14ymedio.com, fundado e dirigido bela blogueira Yoani Sánchez, abre uma brecha no monopólio da informação. Em declarações telefônicas à mídia do exílio cubano em Miami, Sánchez comemorou o acontecimento. “Não sabemos se é uma abertura ou não”, ponderou a filóloga que virou jornalista. Sánchez se tornou conhecida a partir de 2007, com seu blog Generación Y, anterior ao 14ymedio.

Desde sua criação, em 21 de maio deste ano, a pequena redação do veículo, instalada no 14o andar de um edifício de Havana, funciona ilegalmente e vários de seus colaboradores foram intimidados pela Segurança do Estado. Em sua carta de apresentação, o site se define como um veículo comprometido “com a verdade, a liberdade e a defesa dos direitos humanos, sem amarras ideológicas ou partidárias.”

Além do contexto político, que não permite o exercício independente do jornalismo, o 14ymedio enfrenta o desafio técnico de chegar aos leitores cubanos em um dos países com menor acesso à Internet de todo o planeta. Os servidores cubanos controlados pelo Estado bloqueiam o acesso ao 14ymedio desde o dia de seu lançamento. Apesar disso, o jornal digital chega à ilha por meio do Facebook, que não é censurado, e de uma versão em PDF que pode ser impressa e que circula facilmente pelos dispositivos USB.

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A inusitada decisão do Festival acontece poucos dias depois de uma tentativa frustrada do redator-chefe do 14ymedio, Reinaldo Escobar, de conseguir se cadastrar para cobrir a visita à ilha do ministro de Relações Exteriores espanhol, José Manuel García-Margallo, no final de novembro. A mudança de atitude das autoridades poderia estar relacionada com a urgência do Governo cubano —devido à previsão de redução iminente da ajuda econômica da Venezuela— de chegar a um acordo de cooperação com a União Europeia e conseguir uma flexibilização do embargo comercial dos Estados Unidos.

A presença muito comentada nos últimos dias em Havana de Ernesto Londoño, jornalista colombiano do conselho editorial do The New York Times, que se reuniu com Sánchez e sua equipe, além de visitar as redações da imprensa oficial, também teria contribuído para a abertura repentina, segundo vários analistas.

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