Condenados à morte 188 seguidores da Irmandade Muçulmana no Egito
Simpatizantes do líder islamita Mursi foram condenados pela invasão de uma delegacia
Um tribunal egípcio ditou nesta terça-feira uma nova condenação em massa à pena de morte contra partidários de Mohamed Mursi, o dirigente islamista deposto em um golpe de Estado em julho de 2013. No total, 188 pessoas foram enviadas à forca por sua participação no ataque à delegacia de polícia da localidade de Kerdasa, situada nos arredores do Cairo, e que terminou com a morte de uma dezena de agentes e o incêndio das instalações. Dos acusados, 144 estão detidos e os demais foram julgados à revelia.
Como já acontecera em outras duas condenações à pena capital de centenas de simpatizantes da Irmandade, definidas no primeiro semestre na província sulista de Mina, os fatos ocorreram depois da brutal deposição do acampamento islamista de Rabá al-Audawiya, na qual morreram centenas de pessoas. Durante os dias seguintes àquele funesto 14 de agosto, turbas enfurecidas executaram sua vingança particular nos feudos islamistas, saqueando delegacias e queimando igrejas e propriedades de egípcios cristãos coptas. A minoria cristã se transformou em bode expiatório pelo fato de seu patriarca, Tawadros II, ter apoiado o golpe de Estado.
As condenações à morte em massa em “macrojulgamentos” têm sido alvo de denúncias tanto de entidades egípcias de direitos humanos como das que operam em nível internacional, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch. De concreto, essas organizações têm criticado a falta de garantias processuais para os imputados. Por exemplo, as sentenças dos julgamentos de Mina no primeiro semestre foram ditadas depois de tão somente duas sessões de uns 20 minutos, e sem que muitos dos acusados tenham sido levados à sala do tribunal.
A sentença desta terça-feira voltará a deixar o Judiciário egípcio na berlinda apenas três dias depois da absolvição do ex-ditador Hosni Mubarak, seu último ministro do Interior e altos oficiais policiais de toda a responsabilidade pelo assassinato de mais de 850 manifestantes durante a Revolução de 2011. Mubarak e dois filhos, Alaa e Gamal, também foram exonerados de várias acusações de corrupção e enriquecimento ilícito relacionadas com o acordo de exportação de gás a Israel. Segundo fontes judiciais citadas pelo diário Al Ahram, durante as próximas horas o procurador-geral decidirá se põe em liberdade o veterano general, pois o período em que permaneceu em prisão preventiva se aproxima dos três anos de condenação que lhe foram impostos em maio por um caso de corrupção.
A absolvição de Mubarak no sábado foi acolhida com júbilo por seus seguidores e com dor e frustração pelos parentes das vítimas e os ativistas revolucionários. Esses dois grupos organizaram uma manifestação de repulsa horas depois da sentença judicial, perto da praça Tahrir, a qual foi dissolvida de forma contundente pelas forças de segurança, resultando em dois mortos e dezenas de feridos, de acordo com o Ministério da Saúde.
Durante os últimos dois dias ocorreram novas manifestações em universidades e praças contra a sentença do chamado “julgamento do século”. Os manifestantes consideram que a justiça está altamente politizada. De fato, da mais de meia centena de policiais que se sentaram no banco dos réus pela repressão cometida durante a Revolução, nenhum foi declarado culpado. Para maior indignação dos revolucionários, nas 1.430 páginas do veredicto, o juiz do caso Mubarak atribui a revolta a uma conspiração “estadunidense e sionista”, e argumenta que foi a Irmandade Muçulmana e não a polícia que assassinou os manifestantes em 2011.
Depois do golpe de Estado de 2013, as autoridades perseguiram a entidade islâmica e seus partidários, provocando a morte de mais de 2.500 pessoas. Toda a cúpula da organização se encontra atualmente atrás das grades, e vários de seus dirigentes, incluindo o ex-presidente Mursi, podem pegar duras penas em um amontoado de processos.
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